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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Alfred Eisenstaedt Again


Alfred Eisenstaedt beijando uma mulher não identificada em Times Square,
imitando a sua famosa foto de um marinheiro beijando uma enfermeira. NY. 1945.

 Albert Einstein no Instituto em Princeton, NJ, USA. 1947.
Imigrantes italianos em Ellis Island.NY, USA. 1947.

Alec Guiness em Londres. UK. 1951.
Frank Lloyd Wright em Taliesin, WI. 1956.

 Alice Neel. Pintora. 1979.

Uma mulher Afro-Americana fumando um cachimbo. USA. 1938.
Bailarinas da Paris Opera Ballet School. França. 1963.

 Basil Rathbone e Angela Lansbury, na Paramount, durante as filmagens de O Bobo da 
Corte (The Court Jester, 1955) de Melvin Frank e Norman Panama. Hollywood. 1954.

Clark Gable, 1936 e Carole Lombard, 1938.

 Homem numa rua perto do mercado Les Halles, segurando uma boneca debaixo do braço. 1928. Paris.
Casal relaxando na margem do rio Sena, perto de Notre Dame em Paris, durante a hora do almoço. 1963.

Margaret Bourke-White. 1959 e Ernest Hemingway. 1952. Cuba.

Ethiopia Essay. 1955.

 Maiorca. Espanha. 1962. 

 Richard Avedon, fotógrafo. NY, USA. 1963 e a Poetisa Edna St. Vincent Millay. NY, USA. 1941.

Monges caminhando nas margens do rio Arno. Florença. 1934.

Policia em moto, conversa com crianças ou ameaça? Garden City, NY, USA. 1942.
Construção da secção George Washington no Monte Rushmore. Dakota do Sul. 1940.

 Josef von Sternberg e Marlene Dietrich. Berlim, Alemanha. 1928.

 Günter Grass. Anos 70. RFA.

Domingo de manhã ao longo do rio Arno. Florença. 1935.
Some No Captions - Some Portraits. 1970'S. RFA?

Yousuf Karsh. Ottawa, Canada. 1981.

Bailarinas de pé no peitoril da janela da sala de ensaios da
Escola George Balanchine American Ballet. NY, EUA. 1936.


(tTodas as fotos são de Alfred Eisenstaedt e LIFE Archive)




segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Ernest Hemingway e George Steiner




Ernest Hemingway em Cuba, à conversa com pescadores e marinheiros.1952. Alfred Eisenstaedt.
Foto LIFE Archive.


Ernest Hemingway e a modelo Jean Patchett por Clifford Coffin para a revista Vogue. 1950.
Foto encontrada em trovegeneral.com


Mesmo grande escritores não conseguem alterar a força de palavras simples. O nosso grande exemplo é Ernest Hemingway. Nunca mais ninguém utilizou da mesma forma a palavra "e", como Hemingway o fez. Uma das suas passagens ilustra bem as minhas preocupações. As pessoas não ligam à literatura mais impressionante. Estou a pensar num trecho do romance "The Sun Also Rises". Este título vem, obviamente do Livro de Eclesiastes. na Bíblia. Chamava-se "Fiesta" na edição inglesa. Dois amigos estão sentados no autocarro e julgam amar-se. Julgam ser inteiramente honestos um com o outro. «Atravessámos a floresta para depois subir a encosta, um prado verde e ondulado à nossa frente e montanhas escuras por trás, muito diferentes das montanhas queimadas donde viemos. Eram montanhas arborizadas das quais as nuvens escorregavam. O prado verde estendia-se, separado por vedações, com o branco da estrada a brilhar por entre as árvores, cruzando o prado para Norte. No cimo da encosta vimos os telhados vermelhos e as casas brancas de Burguete dispersas pelo prado. Ao longe, no espinhaço da primeira montanha escura, encontrava-se o telhado cinzento do mosteiro de Roncesvalles. Ali é Roncevaux, disse eu. Onde? Lá ao longe. Onde começam as montanhas. Está frio aqui, disse Bill. Estamos muito alto, disse eu. Pelo menos a 1200 metros. Está um frio horrível, disse Bill.»
Roncevaux é um lugar onde, na canção medieval de Rolando,  Rolando e os seus amigos traídos por um deles, são mortos na emboscada dos Sarracenos. A genialidade de Hemingway está no facto de não chegar a dizer isso. Só a palavra "Roncevaux" nos diz que os dois amigos se trairão. A amizade está a chegar ao fim. Depois a repetição. «Está frio, disse o Bill. Está um frio horrível.» Naturalmente, está a falar-se do frio no coração deles. Só um grande artista é capaz de dizer tudo sem dizer nada. A questão é que os meus alunos de Oxford, de Cambridge, os de Genebra e os de Harvard, já não sabem o que significa "Roncevaux". A próxima edição terá de trazer uma nota de rodapé, que liquida tudo. Enquanto no tempo de Hemingway, com o seu vasto público, era um romance muito popular e partiam do princípio que o nome "Roncevaux"... não era preciso explicar. Dentro de pouco tempo o nome "Elsinore" precisará de uma nota de rodapé. Não saberão nada, nem o que é "La Mancha". Isto é assustador.
George Steiner
In, «Of Beauty and Consolation». 2000


