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sexta-feira, 29 de março de 2013

Elmyr de Hory - O falsificador gentil


Texto de
Manuel S. Fonseca
16 de Outubro de 2010


Elmyr de Hory. Londres, Inglaterra. 1972. Terence Spencer.

Foi um charlatão que é, como bem sabem, o nome que se dá a certos homens de talento. Elmyr iluminou o século XX, de 1906 a 1976. Para os convenientes efeitos de registo chamemos-lhe Elmyr de Hory. Um volátil De Hory que mudou até à exaustão da capacidade do alfabeto: Bory, Cory, Dory, até Zory, para já não falar de Dory-Boutin, Herzog, Hoffman ou Cassou. You name it! Em português: digam nomes!
Mas estou, já é costume, a contar mal a história até porque é difícil estabelecer-lhe a biografia e a investigação não é o meu forte. Nasceu na Hungria, em família aristocrática – e é mentira. O pai era embaixador austro-húngaro – e é mentira. A mãe descendente de consolidada linhagem de banqueiros – e é mentira. Tudo factos, tudo mentira.
Aos 18 anos estava em Munique a estudar Belas-Artes. Dois anos depois, em 1926, já está em Paris, onde foi aluno, muito bom, de Fernand Léger. Tudo factos, tudo verdades. Em Paris, converteu-se ao prazer da vida, da seda, do champagne, das festas, do grande estilo.
Os anos totalitários que precedem a guerra, apanham-no em Budapeste. Tem uma breve passagem pela prisão, por ligação a um espião britânico. Soltam-no, mas um ano depois os nazis espetam com ele num campo de concentração, acusando-o de judeu e homossexual. Sabe-se que não era judeu e sabe-se que era homossexual convicto e praticante. Foi espancado, mas o seu forte instinto de sobrevivência teve artes de engendrar a fuga de um hospital de Berlim. Desenhou, através do império nazi, uma fina linha de trapaças e subornos que o trouxe de volta a França.

Elmyr de Hory, ao lado de um Matisse forjado por ele.1969. Ibiza, Espanha. Pierre Boulat.

Quando a Guerra acabou, o brilhante Elmyr tentou ganhar a vida com os quadros que pintava. Descobriu que mesmo que não morresse à fome, não vestiria casaca e não entraria no mundo de riqueza, volúpia e celebridade a que aspirava. Já se sabe: com a fome vem sempre uma grande vontade de comer e Elmyr descobriu que desenhava Picassos com uma facilidade cândida, infantil. Como há homens que nascem com uma mulher dentro deles e vice-versa, Elmyr descobriu que o seu corpo abrigava outro Picasso. Pelo menos no circuito que se estabelecia entre as suas mãos, os seus olhos e o seu cérebro.  
O primeiro Picasso vendeu-o a um amigo inglês que o tomou, para silenciosa surpresa de Elmyr, por um original. Há silêncios que desencadeiam vocações. Nesse dia de 1946, Elmyr deixou-se cair nos braços da fraude e da falsificação, num certo sentido, num mundo mágico de trickery e make-believe. Paris voltava a ter o seu Houdini. Primeiro os desenhos de Picasso, a que prontamente Elmyr acrescentou desenhos de Matisse, Modiglinani e Renoir.

Clifford Irving, sua mulher Edith, Elmyr de Hory, Gerry 
Albertini e Bob Kirsh. 1972. Ibiza, Espanha. Pierre Boulat.

Vendia-os porta a porta, galeria a galeria. Essa era a parte mais difícil. Elmyr tinha o seu orgulho e o acto de venda, a persuasão do seu interlocutor, era-lhe estranha. Muito mais tarde, já nos anos 50, entrou numa galeria de Los Angeles, abriu o portfolio e Frank Perls, o galerista, ficou abismado com os Picassos e Modiglianis. Tão abismado que desconfiou. Fechou a pasta atirou com ela a Elmyr, gritando-lhe que a porta da rua era a serventia da casa. Elmyr saiu engolindo a humilhação, mas já na rua voltou-se para Perls e perguntou-lhe: “Mas acha que os desenhos estão bem feitos?” E Perls sabia, soube logo, que aqueles desenhos eram obras-primas de falsificação.
Era um falsificador gentil. Não estava ali para enganar ninguém: queria que os seus Picassos e os seus Renoirs fossem amados. Esse amor era a primeira e mais importante remuneração. Acabou por organizar-se para potenciar o melhor de si. Entregou a terceiros a venda. Foi obviamente vítima de fraude. Todos os parceiros com que trabalhou – arduamente, entenda-se – o enganaram miseravelmente nas contas.

 Pinturas falsas de Matisse e Modigliani, pintadas por Elmyr de Hory.

Elmyr teve a sua maior glória na década de 50. Viajou até aos Estados Unidos e era como se tivesse chegado ao paraíso. Tinha visto de 3 meses, ficou uma década. Dos desenhos passou aos óleos. Comprou livros (só queria um décimo da biblioteca de arte dele) e estudou estilos. A pouco e pouco alargou o seu portfolio: Vlaminck, Chagall, Toulouse-Lautrec, Dufy, Derain, Degas, Bonnard vieram juntar-se aos primeiros mestres. Não tenho a certeza, mas rezo para que nunca tenha falsificado um Léger. (Hei-de ser sempre um sentimental e tenho a certeza de que Elmyr também o era).
Vai sem dizer que Elmyr não era um copista. O que ele desenhava, o que pintava, eram novas obras desses mestres. Genuínas, inéditas. Geniais, como genial era o Matisse que vendeu ao Fogg Art Museum, na Universidade de Harvard. Os peritos viram e os peritos reconheceram-lhe a autenticidade. Compraram-no e, digo eu para envernizar mais esta história, expuseram-no.
E foi aqui que se torceu da que sabem o belo rabo. Mais tarde, novas peritagens descobriram a fraude. E outros coleccionadores – ó os texanos!!! * – descobriram que tinham sido tão suavemente comidos.

