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sábado, 1 de dezembro de 2012

Eduardo Anahory - O Arquiteto sem curso


Texto Pedro Ferreira Mendes
Arquitectura & Construção
Dezembro 2011



Coisas boas em jornais

Casa de Férias Aiola. Galapos, Arrábida. Será Eduardo Anahory que está sentado?
Foto de ulhtpa1.blogspot.pt


Homem de múltiplas paixões e talentos, aventureiro e vanguardista, foi cenógrafo, artista plástico, escultor, publicitário, artista gráfico, decorador, pintor... E arquiteto sem curso. 


Casa de Férias Aiola. Galápos, Arrábida, construída em 1959/60 (?). 
Fotos de ulhtpa1.blogspot.pt


Casa de Férias Aiola. Galapos, Arrábida, planta (?). 
Foto de infohabitar.blogspot


Oriundo de uma família de origem judaica que teve um papel fulcral no nascimento da Comunidade Israelita de Lisboa, Eduardo Anahory nasceu no Bairro Alto, frequentou a Escola de Belas Artes na capital e mais tarde a do Porto. Mas deixou o curso de Arquitetura a meio, o que o obrigou a recorrer, ao longo da vida, a arquitetos amigos, como Pedro Cid, Alberto Pessoa ou Manuel Alzina de Meneses para autenticar os seus trabalhos – a maioria de construção efémera e daí ser a sua obra tão escassamente conhecida.


Casa de Férias Aiola. Galapos, Arrábida. 
Foto de ulhtpa1.blogspot.pt


Modernista por gosto e geração, a sua arquitetura era simples no desenho, limpa de elementos decorativos e profundamente sintonizada com a natureza, com o recorrente recurso a madeiras nas paredes e vime nos tetos, como são exemplos as casas que ergueu na Arrábida, que lhe deram nome na imprensa especializada mundial. Numa das últimas edições de 1962, lia-se na "Architectural Review": “Recentemente, a ‘Domus’ publicou um grupo de pequenas casas de praia, pré-fabricadas, instaladas em Galapos, da autoria de Eduardo Anahory, que preservam certas virtudes básicas da arquitetura moderna que foram esquecidas em outros meios quiçá mais influentes. Este tipo de construções à beira-mar não é desconhecido e os trabalhos de Craig Ellwood vêm-nos à ideia, tornando a comparação quase necessária.” E continuava o artigo da publicação britânica: “No entanto, a simplicidade que aparece nas obras de Craig Ellwood é consequência de uma imensa sofisticação, enquanto no trabalho de Anahory se vê claramente ser o resultado de uma consciente restrição de técnicas e dos materiais utilizados, como foi o uso de painéis revestidos com laminado de plástico.”


Hotel de Porto Santo, com Pedro Cid, 1963. 
Foto copiada da revista Arquitectura & Construção


Hotel de Porto Santo, com Pedro Cid, 1963. 
Fotos de infohabitar.blogspot


Para a sua casa de férias, que batizou Aiola, onde Anahory desfrutou vários períodos de verão na companhia de Menez (foram oito anos de relação amorosa, durante os quais a pintora participou em vários projetos de Anahory, como nos pavilhões de Portugal para a Exposição Universal de Bruxelas e para a Feira de Munique, no café-restaurante Vává, na Casa da Azenha em Loures, no Restaurante Folclore ou no Hotel Porto Santo), o local escolhido, apesar de paradisíaco, levantava condicionamentos por se tratar de uma falésia. A revista Binário, de setembro de 1962, disso dava conta logo no início de um artigo sobre esta casa: “As imposições que regulamentam a instalação de construções na zona em questão, não permitindo que se façam trabalhos de alvenaria, obrigou a que se procurassem rochas firmes para o assentamento das colunas, do que resultou o seu exagerado afastamento.”


Bloco de apartamentos em Galapos, na Arrábida. 1961. 
Foto de mcabanelas.blogspot.pt


Detalhava aquela revista sobre os materiais de construção utilizados: ligeira estrutura de ferro que suporta um pavimento de pinho com revestimento de mosaicos de plástico nas casas de banho e cozinha; paredes formadas por painéis de aglomerado de cortiça revestidos de contraplacado nos quartos e de laminado de plástico nas casas de banho e cozinha; cobertura formada por placas de aglomerado de cortiça montadas em vigas de pinho; persianas basculantes e orientáveis pelo interior por meio de cabos e ferragens de barcos.


Foto de Eduardo Anahory (bem procurei outra) e foto do Pavilhão de Portugal na Feira de Munique. À direita, um painel de azulejos de Menez e uma garrafeira em ferro pintado  (1958?). Fotos copiadas da revista Arquitectura & Construção.