Ernest Hemingway e Yousuf Karsh em Cuba e Hemingway por Yousuf Karsh. 1957.
Foto de www.collectionscanada.gc.ca



Ernest Hemingway em Cuba.1952 e 1953. Alfred Eisenstaedt.
Fotos LIFE Archive.


Ernest Hemingway lendo um manuscrito. Sun Valley, Idaho, 1940. Robert Capa.
Foto encontrada em www.tomorrowstarted


Ernest Hemingway com Antonio Ordonez em Malaga, Espanha. 1960. Loomis Dean.
Fotos LIFE Archive.


Ernest Hemingway e Fidel Castro. 1960. Osvaldo Salas.
Foto encontrada em trovegeneral.com



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O fantasma do vagabundo


Testemunhos sobre Charlie Chaplin
por
José Mendes

Publicado no Expresso de 15 Abril 1989


Coisa boas em jornais

O que se aprendeu com Chaplin? Artur Semedo, Raul Solnado, Luis Miguel Cintra, Herman José e Mário Viegas recordam os tempos de criança onde imperava a figura de Charlot e tentam desvendar o mistério do seu legado.


Charlie Chaplin, erguido por Douglas Fairbanks e fazendo o truque do chapéu de Charlot, na frente da multidão na baixa de Manhattan, para promover as Liberty Bond (titulos de apoio à causa dos aliados durante a 1ª Guerra Mundial). 1918, Nova York, EUA. Foto LIFE Archive.

Para o realizador de O Barão de Altamira e O Querido Lilás, Artur Semedo, Charles Chaplin foi um extra-terrestre e uma figura predominante na sua carreira: «ele esteve sempre ligado a toda a minha vida de cinema, teatro e televisão. Foi, é e será sempre a contribuição mais decisiva para esta espécie de cinema de feira que penso, logo faço». Reconhecendo em Chaplin uma genialidade paradoxal, espartilhada entre a realidade e a ilusão e continuamente assente em lutas desequilibradas, o criador de Charlot marcou profundamente a sua vida artística. «Chaplin evangelizou-me com as suas inquietações perante o mundo, moldou-me desde menino, nesses tempos áureos e fúnebres em que a tosse convulsa nos levava desta para pior. Não tossi, cresci, passei a barreira do serviço militar e Chaplin continuou a ser o prolongamento do meu desajustado cérebro de artista - bom ou mau, não interessa, não sou eu que estou em causa, é a dívida que tenho para com ele».
Semedo confessa ser herdeiro de muito poucas coisas e, se não confirma se gosta de profetizar, não parece ter dúvidas em relação a Chaplin: «ele é imortal, vive em todos nós. A herança-Chaplin, posso dizê-lo, foi das poucas que tive. Ele é uma componente decisiva de toda a minha existência de solavancos tragicómicos. Só a ele peço perdão pela insuficiência do que por cá vou fazendo».


