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sexta-feira, 8 de março de 2013

Cinemas onde vi Filmes: Estúdio 444


 Cinema Estúdio 444. 1977. Vasques.

O Estúdio 444 foi inaugurado em 27-04-1966, com o documentário italiano "As Escravas Ainda Existem", Le schiave esistono ancora (1964) de Maleno Malenotti e Roberto Malenotti. Era um documentário para adultos que mostrava o comércio escravo moderno através de filmagens em alguns países árabes e africanos, sob o domínio muçulmano. Algumas das cenas foram feitas com câmaras escondidas, e continham cenas de nudez, sexo e violência e deve ter sido isso que levou a escolherem este filme para abrir um cinema e no fundo foi bem escolhido, porque esteve em cartaz cerca de cinco meses. O Estúdio 444, situava-se na Avenida Defensores de Chaves, já perto do Campo Pequeno e aquilo que recordo das minhas idas (poucas) é do primeiro filme (Let It Be, dos Beatles) e do último (After Hours de Scorsese), que lá vi. Se bem me lembro a sala não tinha nada de especial, a não ser de o local onde ficava o cinema ser bem tranquilo. O facto de ser uma sala estúdio (uma das primeiras em Portugal, a primeira foi a sala estúdio do Império em 1964), não foi o que me levou lá a primeira vez, apesar da curiosidade, mas sim os Beatles. A programação era muito desigual, tanto apresentava filmes de qualidade, de realizadores com nome e provas dadas, como filmes muito maus em todos os sentidos; veja-se o filme que escolheram para a inauguração. Segundo o cartaz de espectáculos do Diário de Lisboa, o Estúdio 444 teve a última sessão em 6-01-1988 com o filme português O Querido Lilás de Artur Semedo, com Herman José (que tinha estreado a 13-11-1987). No dia 9-01-1988, vinha no cartaz a dizer "encerrado" (ver foto) e a partir dessa data não mais veio mencionado no cartaz do Diário de Lisboa e o jornal encerrou em 1990.

 Anuncio do filme que inaugurou o Estúdio 444 e noticia 
sobre a inauguração no Diário de Lisboa de 27-04-1966.


Cartaz dos cinemas do Diário de Lisboa de 9-01-1988.


 Este foi o primeiro filme que vi no Estúdio 444.


 E este foi o último filme que vi no Estúdio 444.


O Estúdio 444 em Março 2013.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Largada de touros nocturna - 1972


Tinha 18 anos quando isto aconteceu. Foi numa sexta-feira e creio que por volta das 23/24h, talvez, até mais tarde, porque o Clube, já devia ter fechado. Muitas vezes no verão, costumávamos ficar à conversa no largo do Bairro da Quinta da Calçada, até às tantas, porque no outro dia não íamos trabalhar e uma vez, ouvimos um barulho, primeiro ao longe e depois aproximando-se. Ouvimos uns "cascos" como os dos cavalos e até pensamos que fosse um cavalo fugido do Hipódromo. Depois, foi tudo muito rápido, vindo da rua do campo da bola, por detrás da minha casa, aparece-nos uma vaca enorme a toda a velocidade. Parou uns segundos, olhou para o largo e creio que para nós e desatou a correr passando por trás da escola primária, e indo pela rua da árvores acima. A memória que ficou, foi de uns olhos enormes, de terror?, o tamanho enorme da vaca e uma cor esbranquiçada. Nós ficamos espantados (se calhar de boca aberta) até porque quando a vaca parou, estávamos a uns trinta metros dela, mas logo de seguida começamos a correr atrás da vaca, mas ela corria muito mais que nós. Quando chegamos ao Largo das Fonsecas, já não havia rasto da vaca. Continuamos a conversar por ali a ver se acontecia mais alguma coisa mas só no dia seguinte, soubemos da largada de touros e das "touradas" que houve. Falou-se na altura de muitas mortes, de assaltos, etc. Até que (40 anos depois) encontrei esta reportagem nas minhas buscas a jornais antigos. Leiam que tem graça.

É pena a foto ser péssima mas, à direita dá para ver 
touro a investir contras as pessoas e o carro.
Foto copiada do Jornal A Capital


LISBOETAS VIRAM BICHO NAS RUAS DA CIDADE - 1972
(excerto)

«Andaram touros  à  solta pela  via  Pública. A excitação lia-se nos  rostos da pequena multidão que, a noite passada, fugia a sete pés o mais à frente possível dos doze gordos touros que corriam à desfilada pelo Campo Grande e Avenida  da República. As forças da ordem sorriam no centro do borborinho. A Câmara Municipal de Lisboa não só aprovou o acontecimento, como o  promoveu. Era tudo a brincar. É festa. Festas da Cidade. De Lisboa..

O homem parecia de gesso, tal a cor esbranquiçada, doentia;  respirava ainda a custo quando disse, sem conseguir acertar com a  chama do isqueiro na ponta do cigarro:     
— Um susto como este só me lembro de ter tido quando, há anos, me  caiu o candeeiro aos pés da cama... Mas adiante: ontem à noite, ia eu muito bem a tomar o fresco, na Rua de Entrecampos (eu moro no Bairro de S. Miguel), quando, chegado a uma esquina, oiço uma vozearia infernal e uma multidão a correr, vinda do Campo Grande. Naquele segundo pensei um milhão de coisas! Palavra! Eu comecei também a correr, mas pela Rua de Entrecampos, claro... Quando cheguei ao pé do novo Viaduto para  o caminho de ferro ouvi vozes vindas de cima. O que havia de me vir à cabeça? Só isto: que era o Apocalipse: Depois serenei, e reparei que eram pessoas como eu, que estavam encarrapitadas lá em cima. Continuei a serenar e verifiquei  que aquela gente estava ali para assistir a alguma coisa. Subitamente,  foi como se tivesse visto bicho. E vi! Vi um toiro a correr desenfreadamente pela Avenida da República! Estava eu muito bem a  vê-lo, quando vejo outro a correr mas em direcção a  mim!
Pausa para respirar
— Depois, não sei porquê, não me lembro de quase mais nada, até ao momento em que dei comigo já perto da praça ajardinada do Campo Pequeno. Não sei em quanto tempo percorri aquele quarteirão!... Mas notei que estava com a respiração ofegante. Devo, portanto, ter  corrido muito! Sempre acontece cada coisa a um homem! O meu nome não; não interessa o meu nome. Sou um lisboeta. Isso sou, olá  se sou.»
Sábado, 29 de Julho de 1972
A CAPITAL