domingo, 29 de abril de 2012

Lew Archer - Ross Macdonald



"Não há nada errado com a Califórnia que um 
aumento do nível do oceano não possa curar" 
Lew Archer - Ross Macdonald, The Drowning Pool (A Piscina da Morte), 1950.


Paul Newman, o rosto de Archer no cinema, lendo um jornal enquanto um barbeiro dá um toque no seu cabelo, durante a rodagem do filme Harper, Detective Privado (Harper, 1966) de Jack Smight, baseado no livro The Moving Target (O Alvo em Movimento, 1949) de Ross Macdonald. Mudar de Archer para Harper o nome do detective privado, foi uma exigência de Paul Newman, que achava que o H no inicio de um nome lhe dava sorte. Foto encontrada em ontheset.tumblr. 


«Morto o ano passado  (1915-1983), Macdonald deixou aqui um thriller em cheio. O detective é de novo Lew Archer (nem um murro, nem um tiro, mas uma cabeça e uma obstinação certinhas). Há petróleo e sangue aos borbotões, ódios e paixões inchados no silêncio dos anos, poder e queda. Basta um dia e pouco a Archer para deslindar o insolúvel. Lê-se em menos tempo e a solução é um espanto.» (Alfacinha da Silva, nota á edição de O Alvo em Movimento na Caminho Policial (nº 4) em, Grande Reportagem, 18-01-1985)


Aos Editores de Livros


Dos 24 livros escritos por Ross Macdonald, falta editar em Portugal estes tres livros: The Doomsters - 1958,  The Wycherly Woman - 1961 e The Blue Hammer - 1976. Por favor, mexam-se.



Há certas famílias cujos membros deviam viver em cidades diferentes - diferentes 
provincias, se possível -. E escrever cartas entre si apenas uma vez por ano " 
Lew Archer - Ross Macdonald, The Blue Hammer - 1976



Ross Macdonald nasceu Kenneth Millar, em Los Gatos, perto de San Francisco, em 1915. Cresceu em Ontário, Canadá, no seio de uma família disfuncional, como quase todas em seus romances. A mãe sofria de distúrbios mentais; um belo dia, o pai saiu para comprar cigarros (um de seus temas predilectos é o do desaparecido) e nunca voltou; Kenneth acabou sendo criado por parentes e, aos 12 anos, bebia muito, praticava pequenos furtos e era um rufia de rua. Andou um tempo na faculdade, quando reencontrou uma namorada, a futura escritora Margaret Millar, que, como ele, se dedicou ao policial.
Com o pseudónimo de John Macdonald, publicou o primeiro romance, “The dark tunnel”, em 1944. Depois passou a assinar Ross Macdonald, para evitar confusão com outro autor do género, John D. Macdonald. 
A partir de “The Galton case” (1959), Macdonald criou um estilo narrativo próprio, algumas vezes criticado por ter um desenvolvimento previsível: a acção se desenrola com muita rapidez e precisão, com Lew Archer indo de um canto a outro sem parar, interrogando as pessoas, sem, contudo, conseguir evitar mortes no caminho. Archer avança como um “psicanalista-médium com olhos de raios-X” (para usar a definição do escritor Rodrigo Fresán), em busca de entender por que alguém não podia deixar de fazer o que fez.
O passado é a chave. Toda a explicação está lá, e deve-se voltar a ele, dolorosamente, para se decifrar o presente. Não se iluda: no fundo todos nós somos os culpados; temos taras, fortunas de origem inconfessável e cadáveres no porão. Em suas melhores novelas, como “Black money” (1965), o escritor mistura a culpa individual das personagens com a denúncia do crime organizado e do capitalismo americano. (In, oglobo.globo.com)



Um Olhar de Despedida de Ross Macdonald


Lew Archer desfaz os pequenos nós que vai encontrando durante a investigação, vai desfazendo uma pequena rede de anos de mentiras, sempre firme, senhor de si mesmo, elegante, com esse porte que o torna único, muito calmo, vai escavando como tivesse uma colher pequena a cavar um túnel enorme, sem pressa, sem pressão de ninguém, como um falcão que voa sobre suas presas esperando até que estejam esgotadas, Archer é magnífico. E tudo isso com esse cinismo que o caracteriza, tão acentuado, tão agudo, no momento exacto, cortante, frio, excelente; Com filosófica obstinação, o Detective Lew Archer procura a Verdade até quando ela não interessa ao seu cliente.

Ross Macdonald (1915-1983)
Foto de www.thrillingdetective.com
Lew Archer para a sua jovem cliente;

- Você não deveria estar aqui.

- Aonde devia estar?

- Em casa, lendo um livro.

- Dostoievski? - Respondeu com raiva.

- Um pouco mais leve do que isso.