Charlie Chaplin com a roupa e a caracterização da sua personagem Calvero, no filme Luzes da Ribalta (Limelight, 1952), dirige os músicos e os bailarinos, rodeado da equipa técnica. Por trás de Chaplin está o assistente de realização Robert Aldrich, ao lado de camisa branca Buster Keaton e ao lado deste o director de fotografia Karl Stuss.  Foto W. Eugene Smith e  LIFE Archive.


Um legado universal

Raul Solnado pode ser considerado outro dos seus herdeiros. Basta para isso voltar a ver Dom Roberto (1962), de Ernesto de Sousa, onde o cómico português vive na pele de João Barbelas, um vagabundo sonhador que se apaixona por Maria (Glicínia Quartin), uma rapariga com um passado infeliz. No final tudo acaba o melhor possível e vão estrada fora cheios de ternura, esperança... e muita fome. Diz Solnado: «No dia em que Chaplin inventou Charlot, o vagabundo sonhador, romântico, carregado de generosidade, humanismo, nessa data, Chaplin não só ganhou o dia como ganhou a eternidade. Vagabundos existem muitos, Charlot só existe aquele. Ele provocava o riso por vários ângulos; porque é desajeitado, porque é megalómano, e porque quando parte para uma conquista já vai totalmente apaixonado».
Incluindo-se no número de actores cómicos que devem muito a Chaplin, Solnado não deixa de se surpreender por uma característica que, do seu ponto de vista, é admirável no realizador de Luzes da Ribalta: a capacidade de provocar o riso através da comoção e da revolta «que é, quanto a mim, a mais bela forma do riso. Charlie Chaplin é o génio que nos legou este património universal e hoje todos os cómicos do mundo são melhores por tudo o que quiseram aprender com ele».


Raul Solnado falando de Chaplin 27 anos depois: «Sou melhor actor por causa dele» e Raul Solnado e Glicínia Quartin em Dom Roberto (1962) de Ernesto de Sousa. Fotos copiadas do jornal Expresso.

Quanto a Luis Miguel Cintra, a figura de Charlot e a própria personalidade de Charles Chaplin estiveram longe de o influenciar. Mesmo assim, não deixa de constituir uma grata recordação de infância que o leva hoje a dizer que, por um princípio rígido de não seguir os gostos das maiorias, talvez tenha injustiçado o génio do actor britânico: «Eu vi muito mal os filmes do Chaplin. Quando os vi era muito novo e não os voltei a ver. Ao contrário do que seria de esperar e é espantoso, mesmo para mim, não se tratou de uma personalidade artística que me tivesse marcado. De maneira nenhuma! Lembro-me, em miúdo, em casa da minha bisavó, de nos fecharem a todos numa sala, a mim e aos meus primos, para ver, através de um projector que havia em casa dela, os filmes curtos do Charlot, como o Charlot na Patinagem e coisas assim».
A memória do fim da adolescência, apesar de marcada pelos filmes de Chaplin, fazem aparecer na sua vida outro actor a quem acabará por dar a preferência: Buster Keaton. «Era um tempo em que eu achava que gostava mais do Keaton do que do Chaplin e havia uma espécie de concurso entre os meus colegas para saber quem gostava mais de quem. Eu gostava do Keaton mas levei algum tempo a perceber porquê. Suponho que tem a ver com o facto de eu não gostar daquilo que a maior parte das pessoas gostam. Apercebi-me disso muito tarde e enervava-me toda a gente poder gostar do Chaplin».


Charlie Chaplin dirigindo Sophia Loren em uma cena do seu último filme A Condessa de Hong Kong (A Countess from Hong Kong, 1967). Londres, Reino Unido, 1966. Foto de Alfred Eisenstaedt e  LIFE Archive.