Ao escrever com uma considerável distância no tempo em relação à construção da casa, o autor do artigo permitiu-se à seguinte observação: “Esta primeira construção deste tipo, instalada no local há três anos, tem resistido perfeitamente a todas as condições climatéricas, inclusive ser durante o inverno constantemente banhada pela ressaca das ondas que rebentam contra as rochas em frente. A única assistência que se torna necessária tem sido uma aplicação anual de óleo de linhaça fervido nas madeiras exteriores e uma aplicação de flinkote na estrutura de ferro. É de notar o bom estado de conservação da cobertura que em nada acusa qualquer deterioração, apesar de receber durante o inverno água salgada.”


Cabeleireiro Eva, em Lisboa. Foto copiada da revista Arquitectura & Construção e foto de 
cartaz publicitário de Eduardo Anahory. 1942. Estúdios Novais, Fundação C. Gulbenkian.


A casa Aiola é porventura o projeto mais emblemático de todo o percurso arquitetónico de Eduardo Anahory, em que a união entre o efeito cénico do espaço envolvente e o dos materiais melhor resultado produziu. O que não significa que em vários dos seus projetos esta relação não tenha sido extremamente feliz, especialmente nas outras três casas que construiu fora da cidade para habitação própria (em Alportuche, na Azenha de Loures e na Biscaia). A estrutura assumida como elemento arquitetónico também era transversal aos seus projetos, como sustenta José António Brás Borges na sua dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura, 2010, intitulada “Eduardo Anahory, percurso de um designer da arquitectura”. E exemplifica esta observação com as vigas contra-placadas à vista, tanto na casa Aiola como no bloco de Apartamentos de Galapos ou no Hotel de Porto Santo, que “definem um ritmo constante, evidenciando o elemento regulador do espaço – o painel standard de aglomerado negro de cortiça”.

 Esquisso in Domus 443, Outubro 1966, p. 33, e Sequência de montagem. 
Fotos de ulhtpa1.blogspot.pt


Já o arquiteto Pedro Taborda, que com o autor da tese acima mencionada foram os únicos até hoje a estudar a obra de Eduardo Anahory, destaca o respeito pelo sítio, “que se revelava não tanto pelo encaixe da forma ao terreno, mas pelo respeito e sentido dos elementos naturais na ideia de casas abrigo, onde a própria precariedade dos elementos construídos, pela sua fragilidade, interagiam com o ciclo ambiental”.
Outra característica dos projetos de Anahory passa pela conceção de ambientes não especialmente luxuosos, mas confortáveis e de singular bom gosto. “Os bancos corridos de couro, os painéis de azulejo de Menez, o revestimento das paredes em madeira, a luz indirecta e discreta dos candeeiros em latão, o mobiliário moderno da fábrica Olaio (…), um ambiente acolhedor nada habitual aos estabelecimentos de restauração daquela época”, nota José António Borges no capítulo referente ao café-restaurante Vává – intervenção que elevou Anahory à condição de decorador de excelência da elite cultural da época. 
O talento aliado à sua natureza de bon vivant rendeu-lhe muitos amigos, alguns tão ilustres como Jorge Amado, Vinícius de Morais ou Oscar Niemeyer. E uma vastidão de encomendas para as várias manifestações artísticas em que se desdobrou. 

Texto Pedro Ferreira Mendes
Arquitectura & Construção
Dezembro 2011


Praia Piscina Flutuante. Projecto de Eduardo Anahory, 1968. Foto de retrovisor.blogs.sapo.pt


Praia Piscina Flutuante do Tamariz. 1970. Foto de ulhtpa1.blogspot.pt


Eduardo Anahory teve a ideia desta 'Praia Piscina Flutuante' enquanto resolvia um problema, como criar uma piscina para um hotel situado numa orla de falésias:

"... imaginamos construir uma grande piscina de água salgada (...) Porém realizada a maquete do conjunto, verificámos que essa piscina parecia um pequeno tanque perdido lá nas alturas; perdia-se o contacto directo com a natureza, faltava a verdadeira presença do mar, para onde os banhistas olhariam de longe com compreensível nostalgia...
Foi então que nasceu a ideia de fazer essa piscina dentro do oceano e no ambiente natural.
(...)
Em resumo,  poderá definir-se este objecto como uma grande jangada no centro da qual fica instalada uma piscina com paredes e fundo perfurados, de modo a que a água seja permanentemente renovada e filtrada. Esta jangada é constituída por elementos modulados que permitem uma fácil montagem, desmontagem e armazenagem."

Eduardo Anahory,  "Praia-Piscina-Flutuante" in Binário 119, Agosto 1968
(texto encontrado em ulhtpa1.blogspot.pt)


Foto e Noticia em A CAPITAL - Quinta-feira, 2 de Julho de 1970, na véspera da inauguração.



