Mostrar mensagens com a etiqueta Feira da Ladra. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Feira da Ladra. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Lisboa por volta de 1900-1920 - Parte 2


Assim se faz Portugal

Calçada da Bica Grande vista da Rua de São Paulo.

«De Charles Chusseau-Flavies pouco se sabe, o fotógrafo francês terá trabalhado entre 1890 e 1910. Consultando a parte do seu trabalho que se encontra na George Eastman House, parece tratar-se de um dos primeiros repórteres fotográficos freelancer. Viajava com facilidade e tinha acesso a várias famílias reais europeias. Tinha também grande facilidade em fotografar quartéis e militares em exercício assim como o respectivo armamento, o que fez em vários países da Europa. Fotografava com muita frequência, cenas do quotidiano e fazia levantamentos etnográficos. Os ciganos na Roménia, negativos de alguma raridade e algumas vivências na Argélia, Marrocos e na Turquia, onde também adquiriu originais a (Sebah & Joailler), importante firma estabelecida em Constantinopla. Percorreu a maioria dos países da Europa. 

Funeral em Lisboa, Avenida da Liberdade.


Da colecção, uma das maiores da George Eastman House, fazem parte mais de 11.000 negativos em vidro. O conjunto foi entregue à Casa George Eastman pela Kodak Pathé em 1974. É provável que seja apenas parte da sua produção como fotógrafo isto porque, se atentarmos ao número de chapas em vidro feitas em França, uma insignificância, por exemplo da Exposição Universal de 1900 em Paris apenas se conhecem 2 chapas, leva-nos a suspeitar que a colecção na posse da George Eastman House não representa todo o seu trabalho. 
Tal situação, leva-nos a concluir que a sua obra é muito mais vasta. Chusseau - Flaviens quando viajava adquiria trabalhos de outros fotógrafos e produzia a bordo uma cópia. Ele incluía frequentemente o nome do fotógrafo na anotação em francês ao longo da borda do negativo em vidro. Assim se explicam os negativos da Nova Zelândia, Japão, Abissínia na Etiópia e outros países para onde Chusseau-Flaviens não pode ter viajado em pessoa. 


Figura típica de Lisboa, vendedor de lotaria (Cauteleiro).


Na George Eastman House são em grande número os vidros da Bulgária, Roménia e Espanha. Surpreendente é o número de chapas sobre Portugal, cerca de 900 negativos em vidro. A sua diversidade geográfica contempla a cidade do Porto, com vistas de uma beleza rara a que a cidade já nos habituou e onde podemos ver o desembarcar do bacalhau na Ribeira. Cascais com as suas praias de pescadores, antes do turismo, os hotéis e os casinos as terem tomado; Mafra, Tomar e Sintra com os seus monumentos; Cacilhas, donde miramos a Lisboa do princípio do século XX; Coimbra, as pessoas, os estudantes e as tricanas, a universidade e o choupal. A sensibilidade de Chusseau - Flaviens quando regista os tipos sociais, os costumes, os vendedores ambulantes: de azeite, de carvão, de leite, de legumes, de aves, de peixe, de ostras, de pão, de perus, de alhos e cebolas, os aguadeiros, os varredores de rua, as lavadeiras, os calceteiros e a calçada portuguesa, os trolhas e os galegos nas mudanças, tudo estimula o estudo da cidade de Lisboa no inicio do século XX.

Funeral em Lisboa, Rua de São Mamede.

Fotografou o exército português: a cavalaria, a infantaria, a artilharia nos quartéis e em manobras. Fotografou a marinha, os marinheiros e os seus barcos: o Douro, o Vasco da Gama, o Almirante Reis, o Tejo, o D. Amélia e o Dom Luís. Um grande número de fotografias da família real portuguesa, D. Carlos, D. Amélia, D. Afonso e D. Manuel II. Em alguns dos negativos em actos oficiais mas, noutros negativos em situações menos formais ou pousando desportivamente para a câmara. D. Manuel II simulando esgrima ou com uma raquete de ténis na varanda do Palácio da Pena. Os primeiros republicanos, da carbonária como António Maria da Silva até ao primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga na varanda do Palácio de Belém. 

Imigrantes na Estação do Rossio.