«Buster Keaton era o tal»

A relação com os filmes sonoros de Chaplin, particularmente em títulos como A Condessa de Hong Kong ou Um Rei em Nova Iorque, causaram-lhe impressão diferente. Adorou-os, evidentemente, «mas sempre com essa ideia já feita de que o Buster Keaton é que era o tal. Quando vi A Condessa já era mais velho e o que acabou por ser aborrecido foi que filmes como esse não os voltei a ver. Lembro-me de ter visto A Condessa de Hong Kong e de o ter achado deslumbrante, fabuloso e com uma espécie de sabedoria da vida que faz com que se possa tratar e falar das coisas mais simples e aparentemente mais banais e também isso só muito mais tarde vim a perceber o que significava.»
Para quem tem acompanhado, mesmo que de uma forma fugaz, a carreira de Luis Miguel Cintra, quer no teatro quer no cinema, seria surpreendente chegar à conclusão que também nele a herança de Chaplin passava por referente obrigatório. O actor é o primeiro a admiti-lo: «para a minha carreira Chaplin não foi um referente. De facto, não o foi, mas acho que tem muito a ver com a idade com que vi os filmes. Lembro-me de ter ido ver Um Rei em Nova Iorque muito miúdo - nem sei se aquilo era para maiores de 18 anos - mas sei que fui ver noite e lembro-me que isso à era uma coisa muito extraordinária. Com As Luzes da Ribalta já foi diferente. Vi-o outras vezes e chorava do princípio até ao fim.»
Uma das razões que terão levado Luis Miguel Cintra a não incluir o nome de Charles Chaplin entre as suas referências obrigatórias deveu-se igualmente ao tipo de mensagem veiculada pelas películas do criador de Charlot. Enquanto pensava seriamente sobre que carreira deveria abraçar, o encenador do Teatro da Cornucópia estava decidido, em qualquer dos casos, a não suportar melodramas piegas: «ninguém me pode obrigar a dizer que o Chaplin foi muito importante para a minha formação artística. Isso, de facto, não sou capaz de dizer. Havia essa questão de se tratar de filmes muito comoventes e muito sentimentais e eu vi-os naquela fase em que todos os adolescentes combatem isso. Quer dizer, não podem ser sentimentais, têm de ser racionais, precisam de saber porque razão um personagem pensa isto ou aquilo e não se deixar embalar pela comoção. Foi o que me aconteceu em relação ao Chaplin, como se dissesse ‘não pode ser, isto é muito piegas!’»



Charlie Chaplin como soldado em Charlot nas Trincheiras (Shoulder Arms, 1918), foto LIFE Archive e como mordomo em A Condessa de Hong Kong (A Countess from Hong Kong, 1967). Londres, Reino Unido, 1966. Foto de Alfred Eisenstaedt e  LIFE Archive.


Humores de palhaço

Precisamente para contrapor o que lhe parecia a pieguice «insustentável» dos filmes de Chaplin, Luis Miguel Cintra encontrou em Buster Keaton a alternativa ideal já que o actor americano cultivava um «lado extremamente austero e misterioso» que lhe era muito mais agradável e que, ao mesmo tempo, fazia todo o sentido: «falar dos dois era quase como pensar na diferença entre o palhaço rico e o palhaço pobre. Para mim, o tipo de humor do Chaplin estava mais próximo do palhaço pobre e o de Keaton do palhaço rico, apesar da figura do Pamplinas não ter nada a ver com o palhaço rico. Naquele tempo, o lado melodramático do Chaplin era-me quase insustentável mas hoje acho isso uma estupidez total, adoro os melodramas, quanto mais piegas melhor!»
Chaplin, no entanto, possuía uma característica que, à partida, poderia encontrar em Luis Miguel Cintra uma resposta favorável a polivalência de actividades, a noção de espectáculo global e a forma corno, tomando um assunto específico, ele parecia estar sempre a falar da vida inteira ao mesmo tempo: «Acho que as grandes pessoas do espectáculo têm de ser assim, pessoas que não são capazes de distinguir o que é representar, o que é dirigir ou o que é iluminar. Para mim ele tinha a sabedoria típica das pessoas que, ao abordar um único assunto é como se falassem da vida inteira ao mesmo tempo. Isso é muito bonito e sente-se que quando está a fazer arte está a viver, quando está a fazer cinema está a falar da vida que é aquilo que toda a gente com certeza gostaria de ser capaz de fazer. Eu também gostava».


Charlie Chaplin vestido de Calvero descansando durante as filmagens de Luzes da Ribalta (Limelight, 1952). Foto W. Eugene Smith e LIFE Archive.