FRENTE À PRAIA DO TAMARIZ A PRIMEIRA PRAIA-PISCINA FLUTUANTE 

Representantes da Imprensa visitaram esta  manhã a primeira praia-piscina flutuante instalada em pleno mar, a cerca de 300 metros da praia do Tamariz, e que foi arquitectada e  planeada por Eduardo Anahory, que baptizou a sua invenção com o nome de «Seapool». É uma grande jangada, no centro da qual existe uma piscina com paredes e fundo de rede de «nylon», por onde a água é constantemente renovada e filtrada. A jangada é constituída  por elementos  modulados,  cuja montagem, desmontagem e armazenagem é de grande facilidade. Cada um dos módulos tem um comprimento de cinco metros e uma largura de 2,5 metros, pesando aproximadamente 400 quilos. O tamanho da «Seapool» dependerá, portanto, do número de módulos que a formam. A que está instalada na praia do Tamariz tem as dimensões exteriores de 30 por 20 metros,  medindo  a piscina, propriamente dita, 20 metros de comprido por 10 metros de largo. Em torno da piscina há um amplo «deck», com uma área de 400 metros quadrados, o que permite instalar confortavelmente cerca de 150 pessoas, além de  um  «snack-bar» e instalações sanitárias.


Anuncio em A Capital de 10-07-1971.


• Estabilidade

A  estabilidade da  piscina é  garantida por dois flutuadores em todo o seu  comprimento. Acontece, ainda que cada elemento da  piscina, mesmo posto a  flutuar isoladamente, pode suportar  dez pessoas  no mesmo bordo sem perigo de adornar, podendo igualmente suportar uma carga de dois mil quilos sem  deixar de ficar à  tona  de  água. Este tipo de piscina flutuante, além de trazer para o banhista a possibilidade de tomar banho ao largo sem correr qualquer risco, pode constituir óptima solução para as zonas da costa que não têm praias ou para ampliar e valorizar as praias acanhadas e superlotadas. Para concretizar  a  sua ideia,  o arquitecto Eduardo Anahory obteve o patrocínio da Sociedade Estoril-Sol, em cujos estaleiros de Alcoitão foi construído este protótipo. Instalada agora, como se  disse, ao largo da praia do Tamariz, a piscina-flutuante é amanhã oficialmente inaugurada com uma cerimónia para a qual foram convidadas entidades oficiais. Depois ficará à disposição do público. O trajecto entre o areal do Tamariz e a piscina-flutuante faz-se  num  barco a gasolina, da Estoril-Sol, o qual se manterá, em ligações constantes, ao serviço dos frequentadores da mais cosmopolita zona balnear portuguesa. Durante a visita à praia-piscina flutuante os jornalistas foram acompanhados pelos srs. dr. Manuel Telles e Jorge Teodoro dos Santos.
A CAPITAL - 2 de Julho de 1970


Cartaz de Eduardo Anahory. Revista Panorama, Anos 50. Foto de retrovisor.blogs.sapo


Eduardo Anahory. Estudo do cenário do bailado Nazaré. guache sobre cartão, 39,2 x 48 cm. Museu Nacional do Teatro. Foto de doportoenaoso.blogspot.pt