- Como "Mulherzinhas"?, Eu acho que não me entende, Sr. Archer. Está a tratar-me como se fosse meu pai.

- E você como se fosse minha filha.
(In, viajealrededordeunamesa.wordpress.com)



Os primeiros livros de Ross Macdonald em Portugal


Os primeiros livros de Ross Macdonald, foram publicados pelas Edições Palirex, não sei bem em que data mas, seguramente antes do 25 de Abril. A colecção tinha o nome de Clube do Crime e Roussado Pinto (O "famoso" Ross Pynn) estaria envolvido nestas edições, com a colaboração de Dinis Machado (Dennis McShade), mas não consegui confirmar. Sei que as Edições Palirex estava bastante activa por volta de 1970, com vários tipos de edição de livros e até de cromos. Encontrei esta referencia de Dinis Machado a esses tempos, embora ele não se refira ás Edições Palirex. Ele refere-se  a Roussado Pinto e á Editorial Íbis e a uma colecção chamada Rififi, mas eu creio que Ross Macdonald nunca foi editado pela Rififi. Pelo menos eu nunca encontrei nenhum durante anos de andanças pelos alfarrabistas.

«Fui chamado para a Íbis pelo Roussado Pinto para dirigir a colecção Rififi, que era uma espécie de contraponto à Vampiro, mas muito mais desalinhada. Às vezes aparecia-me o restolho dos americanos, acho que cheguei a publicar o Dashiell Hammett e também o Raymond Chandler. E depois apareceram autores que eram considerados menores, como o Ross MacDonald ou o Frank Gruber, e que eu utilizava também como suportes do trabalho que eu queria fazer. Lia-os com o meu americano, sabia como é que diziam as coisas, aquela forma seca. A Censura fechava um bocado os olhos, achavam que aquilo não era importante. Não levavam a sério. Mas deviam.» 
(Dinis Machado entrevistado por Viriato Teles em viriatoteles.net)



Livros de Ross Macdonald editados pela Caminho Policial


Uma das melhores colecções de Policiais editadas em Portugal foi a Caminho Policial. Li em qualquer lugar que era dirigida por Salvato Teles de Menezes. Fosse quem fosse, era uma pessoa que sabia o que fazia. Creio que esta colecção começou nos anos 80 e durou até depois do ano 2000. 


Das balas ás palavras

por
Fernando Santullo Barrio


«A partir do romance Find a victim, 1954 (À Procura de uma Vitima) e, em particular de The Barbarous Coast, 1956 (A Costa Maldita), seu livro seguinte, Ross Macdonald começou a levar o seu detective para novos lugares narrativos: se os personagens de Dashiel Hammett, Raymond Chandler, Horace McCoy e outros percursores do género policial faziam a acção disparar com as suas investigações, o detective Archer de Ross Macdonald é cada vez mais nas próprias palavras do autor "um catalisador não intencional da acção."
É aqui que está a ruptura com os outros. A viragem com que Ross Macdonald fica longe das suas influências literárias: a violência e a miséria humana não surgem espontâneamente, não vêm do nada, há sempre uma "história de família" que ao ser reconstruída pode ajudar a explicar as irregularidades de comportamento e tragédias actuais. Isso não significa que a violência nos seus livros é menor. Ou que a nitidez expressiva que caracteriza os diálogos de Ross Macdonald desaparece. Em contraste, a densidade psicológica dos conflitos e as relações dos personagens, dá uma nova carga de sentidos e significados para as acções de Lew Archer, as suas palavras e de seus entrevistados. Simultâneamente, desloca a origem (e a possível resolução dos conflitos) no tempo, tornando-se muito menos apreensíveis as causas do problema. Não há nada de excepcional nos métodos de investigação de Archer: faz perguntas, ouve as respostas e junta os dados, observa os rostos daqueles com que se cruza e deixa cair comentários precisos sobre o que estes dizem, sobre o passado que carregam.
Ross Macdonald morreu em 1983, vítima de doença de Alzheimer, depois de ter sido presidente da Sociedade de Escritores de Mistério da América por quase vinte anos. A riqueza de seu trabalho fez dele o escritor mais reconhecido a nível critico e académico. A densidade de sua visão das relações humanas, faz da sua obra um mais poderosos esforços literários do século.»
(In, www.henciclopedia.org.uy) Ler Tudo Aqui


Livros de Ross Macdonald editados pela Europa-América


 Estes são os primeiros livros escritos por Ross Macdonald. Ainda não havia Lew Archer. 


Estes são os restantes editados pela Europa-América até agora. São todos bons.



"Ross Macdonald é, realmente, do melhor. Talvez, 
até, um pouco mais: no policial, ele é o melhor."