 Elmyr de Hory e David Walsh. 1969. Ibiza, Espanha. Pierre Boulat.

Os anos que se seguiram foram anos de fuga e clandestinidade. De luxo ainda, em Ibiza. Os anos em que, com alguma bondade, Elmyr, o charlatão tímido, permitiu, condescendente, que outro charlatão, Clifford Irving ( o escritor que tinha forjado uma biografia de Howard Hughes e por isso tinha sido preso) escrevesse a sua história. E que esse mago da manipulação chamado Orson Welles o fixassse para a eternidade, no filme F for Fake.
Informado de que o governo espanhol cedera ao pedido de extradição da França, o que o significaria acabar os seus anos na cadeia, a 1 de Dezembro de 1976, Elmyr tomou uma overdose de comprimidos e morreu nos braços de Mark Forgy, seu companheiro.

 *Algur H. Meadows, magnata texano do petróleo, descobriu que tinha a mais ampla, mas também a melhor colecção do mundo do falsificações de Degas, Bonnard, Matisses, Picassos e outros pintores menores. Com um sentido de humor mais negro do que o ouro que os tinha pago, Algur espumou de raiva e lançou todos os seus cães, do FBI à Interpol, em busca dos mágicos falsificadores.

Texto de
Manuel S. Fonseca
encontrado em www.etudogentemorta.com
16-10-2010

Um falso Van Dogen pintado por Elmyr de Hory.


(Fotos LIFE Archive)
Pinturas falsas de Elmyr de Hory encontradas na net




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Gjon Mili - Fotógrafo da LIFE


Woman's eye.  NY. 1945.


Gjon Mili, nascido em 1904 na Albânia, chegou aos Estados Unidos em 1923 e, sete anos mais tarde, através do seu trabalho com Harold Eugene Edgerton do MIT, fazia já várias experiências fotográficas na captura de sequências de acções através da utilização de um flash para imobilizar a cena. Foi dos primeiros a utilizar um flash electrónico e luz estroboscópica na criação de imagens que iam para além da mera utilidade científica. Até à sua morte, em 1984, foi fotógrafo da revista LIFE, onde as diversas reportagens o levaram a fotografar inúmeras personalidades. Em 45 anos de profissão, viajou por lugares do mundo inteiro retratando celebridades, artistas, desportos, shows, arte e arquitetura. 
(In, obviousmag.org e foto.espm.br)


Gjon Mili no seu estúdio em Nova York. 1983. 

 Salvador Dali e Gjon Mili no estúdio deste. 1952.

O pintor Raoul Dufy, em cadeira de rodas, olhando os cenários 
desenhados por ele para a produção da Broadway, "Cherie". NY. 1951.

Peter Lorre. 1944 e Ionesco. 1971.

Martha Graham. 1941?

Exposição múltipla de Alfred Hitchcock, durante as filmagens de "Shadow of a Doubt". 1942.

Henri Matisse pintando em sua casa em Nice. 1949

Edith Piaf. Paris, França. 1946

Vladimir Horowitz ao piano no seu apartamento em Nova York. NY. 1965.

Pablo Casals. França. 1966. 

Pablo Picasso. França. 1949.

 Igor Stravinsky. UK. 1957.

William Holden, na Dinamarca, durante as filmagens de O Falso Traidor 
(The Counterfeit Traitor, 1962) de George Seaton. Copenhaga. 1962.



Fotos da LIFE. Musica de Philip Glass - Methamorphosis pt. 2.
Carregado em 29/03/2010 por snakeBISHOP.




(Todas as fotos são de Gjon Mili e LIFE Archive)


terça-feira, 20 de março de 2012

Grandes Artistas por Gjon Mili


Gjon Mili (1904-1984), nascido na Albânia, chegou aos Estados Unidos em 1923 e, sete anos mais tarde, através do seu trabalho com Harold Eugene Edgerton do MIT, fazia já várias experiências fotográficas na captura de sequências de acções através da utilização de um flash para imobilizar a cena. Foi dos primeiros a utilizar um flash electrónico e luz estroboscópica na criação de imagens que iam para além da mera utilidade científica. Até à sua morte, em 1984, foi fotógrafo da revista LIFE, onde as diversas reportagens o levaram a fotografar inúmeras personalidades, entre elas Pablo Picasso.  Em 45 anos de profissão, viajou por lugares do mundo inteiro retratando celebridades, artistas, desportos, shows, arte e arquitetura.
(In, obviousmag.org e foto.espm.br)


Pablo Picasso, em sala escura, criando desenho de luz, Vallauris, França, 1949. / Raoul Dufy, pintando num terraço em Caldas de Montbuy, Espanha, onde ele estava a tratar uma artrite incapacitante, 1949.


Henri Matisse, em sua casa em Nice, 1949. / Marc Chagall pintando no seu estúdio, França, 1949.


Maurice Utrillo pintando em seu estúdio, Le Vesinet, França 1949 / Maurice Vlaminck em seu estúdio cercado por algumas de suas pinturas. Normandia, França, 1949.


Georges Braque, rodeado por alguns de seus trabalhos, em seu estudio em Paris. França, 1949. / Giorgio de Chirico em seu estúdio com muitas peças de seu trabalho. Itália, 1949.


Henry Moore, entre algumas de esculturas em seu estúdio em Much Hadham, Inglaterra, 1949. / Fernand Leger espiando por cima de algumas de suas pinturas em seu estudio em Paris, 1949.



(Fotos Gjon Mili e LIFE Archive)