«Eu nunca morri de amores pelo Chaplin». Herman José abre assim o jogo que, não sendo desencantado, também não se compadece com o mito: «a única qualidade que a morte possui na classe artística é a de envolver de repente as pessoas numa bruma de misticismo onde tudo é desculpado e onde tudo é genial. As imagens do Chaplin têm, para mim, a mesma importância das do Bugs Bunny».
Acreditando piamente que o humor e a tendência para o disparate são coisas genéticas e que não se aprendem, Herman José viu os seus primeiros «chaplins» em casa dos pais, nos tempos de criança, e só quando fazia anos: «na altura havia os filmes de Super 8, os meus pais tinham um projector e traziam para casa, de vez em quando, uns Bugs Bunnies e se calhar uns Mickeys e uns Chaplins lá pelo meio porque encantavam as crianças. Quanto ao Chaplin, parece-me que ele soube pegar numa qualidade genética, aquela tendência para o disparate que é genética e não se aprende. Se me é permitido falar em nome de todos os humoristas de algum êxito, no fundo o que fazemos não é mais do que profissionalizarmos características que já tínhamos na primeira e na segunda infância e depois, segundo a nossa esperteza, podemos comercializá-las bem ou mal».
Sobre a personalidade de Charles Chaplin, da sua forma de trabalhar e das suas relações com as pessoas, Herman não tem dúvidas: ele estava longe de ser um anjo. «Chaplin era esperto. Era um comerciante, uma pessoa muito dura a dirigir, era violento nas suas relações e nas suas decisões e soube administrar maravilhosamente aquela qualidade de satisfazer a necessidade que o povo americano tem de ver pieguice (que o americano é muito criança enquanto público, precisa da lágrima ao canto do olho)».


«O meu Chaplin é o Benny Hill»

Para Herman José, a fase sonora da obra cinematográfica de Charles Chaplin é a mais deficiente porque já não consegue suster a importância que o realizador tinha alcançado no tempo do mudo: «quando eu comecei a amadurecer, olhava para o Chaplin sem uma grande paixão e essa paixão diminuiu quando comecei a ver os seus filmes sonoros onde já não consegue estar à altura da importância que tinha no mudo. Ele consegue disfarçar essa incapacidade porque era um homem cultíssimo, inteligente e que se sabia rodear muito bem mas, salvo raríssimas excepções, eu não considero os seus últimos filmes obras-primas».
Entre os personagens criados por Herman José, uma galeria notável e cada vez mais vasta, a figura do Sr. Feliz (na dupla «Feliz e Contente», ao lado de Nicolau Breyner) foi, por diversas vezes, ligada a Charlot. O fato negro, o chapéu de coco e a bengala indiciavam-no quase sem equívocos. Mas, segundo o autor de Hermanias, não era no «boneco» que a relação resultava: «o 'Feliz e Contente' foi inspirado no Dupont e Dupond, do Hergé mas, como aconteceu com o Chaplin, o que eu fazia era disfarçar a minha incapacidade para fazer outras coisas que não sabia fazer (estava no teatro há um ano) e os meus tiques pessoais, em certas coisas, poderiam ter alguma coisa a ver com o Chaplin mas só por coincidência e não por influência».
Um herói, para ele, se o tem de haver, é Benny Hill: «ele é muito discutido e contestado em certos círculos mas, quanto a mim, é genial. O Benny Hill é o meu Chaplin ». Assim, a grande lição do autor de Tempos Modernos, o seu maior ensinamento para aquilo em que Herman se veio a tornar resume-se à questão do trabalho. Também para Herman José tudo tem de ser feito com extremo rigor: «é certo que ele me deixou isso, mas o rigor é o que nós temos de aprender à nossa custa. Não há génios espontâneos em nenhuma profissão»