Vida e obra*


1917 – Nasce em Lisboa, a 16 de Dezembro
1931 – Inicia a atividade como ilustrador
1935 – Ingressa no Curso Especial de Arquitetura da Escola de Belas Artes de Lisboa
1937 – Transfere a matrícula para a Escola de Belas Artes do Porto. Participa como decorador no Pavilhão de Portugal na exposição de Paris, concebido por Keil do Amaral
1939 – Trabalha no Pavilhão de Portugal da Feira Mundial de Nova Iorque, encomendado ao arquiteto Jorge Segurado
1940 – Participa na Exposição do Mundo Português em Lisboa, integrado na equipa de “pintores-decoradores” do Pavilhão das Artes e das Indústrias
1940 – Embarca para o Brasil, onde viverá cinco anos, colaborando na realização de várias exposições com Oscar Niemeyer, Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Roberto Marcelo, entre outros 
1942 – Participa como cenógrafo em peças teatrais no Rio de Janeiro
1945 – Regressa do Brasil num veleiro. Casa pela primeira vez, com Maria Reyna Lima Leal Baumberg. Organiza a sua primeira exposição individual de desenhos, óleos e guaches em Portugal. Parte para Paris, a convite do célebre dramaturgo Louis Jauvet, onde viverá até 1948 e onde se dedicará à cenografia e às artes gráficas 
1948 – Regressa a Portugal, integrando a equipa do arquiteto Jorge Segurado na adaptação do Pavilhão das Artes e Indústrias à função de Museu de Arte Popular
1952 – Viaja ao Brasil a convite do arquiteto Oscar Niemeyer. Desenha o Pavilhão do Instituto Brasileiro de Café e expõe projetos de painéis decorativos nos museus de Arte Moderna de Rio de Janeiro e São Paulo
1955 – Casa de fim de semana, em Alportuche, na serra da Arrábida
1957 – Com Orlando Costa, dirige a agência de publicidade Marca
1958 – Divorcia-se e passa a viver com a pintora Menez. Trabalha no Pavilhão de Portugal da 1.ª Exposição Internacional e Universal do pós-guerra, em Bruxelas, encomendado ao arquiteto Pedro Cid. Ganha o concurso para o Pavilhão de Portugal na Feira de Munique. Concebe o espaço interior do café restaurante Vává, em Lisboa.
1959 – Reabilitação da Casa da Azenha em Loures. Bar do Restaurante Folclore, em Lisboa. Decoração de um quarto do Hotel Ritz
1960 – Casa de férias Aiola, em Galapos, na serra da Arrábida (mais tarde veio a ser adulterada para receber a discoteca Seagull, que ficou destruída em 19 de novembro de 1998 devido a uma explosão de gás). Participa na execução de cartazes nas campanhas de publicidade da TAP
1961 – Bloco de apartamentos em Galapos, na serra da Arrábida (demolidos em 1986 no âmbito de um programa de reordenamento do território)
1962 – Hotel de Porto Santo, Madeira 
1963 – Viaja pela Finlândia com uma bolsa de estudo do Instituto de Alta Cultura. Hotel de Porto Santo, com Pedro Cid
1964 – Termina a relação com Menez 
1967 – Piscina flutuante: uma grande jangada constituída por elementos modulados em poliéster reforçado, em cujo centro ficava instalada uma piscina com paredes e fundos perfurados, de modo a que a água fosse permanentemente renovada e filtrada (esteve montada, no verão de 1967, na Praia do Tamariz, no Estoril)
1968 – Cria um Gabinete de Estudos, que passa a trabalhar em estreita ligação com o gabinete de arquitetura de Manuel Alzina de Meneses e Erich Corsepius
1969 – Casa com a atriz Graça Lobo
1971 – Casa do Alto dos Píncaros, na Biscaia, Cascais (desenhada para sua habitação, hoje está adulterada e é explorada por uma empresa que oferece alojamento e outros serviços a surfistas). Participa no projeto de adaptação das instalações da Companhia Mineira do Lobito, Angola, projetadas pelo arquiteto António Campino, a Hotel Presidente 
1972 – Divorcia-se de Graça Lobo 
1974 – Volta a viver no Brasil, na sequência da Revolução de 25 de Abril
1983 – Expõe a sua pintura no Rio de Janeiro
1985 – Morre em Lisboa, no dia 16 de Junho

*com base na dissertação de José António Brás Borges para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura, intitulada “Eduardo Anahory, percurso de um designer da arquitectura” (IST/2010)


In, Arquitectura & Construção - Dezembro 2011



 Eduardo Anahory. S/Título, 1983. Foto de www.cam.gulbenkian.pt


Eduardo Anahory. Sem título, óleo tela, Dim.92x72,5cm. Foto de www.pcv.pt



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dersu Uzala no Funchal


A sala e o "Uzala" — duas surpresas no Funchal

Crónica de Carlos Pinhão no jornal Se7e em 18-07-1979


Coisas boas em jornais


Cine Casino; hoje é o auditório do Centro de Congressos do Casino da Madeira.
Foto sem data encontrada em www.casinodamadeira.com


