de
Mário-Henrique Leiria
de
- Não te esqueças de dar as flores à avozinha - disse a mãe do Capuchinho Vermelho.
- Não esqueço, não, mamã - retorquiu a menina, ao sair a porta.
- E tem cuidado com o Lobo Mau que anda sempre rondando por aí, a querer comer toda a gente - insistiu a mãe, carinhosa.
- Ora, mamã! Já li àcerca dele! - e Capuchinho Vermelho, num saltitar alegre, enveredou pelo atalho que atravessava a floresta e ia dar à casa da avó. Com o cestinho de flores no braço.
- Ah, estas crianças! - suspirou a boa mãe, fechando a porta.
O príncipe do absurdo (Homenagem a Mário Henrique Leiria) de Cruzeiro Seixas, anos 70.
Foto encontrada na net.
Capuchinho Vermelho seguiu o seu caminho. Um malmequer aqui, um rebenta-bois ali, um cardo acolá, lá ia aumentando o bonito ramo de flores para a vovó.
Eis senão quando surge o Lobo Mau. Aliás, já era de esperar.
- Onde vais, Capuchinho Vermelho? - perguntou, lambendo o beiço e piscando o olho aos pequeninos leitores.
- Ora - retorquiu Capuchinho Vermelho, encostando-se a uma árvore e acendendo um Gitanes que lhe oferecera o Valdomiro da embaixada - Sabes muito bem onde vou. - Atirou o fósforo à orelha do Lobo mau e continuou: - Levar estas flores à avozinha, que tu queres comer para depois me comeres a mim.
- Eu, comer-te? - o Lobo mau arregalou o olho, num espanto.
- Sim, por que não?
Capuchinho Vermelho meteu os cigarros no bolso do aventalinho bordado, colocou o cestinho de flores no chão e fez umas cócegas no pirilau do Lobo Mau. O Lobo Mau deu três pulos, é óbvio. Capuchinho Vermelho prosseguiu:
- Se bem que a avozinha esteja bastante seca, como sabes, deve no entanto chegar para dois. Vem daí comigo.
O Lobo Mau foi logo, coitado.
À noite, na bonita casinha da avó, no outro lado da floresta, o Lobo mau roía o último fémur e a menina, enquanto punha um pouco mais de banha na frigideira para fritar as iscas, explica ao bicho voraz:
- Quanto a comeres-me, falamos disso mais logo.
E falaram.
Por isso, meus meninos, é que há agora por aí muitos Capuchinhos Vermelhos com um grande rabo, dentes afiados e, ainda por cima, a pedir boleias.
estória de Wilson Gasosa (Mário-henrique Leiria) e ilustração de Carlos Barradas, publicados em "O Coiso", nº 1, 7 de Março de 1975
Encontrado em coiso.net/velhocoiso/coisasdocoiso.
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