Quanto à personalidade de Charles Chaplin, Herman não partilha a opinião de Artur Semedo. O criador de Serafim Saudade tem de Chaplin a ideia de um homem sorumbático, mas reconhece que a partir dos quarenta anos todos os comediantes têm a tendência para compensar na vida privada a alucinação da vida profissional, «e olhe que eu conseguia suportar a pieguice dos filmes dele, talvez porque ela era tão bem produzida e em doses tão certas que não chegava nunca para chatear. Fazer melodrama sem ficar ridículo é uma arte dificílima que ele dominou, admiravelmente desde o princípio. Mas para mim não era um extra-terrestre, antes pelo contrário, ele não podia ter sido mais gestor, mais 'yuppie' e mais terrestre do que foi. Isso é que lhe deu o êxito»


Artur Semedo, com Zita Duarte, em «O Barão de Altamira»; Luis Miguel Cintra em «Os Canibais»; Mário Viegas em «A Mulher do Próximo»; e Herman José em «O Querido Lilás»: Influências e indiferenças face a Charlot. Copiado do Expresso.

O enorme peso do fantasma

«Ele é o maior actor do século XX». Quem o afirma, sem o mínimo sinal de relutância, é Mário Viegas que, apesar de não se lembrar de quando começou a ver os filmes de Charlot, recorda - também ele - as sessões em casa dos pais «com aqueles filmes todos cortados, que havia por aí, do Chaplin e do Bucha e do Estica» e do tempo em que assistia a catorze sessões seguidas de Os Tempos Modernos na sala do malogrado Teatro Monumental. «Foi sempre a pessoa que mais me comoveu ver a representar. Era uma máquina de fazer rir e de comover as pessoas, porque fazer rir é comover, as pessoas riem por emoção».
Mário Viegas sempre se perguntou se Charlot era um burguês decadente ou um proletário em ascensão. Muito poucos o terão provavelmente visto assim, mas para o actor e recitador, sempre concentrado no personagem Charlot, o «fantasma» de Chaplin pesa, enorme, sobre qualquer actor: «ele quebrou, através da figura do Charlot, a fronteira entre o riso e o choro e não há nada mais dramático, às vezes, do que fazer rir. Depois dele pouco mais apareceu. O Charlot não envelheceu com o actor Charlie Chaplin ao contrário de Buster Keaton, que era autodestrutivo e autêntico como no filme Film em que ele tem a coragem de nos dar a figura de um Pamplinas velho. Ele é o grande actor cómico dos pobres e é um grande bloqueio - senti muito isso quando estava a fazer o filmezinho com o Sam - compreender que o Chaplin esgotou quase todas as formas. Ele é o complexo de inferioridade de qualquer actor».

Texto, titulo e legendas das fotos copiadas: José Mendes
Publicado no Expresso de 15 Abril 1989


Charles Chaplin rindo perdidamente durante as filmagens de Luzes da Ribalta. Chaplin estava a mostrar aos figurantes, como se devem comportar ao assistir a um espectáculo popular de Music Hall. 1952. Foto W. Eugene Smith e  LIFE Archive.




(Fotos LIFE Archive)




domingo, 15 de julho de 2012

Alfred Eisenstaedt


"O mais importante não é a câmara, mas sim o olhar."
Alfred Eisenstaedt



Dono de algumas das fotografias mais importantes da história, Alfred Eisenstaedt construiu uma carreira brilhante, que durou mais de 50 anos. Nascido em 6 de Dezembro de 1898 na antiga Prússia (actual Polónia), mudou-se para Berlim com apenas 8 anos, deixando a cidade somente após Hitler tomar o poder.

O olho de Alfred Eisenstaedt, pelo próprio. 1954.

Sua história com a fotografia começou aos 14 anos, quando ganhou, de seu tio, uma Eastman Kodak nº 3 de fole. Aos 18, foi para o exército alemão, combatendo na Primeira Grande Guerra (1918). Com sorte, foi o único sobrevivente de uma explosão de granada, que afectou suas pernas. Assim que se recuperou, voltou a fotografar. 
Por conta da ascensão do Nazismo na Alemanha, mudou-se para Nova Iorque, onde passou o resto de sua vida. Por um tempo, trabalhou como vendedor de cintos e botões. Com o dinheiro que economizava das vendas, investia em equipamentos. Alfred começou simples: o banheiro da sua casa se transformou num laboratório de revelação; vendeu sua primeira fotografia para o jornal local por 12 dólares. No auge dos seus 31 anos, conseguiu um emprego na Pacific and Atlantic Photos, que, mais tarde, seria a famosa agência Associated Press. 