Carlos Pinhão (1924-1993)
Duas razões para contar a história da minha ida ao cinema, no Funchal, num sábado recente.
Uma razão: a sala.
Outra razão: o filme.
A gente passa na rua e vê um grande cartaz onde se lê: «A Melhor Sala de Cinema do País».
A gente vê o cartaz, mas não vê o cinema, vê só o cartaz, até pode ser que não seja ali o cinema, talvez ali seja só o cartaz a anunciar o cinema algures.
Avanço para me esclarecer e encontro uma escada tipo Metropolitano de Lisboa, só que, em vez do «M», há um letreiro que tem uma seta para baixo e onde se lê: «Cinema-Bilheteiras».
Não há dúvida, é para baixo e desço cheio de curiosidade, a ver se me deixam entrar. Nem penso, nessa altura, em comprar um bilhete para assistir a uma sessão, pois estou mesmo a ver que o filme deve ser desses dos nossos cinemas da província, ou porno, ou kung-fu.
A minha ideia é só pedir que me deixem ver a tal sala melhor do País... Que história é essa?... Como se mede o melhor e o pior? A maior sala ainda se compreende, a maior lotação, contam-se os lugares, não é, mas a melhor?... A mais cómoda?... Eu, por exemplo, embirro com aquelas cadeiras muito fofas em que a gente se enterra até ao pescoço e que fazem mal á espinha, os meus bicos de papagaio exigem um assento duro.
O melhor é ver, mas cheira-me a provincianismo, isso da melhor sala deve ser uma manifestação de bairrismo tolo, género a Veneza Portuguesa, a Sevilha Portuguesa... Já estou no átrio que é pequeno, não tem nada de especial, a bilheteira também não, mas há aqui agora os cartazes que não havia lá em cima. O «Cinecasino» fica na cave do «Casino da Madeira», que é um edifício baixo. rodeado por hotéis muito altos.
Os cartazes. Uma surpresa.
Filmes de qualidade. «Face a face», de Ingmar Bergman. «O Céu pode esperar». Em exibição — surpresa maior — um filme soviético: «Dersu Uzala», a chamada obra-prima de Akira Kurosawa. Mudo logo de planos. Logo à noite, venho ver como é. Ver um filme soviético, aqui, tem qualquer coisa de fruto proibido. A noite, o porteiro do cinema confirmar-me-ia que, trabalhando no ramo há vinte anos, é a primeira vez que dá conta da passagem de um filme russo na Madeira.
Estreou-se na sexta-feira e talvez dure uma semana.
— Tem vindo muita gente? pergunto.
— O costume, nestas sessões. Entre cem a duzentas pessoas.
A sala tem lotação para meio milhar e raramente se enche. Encheu-se na  estreia e, há pouco, na festa do Max. Nem sequer é a maior sala da Madeira. Há quatro cinemas no Funchal e devem ser todos da mesma empresa, pois vejo no «Diário de Notícias» local os quatro anúncios iguais, lado a lado, ocupando todo o alto da página.
Digamos que há filmes para todos os gostos e guarda-se a qualidade para o «Cinecasino». Merece. É, de facto, uma bela sala de espectáculos. A gente entra e sente assim um choque agradável. Primeira sensação: a amplitude, o desafogo. Regra geral as salas lisboetas são acanhadas, aproveita-se o espaço ao milímetro. Aqui é tudo á larga, as filas espaçadas, as coxias amplas, há espaços por toda a parte. Porém, a nota mais especial é a inclinação da sala que apíoveita a própria configuração do terreno em que foi construída. Não há balcão, é só plateia (e só um preço, setenta escudos, sem lugares marcados), mas é uma plateia com a inclinação de um balcão, porque a encosta, assim a descer para o lado do mar, propiciou esse tipo de construção muito original e muito belo. As cadeiras (cómodas quanto baste) são forradas de amarelo, fornecendo assim um sugestivo contraste com a alcatifa escura e, na verdade, todo o conjunto é sugestivo, harmonioso, atraente. Não vamos garantir que seja a «Mais bela sala de cinema do País», mas é verdade que nunca víramos sala tão bonita, exceptuando aquela daquele cinema de Luanda, ao ar livre, tipo esplanada, uma delícia, mesmo que se não goste do filme, gosta-se do panorama (sem esquecer que Luanda já não é «do País»).
Neste caso, o filme foi também uma delícia, «Dersu Uzala», «A Àguia da Estepe», belo como um Júlio Verne, como dele disse «Le Nouvel Observateur» e dele nada mais diremos, até porque, por certo, já o «Se7e» se lhe referiu, quando da estreia em Lisboa. A piada estava, para nós, em ver um filme soviético (que não viramos em Lisboa) numa terra onde os cartazes anunciadores do IX Congresso do PCP são arrancados da parede ainda frescos da cola. Por acaso, aqui estou eu na sala, ao intervalo (algo longo, sempre longo para quem não fuma) a ler o «Jornal da Madeira» que levei no bolso e que dedica quase uma página á Conferência de Imprensa dada, no Funchal, por Pinheiro de Azevedo, afirmando este que, se tivesse sido eleito em 1976, «teria expulso do País personalidades non gratas, tais como Àlvaro Cunhal e outras (...) perigosas (...) todas elas comunistas».
O mesmo jornal revela que se trata de uma viagem de angariação de fundos para a campanha eleitoral daquele candidato, seguindo-se uma viagem á Venezuela, onde a colónia madeirense é muito importante.
O filme foi muito bem acolhido pela assistência e, na manhã seguinte, há um grande paquete soviético acostado no porto do Funchal e aparecem colados novos cartazes, mas não é de crer que Dersu Uzala tenha alguma coisa a ver com isso.

Crónica de Carlos Pinhão no jornal Se7e 18-07-1979



Casino da Madeira

desenhado por Oscar Niemeyer e Viana de Lima

Casino da Madeira no Funchal. 
Foto encontrada em www.waymarking.com. 