«Imaginem um inventor de jogos. Um homem ou uma mulher cuja tarefa fosse a de criar algo como o xadrez. Ou as damas. Ou o Poker. Ou o cubo mágico. Independentemente da sua dificuldade, um jogo tem regras internas, um objectivo que se define simultâneamente como um desafio, oferece um número razoável, mas finito, de possibilidades e, no fim, terá testado a inteligência e a criatividade dos jogadores.
Nenhum livro pode ser visto tanto como um jogo, quanto um romance policial. E é por isso mesmo que, desse ponto de vista, o seu autor tem algo de um inventor de jogos. Alguns, naturalmente, escreveram livros ao nível do jogo do galo, nada mais. Mas Ross Macdonald apresentou, em matéria de policial, o xadrez. Nada menos. (...) os seus textos têm, também, uma grande consistência literária. Podem duvidar. Mas apraz-me mostrar um par de exemplos. O narrador, um detective profissional, descreve o cliente, que acaba de conhecer: " Keith Sebastian saiu da casa em mangas de camisa. Era um homem elegante, nos seus quarenta e tal, com espesso e encaracolado cabelo castanho, grisalho nos lados. Estava ainda por barbear, e o seu crescer de barba parecia sujidade fibrosa, que tivesse sido esfregada no rosto". Ou, mais tarde, a propósito do mesmo Sebastian, com quem fora falar, no local em que este trabalhava, e onde uma secretária lhe disse que o ouvira chorar: "Eu gostava mais de Sebastian desde que soubera que ele tinha lágrimas dentro da sua cabeça encaracolada".
(In, leitordeprofissao.blogspot.pt) Ler Tudo Aqui


Outras Edições


O livro da esquerda (The Underground Man - 1971) é o nº 1 de uma colecção chamada Gato Preto, editado pela Portugal Press, mais uma vez Roussado Pinto esteve envolvido. O segundo livro (The Chill - 1964) é uma edição do jornal Público. O terceiro é uma colectanea (The Archer Files - 2007) de contos que foi editada em Espanha (entretanto saiu no Brasil). Todos os contos envolvem Lew Archer e foi organizada por Tom Nolan, que é considerado o maior conhecedor da obra de Ross Macdonald e que também escreveu a sua biografia (4ª foto), e se não for demais o pedido, era bom que os editores editassem os dois últimos.



Para terminar deixo aqui mais esta de Lew Archer - Ross Macdonald:


"Nunca durmas com alguém, cujos 
problemas sejam maiores que os teus."




sábado, 28 de abril de 2012

Coisas do PREC: Lisboa 1976


Cartazes e Propaganda Política

Agit-Prop em Lisboa



Praça do Saldanha.

«A poluição propagandítistica e ideológica casava bem com o temperamento da generalidade do povo: as discussões de futebol ou nas famílias (por causa dos filhos, de dois palmos de terra arável ou de heranças) haviam dado lugar aos argumentos e contra argumentos sobre questões como o direito à habitação, o sexo antes do casamento, ou as últimas do Conselho da Revolução. No fundo, continuávamos iguais a nós próprios: românticos, generosos, gostando de festa e, sobretudo, opinativos e fervendo em pouca água. O desejo de convencermos cada português a ser um dos nossos tornava-nos, quase todos, intolerantes. A vontade de vencermos dava-nos persistência e levava-nos para a rua, em vagas de contínuas palavras de ordem, clamadas hora a hora. Ou escritas, de acesso fácil para todos. Assim sendo, o espaço público urbano tinha de ser disputado pelos diferentes partidos (umas dezenas). Em Lisboa parecia não restar a descoberto nem um milímetro quadrado e, como seria de esperar, a disputa acontecia corpo a corpo, em muitas ocasiões. Mesmo os mais calmos militantes defendiam por todos os meios a sua “dama”, isto é, a sua causa.» 
(Helena Pato em caminhosdamemoria.wordpress.com) Ler Tudo Aqui


Avenida Almirante Reis.


Rua do Ouro e Praça do Comércio.

 
Avenida da Liberdade e Avenida da República.


Praça do Comércio e Mercado do Lumiar.


Sé de Lisboa e Edificio Castil.


Cinema Monumental.


Cais do Sodré e Alcantara.

 

Chafariz do Largo do Rato e Cinema Monumental.

 

Praça de Santo António e Largo de Santa Bárbara.


Rua Brancamp, Praça de Santo António e Avenida Almirante Reis.


Sé de Lisboa e Rossio.


Estação Sul Sueste, Terreiro do Paço.


Estação de Correios de Santa Justa.


Faculdade de Ciências e Palácio Foz.


Estrela e Arroios.


Praça da Figueira.


Praça dos Restauradores e Instituto Superior Técnico.


 Praça Marquês de Pombal.


 Instituto Superior Técnico e Sanatório do Lumiar.


(fotos do Arquivo Fotográfico da CML)