Um marinheiro beija apaixonadamente uma enfermeira de uniforme, durante as comemorações do fim da guerra nas ruas de Nova York, em Times Square. 14 Agosto, 1945. Na segunda foto é o próprio Alfred Eisenstaedt, que beija uma mulher. São duas fotos de uma série tiradas no mesmo dia por Alfred Eisenstaedt. 


Com um estilo forte de fotografar, Alfred foi procurado por vários fotógrafos, entre eles Margaret Bourke-White e Henry Luce. Os dois convidaram Alfred para participar de um projecto anónimo. Seis meses depois, este projecto se tornou a grande revista LIFE, dentro da qual Alfred publicou mais de 2500 imagens e foi capa de 90 edições.
Alfred fotografou os estragos da Segunda Guerra no Japão, a pobreza na Itália e registou os mais importantes eventos políticos de sua época. Durante sua carreira, também fotografou muitas personalidades. Como qualquer fotógrafo, tinha sua modelo predilecta: Sofia Loren era a sua queridinha.

Sophia Loren, Marcello Mastroianni durante as filmagens de Matrimonio 
all'italiana (Matrimónio à Italiana, 1964) de Vittorio De Sica. Napoles, 1963.

Sophia Loren, Marcello Mastroianni e Vittorio De Sica, durante as filmagens de 
Matrimonio all'italiana (Matrimónio à Italiana, 1964) de Vittorio De Sica. Napoles, 1963.

Sophia Loren, Marcello Mastroianni e Vittorio De Sica, durante as filmagens de 
Matrimonio all'italiana (Matrimónio à Italiana, 1964) de Vittorio De Sica. Napoles, 1963.

Tudo que fotografava se tornava bem mais do que uma fotografia. Uma das suas maiores qualidades era justamente se tornar íntimo do assunto fotografado, conseguindo captar a essência de cada cena, tornando-a poderosa o bastante para jamais ser esquecida. Entre suas imagens mais famosas está o beijo na Times Square entre um marinheiro e uma enfermeira que comemoravam o fim da Segunda Guerra Mundial. Apesar do mito de o retrato não ser espontâneo, a imagem se tornou símbolo de paz mundial e um ícone da fotografia.

Atmosfera de Paris, prostituta trabalhando na rua. Paris, 1931. 
Mulher debaixo de candeeiro em Montmartre. Paris, 1963.


Com a vida feita em Nova Iorque, Alfred só regressou à Alemanha aos 81 anos, para participar de uma exposição em sua homenagem, que exibia registos do país nos anos 30. A fotografia foi sua companheira até os últimos dias de vida. Alfred morreu em 24 de Agosto de 1995, aos 95 anos. O legado deixado por esse grande artista da fotografia lhe faz eterno, um grande mestre. 

(Texto de Francine de Mattos em fotografeumaideia.com.br)


John Wayne e Robert Evans (produtor e responsável da Paramount), durante as 
filmagens de True Grit (A Velha Raposa, 1969) de Henry Hathaway. Hollywood, 1968.


 Homem de pé no meio da serração da Seattle Cedar Lumber Manufacturing. Seattle, 1939.
Idosa caminhando com dificuldade ao longo da rua, com casal de noivos ao fundo. Paris, 1963.


Padres franciscanos caminhando na Via Porta Perlicinin. Assisi, Italia, 1947. 
Padre faz esboços das estátuas danificadas da Abadia de Monte Cassino. Itália, 1947.


Pessoas andando através de um tunel. Zagreb, Croácia (na altura parte da Jugoslávia), 1948.
Alfred Eisenstaedt - Some No Captions- Some Portraits 1970'S.


Alfred Eisenstaedt sentado no colo de Tomojiro Sakata, um campeão 
ex-lutador de sumô e candidato do Partido Trabalhista do Japão, Tóquio, 1946.



(Fotos Alfred Eisenstaedt e LIFE Archive)