«Eu mostro tudo o que levo sobre o Casino Park e ele sublinha logo “a colaboração fundamental do meu colega Viana de Lima [grande arquiteto português, discípulo de Corbusier, que Niemeyer convidou para a concretização do projeto]. A minha atuação se limitou ao anteprojeto na escala de 1:500, que o resto, o desenho definitivo, os detalhes, tudo isso foi elaborado por aquele arquiteto. Depois, eu muito ocupado em Paris com as tarefas em realização. E ele a correr com os detalhes, sem tempo para me consultar… Ele foi muito correto”.» (…) O cine-teatro, por seu lado, a explorar o subsolo,resolvia-se, na idéia niemeyeriana, numa cúpula trapezoidal, em concha, como tantas “irmãs” já vivas - a tribuna do quartel-general do Exército, em Brasília (1968), o clube libanês de Belo Horizonte (1950), o monumento a Rui Barbosa (1949) - ou por nascer - na universidade de Constantine, na Argélia (1969/72), no Memorial da América Latina, em São Paulo (1986/88), ou no centro de convenções da Barra da Tijuca (1997). Infelizmente, pela necessidade de fazer a caixa do palco, a cúpula deu lugar a uma estrutura trapezoidal angular, que não perde, contudo, a beleza compósita. Cada um dos edifícios induz a um jogo de desníveis cuidadosamente distribuídos. Mais ainda do que as unidades singulares, é o “teatro móvel”, as distâncias e a diversidade de planos, as transições de formas, o diálogo circulante em que elas se inserem, é isso que também surpreende imenso na monumentalidade estética deste projeto. O cine-teatro inicia-se como arco triunfal para o casino e do primeiro andar deste, o andar do salão de jogos, nasce uma rampa ascendente, com uma espiral a meio, forma que Niemeyer aqui usa pela primeira vez e que retomará no Centro Cultural de Le Havre (1972/83) e no Museu de Arte Moderna de Niterói (1994)

Texto de Carlos Oliveira Santos encontrado em www.arcoweb.com.br Ler todo o texto aqui


Desenhos de Oscar Niemeyer para o projecto do Casino da Madeira. 
Encontrados em www.arcoweb.com.br.


Cartaz do filme que Carlos Pinhão viu no Funchal.


Foto de Carlos Pinhão encontrada em futpt.blogspot.pt
Cartaz do filme Dersu Uzala encontrada em jfilmpowwow.blogspot.pt





quinta-feira, 5 de julho de 2012

Xico Buark

por
Clarice Lispector

No fim dos anos sessenta já escritora consagrada, admirada e respeitada, Clarice Lispector foi convidada a fazer entrevistas. Entre maio de 1968 e outubro de 1969, publicou regularmente na revista Manchete, na seção "Diálogos Possíveis com Clarice Lispector". Entrevistou famosos do universo cultural (pintores, escultores, romancistas, músicos, atores...).


«Esta grafia, Xico Buark, foi inventada por Millôr Fernandes, numa noite no Antônio’s. Gostei como quando brincava com palavras de crianças. Quanto ao Chico, apenas sorriu um sorriso duplo: um por achar engraçado, outro mecânico e tristonho de quem foi aniquilado pela fama. Se Xico Buark não combina com a figura pura e um pouco melancólica de Chico, combina com a qualidade que ele tem de deixar os outros o chamarem e lê vir, com a capacidade que tem de sorrir conservando muitas vezes os olhos verdes abertos e sem riso.

Ele não é de modo algum um garoto, mas se existisse no reino animal um bicho pensativo e belo e sempre jovem que se chamasse Garoto, Francisco Buarque de Holanda seria da raça montanhesa dos garotos.

Marcamos encontro às quatro horas porque às cinco Chico tinha uma lição de música com Vilma Graça. Há um ano está estudando teoria musical e agora começará com o piano. Estávamos os dois na minha casa e a conversa transcorreu sem desentendimentos, com uma paz de quem enfim volta da rua.»

 Clarice Lispector e Chico Buarque.
Fotos encontradas em ieccmemorias.wordpress.com e tinho-blogtinho.blogspot.pt


Clarice Lispector: Você viveu ainda tão pouco que talvez seja prematuro perguntar-lhe se você teve algum momento decisivo na vida e qual foi?

Chico Buarque de Hollanda: Eu sou ruim para responder. Na verdade tive muitos momentos decisivos, mas creio que ainda sou moço demais para saber se eram de fato decisivos esses momentos. No final de contas não sei se eles contaram ou não.

CL: Tenho a impressão que você nasceu com a estrela na testa: tudo lhe correu fácil e natural como um riacho de roça. Estou certa se para você não é muito laborioso criar?

CBH: E não é. Porque às vezes estou procurando criar alguma coisa e durmo pensando nisso, acordo pensando nisso – e nada. Em geral eu canso e desisto. No outro dia a coisa estoura e qualquer pessoa pensaria que era gratuita, nascida naquele momento. Mas essa explosão vem do trabalho anterior inconsciente e aparentemente negativo. E como é seu trabalho?

CL: Vem às vezes em nebulosa sem que eu possa caracterizá-lo de algum modo. Também como você, passo dias ou até anos, meu Deus, esperando. E, quando chega, já vem em forma de inspiração. Eu só trabalho em forma de inspiração.

CBH: Até aí eu entendo, Clarice. Mas a mim, quando a música ou a letra vem, parece muito mais fácil de concretizar porque é uma coisa pequena. Tenho impressão de que se me desse idéia de construir uma sinfonia ou um romance, a coisa ia se despedaçar antes de estar completa.

CL: Mas Chico, aí é que entra o sofrimento do artista: despedaça-se tudo e a gente pensa que a inspiração que passou nunca mais há de vir.

CBH: Se você tem uma idéia para um romance, você sempre pode reduzi-lo a um conto?

CL: Não é bem assim, mas, se eu falar mais, a entrevistada fica sendo eu. Você, apesar de rapaz que veio de uma grande cidade e de uma família erudita, dá a impressão que se deslumbrou, deslumbrando os outros com sua fala particular. O que quero dizer é que você, ao ter crescido e adquirido maior maturidade, deslumbrou-se com as próprias capacidades, entrou numa roda-viva e ainda não pôs os pés no chão. Que é que você acha: já se habituou ao sucesso.

CBH: Tenho cara de bobo porque minhas reações são muito lentas, mas sou um vivo. Só que por os pés no chão no sentido prático me atrapalha um pouco. Tenho, por exemplo, uma pessoa que me explica um contrato e não consigo prestar atenção em certas coisas. O sucesso faz parte dessas coisas exteriores que não contribuem nada para mim. A gente tem a vaidade da gente, a gente se alegra, mas isso não é importante. Importante é aquele sofrimento com que a gente procura buscar e achar. Hoje, por exemplo, acordei com um sentimento de vazio danado porque ontem terminei um trabalho.

CL: Eu também me sinto perdida depois que acabo um trabalho mais sério.

CBH: Tenho uma inveja: meu trabalho de música está exposto a um consumo rápido e eu praticamente não tenho o direito de ficar pensando numa idéia muito tempo.

CL: Talvez você ainda mude. Como é que Villa-Lobos criava? Seria interessante para você saber.

CBH: Sei alguma coisa. Por exemplo, uma frase dele que Tom Jobim me contou: diz que Villa-Lobos estava um dia trabalhando na casa dele e havia uma balbúrdia danada em volta. Então o tom perguntou: como é, maestro, isso não atrapalha? Ele respondeu: o ouvido de fora não tem nada a ver com o ouvido de dentro. É isso que invejo nele. Gostaria muito de não ter prazo para entrega das músicas, e não fazer sucesso: você gostaria, por exemplo, de sair para a rua e começar a dar autógrafo no meio da rua mesmo?

CL: Detestaria, Chico. Eu não tenho, nem de longe, o sucesso que você tem, mas mesmo o pequeno que eu tenho às vezes me perturba o ouvido interno.

CBH: Então estamos quites

CL: Todas as mães com filhas em idade de casar consentiriam que casassem com você. De onde vem esse ar de bom rapaz? Acho, pessoalmente, que vem da bondade misturada com bom-humor, melancolia e honestidade. Você também tem o ar de quem é facilmente enganado: é verdade que você é crédulo, ou está de olhos abertos para os charlatões?

CBH: Não é que eu seja crédulo, sou é muito preguiçoso.

CL: O que é que você sentiu quando o maestro Karabtchevsky dirigiu “A Banda” no Teatro Municipal?

CBH: Claro que gostei, mas o que me interessa mesmo é criar. A intenção de Karabtchevsky foi das melhores, inclusive corajosa. Eu quero ver ainda a coisa se repetir com outros compositores populares.


CL: Você foi precoce em outras manifestações da vida? Fale sem modéstia.

CBH: Não, tudo que fiz como garoto é de algum modo ligado com o que eu faço hoje, isto é, versinhos.

CL: Você quer fazer um versinho agora mesmo? Para você não se sentir vigiado, esperarei na copa até você me chamar.


Chico Buarque no ensaio da peça "Roda Viva" em 1968 
e Chico Buarque na Passeata dos Cem Mil (1968).
 Fotos encontradas em topicos.estadao.com.br 
e www.jornalismoeducativo.com.br


Chico riu, eu saí, esperei uns minutos até ele me chamar e ambos lemos sorrindo:

Como Clarice pedisse
Um versinho que eu não disse
Me dei mal
Ficou lá dentro esperando
Mas deixou seu olho olhando
Com cara de Juízo Final.

CL: A banda lembra música de nossos avós cantarem: tem um ar saudoso e gostoso de se abrir um livro grosso e encontrar dentro uma flor seca guardada exatamente para durar. De onde você tirou essa modinha tão brasileira? Qual a fonte de inspiração?

CBH: Não sei não, é uma coisa difícil de conscientizar. Lembro da banda mesmo não tendo vivido no interior, mas atrás da minha casa tinha um terreno baldio onde às vezes havia circo, parque de diversões, essas coisas.

CL: Vi você na primeira passeata pela liberdade dos estudantes. Que é que você pensa dos estudantes do mundo e do Brasil em particular?

CBH: No mundo é para mim difícil falar, mas aqui no Brasil eu sinto em todos os setores um apodrecimento e a impossibilidade de substituição senão por mentalidade completamente jovens e ainda inatingidas por essa podridão. Aqui no Brasil só vejo esta liderança. Um rapaz do “New York Times” entrevistou-me e perguntou: está bem, vocês não querem censura nem repressão nem os métodos arcaicos de educação: mas se vocês ganharem, quem vai substituir as autoridades? Por incrível que pareça, o mundo político está envolvido por essa decadência e acomodação. E você? Eu também te vi na passeata.

CL: Fui pelos mesmos motivos que você. Mudando de assunto, Chico, você já experimentou sentir-se em solidão? Ou sua vida tem sido sempre esse brilho tão justificado? Chico, um conselho para você: fique de vez em quando sozinho, senão você será submergido. Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa.

CBH: Também acho e sempre que posso faço a minha retirada.

CL: Na música chamada clássica, apesar dela englobar compositores aos quais o classicismo não poderia ser aplicado, nessa música o que você prefere?

CBH: Aí não é questão de preferência, é costume para mim. Tenho sempre à mão um Beethoven.

CL: Sua família preferia que você seguisse a vocação de outros talentos seus que em aparência, pelo menos, são mais asseguradores de um futuro estável?

CBH: No começo sim. Logo que entrei para a arquitetura, quando comecei a trocar a régua “T” pelo violão, a coisa parecia vagabundagem. Agora (sorri) acho que já se conformaram.

CL: Você está compondo agora alguma coisa e com letra sua mesma? Sua letra é linda.

CBH: Estou na fase de procura. Ontem acabei um trabalho que era só de música, que exigia prazo. Para uma canção nova, eu estou sempre disponível.

CL: No domínio da música popular, quem seria por sua vez o seu ídolo?

CBH: Muitos, e é por isso que é difícil citar.

CL: Seu pai é um grande pai. Quem mais na sua família eu chamaria de grande, se conhecesse?

CBH: Minha mãe, apesar de ter um metro e cinqüenta e poucos de altura. Eu li muito e papai sempre me estimulava nesse sentido.

CL: Qual é a coisa mais importante do mundo?

CBH: Trabalho e amor.

CL: Qual é a coisa mais importante para você, como indivíduo?

CBH: A liberdade para trabalhar e amar.

CL: O que é o amor?

CBH: Não sei definir, e você?

CL: Nem eu.

Clarice Lispector. Entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007, pp.99-104.
Entrevista encontrada em cafemargoso.blogspot.pt

Em 1968, contracultura, música e artes em alta, revoluções acontecendo no mundo todo, e uma luta contra a ditadura, mesmo sabendo do final, gostaria de estar lá. Carlos Scliar, Oscar Niemeyer, Clarisse Lispector, Glauber Rocha, Ziraldo e Milton Nascimento, na passeata contra a ditadura em 1968. texto e foto de click-click-pose.blogspot.pt




domingo, 23 de outubro de 2011

Verdadeiros Artistas

"aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando"
Camões


Oscar Niemeyer no barracão que ele usou para escritório, enquanto se construía a capital do Brasil: Brasilia, 1960. Frank Scherschel. Foto da direita: Oscar Niemeyer na sua casa projectada por ele mesmo, 1959. Dmitri Kessel.


Busby Berkeley revendo o argumento há cabeceira da actriz infantil Quintanille 
durante as filmagens de Forty Little Mothers, 1940 (Eddie Cantor, Ama Seca). ?? 


Dizzy Gillespie, mostrando a seu amigo Benny Carter, 
como fazer um aperto de mão especial. 1948. Allan Grant. 


Frank Gehry saltando sobre uma mesa no seu escritório. 1972. Ralph Morse. 


Henry Miller em Paris. 1969. Carlo Bavagnoli. 


Jackson Pollock trabalhando em seu estúdio, de cigarro na boca. 1949. Martha Holmes. 


Le Corbusier trabalhando num projecto para a reconstrução de Paris, no seu atelier. 1946. Nina Leen. 


Marc Chagall trabalhando em um vitral. 1960. Loomis Dean. 


Salvador Dali numa sessão com Phillipe Halsman. 1954. Yale Joel. 



(foto da LIFE Archive)