A colecção conta também com retratos de António José d’Almeida, João Chagas, Magalhães Lima, Braamcamp Freire, Afonso Costa, A. de Azevedo Vasconcelos, Teófilo Braga e o Patriarca de Lisboa D. António Mendes Belo. Apesar de algumas das fotografias terem sido adquiridas a fotógrafos e estúdios fotográficos portugueses como à Foto Vasques, não é de excluir que Chusseau – Flaviens tenha estado no nosso país pelo menos até 1910. A colecção conta ainda com uma fotografia da Rainha D. Amélia, muito nova, por volta de 1872, seguramente adquirida ou oferecida ao fotógrafo. 

(Texto (excerto) da  Associação Portuguesa de Photographia) Ler todo o texto aqui

Carregadores na Calçada do Carmo.
Cena de rua em Lisboa, vendedor de cestos?.
Serventes de pedreiro? em Xabregas ou Av. 24 Julho.
Lavadeiras de roupa em Lisboa.
Lavadeiras de roupa em Lisboa.
Venda de roupas na rua. Feira da Ladra?.
Rossio.
Vista do mercado do peixe no Cais do Sodré?.


(Fotos de Charles Chusseau-Flavies e da George Eastman House)



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mais uma Feira do Livro Mais umas Viagens


Quando eu era novo (mais novo) e tinha paciência e genica, ia todos os anos á Feira do Livro, ainda me recordo da feira na Av. da Liberdade (creio que durou até 1979) mas aí não comprava quase nada, porque não tinha dinheiro. O gosto pela leitura vinha desde muito pequeno, não sei quantos anos tinha mas, recordo-me de passar os olhos pelo diário de noticias para ver as fotos, depois vieram os livros de aventura (baratinhos; colecção condor, mosquito, mundo de aventuras e outras, que trocávamos como se fossem cromos) e na adolescência os livros só de letras, como era costume dizer para distingui-los. Li muitos com 14/16 anos quando trabalhei nos Cabos Ávila em 1968/70, tinham uma boa biblioteca cheia de clássicos. A partir daí, nunca mais parei de ler regularmente e durante anos fui um frequentador habitual de alfarrabistas, da Feira da Ladra (comprei lá quase todos os Ross Macdonald antigos que tenho) e lá em casa á livros por todos os lados. Costumo pensar que podia abrir um negócio de livros em segunda mão. Muitas vezes chego a ir a Badajoz comprar livros porque os espanhóis editam muito mais que nós e melhor. 

O Grave na Feira do Livro em 1989 ou 90, mais coisa menos coisa. Recorte do Tal & Qual.

Anos mais tarde quando estive na Cinemateca,  cheguei a trabalhar vários anos a vender as edições da Cinemateca juntamente com o falecido Filipe Jacinto e outros, num pavilhão dividido a meias (para ficar mais barato) com uma daquelas editoras pequenas. A feira era e é uma festa, ia-se lá várias vezes procurando com vagar e com atenção alguma "preciosidade" que estivesse escondida no meio do muito lixo. Os "livros do dia" também eram importantes por causa dos grandes descontos e todos os anos levava-mos para casa uns sacos bem carregados. 
Mas, chega de conversa, agora deixo aqui umas sugestões para quem gosta de cinema, já que neste país pouco cinema se edita e as edições da Cinemateca servem muito bem para colmatar essa falha dos nossos editores. São as melhores coisas que saiem sobre cinema em portugal e não são muito caras, comparando com muitos livros que andam por aí.

Aqui vão algumas sugestões.

Edições da Cinemateca por ocasião dos Ciclos: John Huston, Clint Eastwood e Raoul Walsh.

Edições da Cinemateca por ocasião dos Ciclos: John Carpenter, Fassbinder e Preston Sturges.

Edições da Cinemateca por ocasião dos Ciclos:  Cinema e Pintura e Rouben Mamoulian.

Edições da Cinemateca por ocasião dos Ciclos: Western, Michael Cimino e David Cronenberg.

Edições da Cinemateca por ocasião dos Ciclos: Eram os Anos 60, 70 e 80.

 Edições da Cinemateca por ocasião dos Ciclos: Paulo Rocha e Rino Lupo.


Raridades
Catálogos dos Ciclos de Cinema Americano: Anos 30, 40, 50 e 60/70.

Estes últimos escusam de procurar porque estão esgotados á muitos e muitos anos. Ficaram na história das edições da Cinemateca e Fundação Gulbenkian e quem os tem chama-lhes uns figos.


Edições da Cinemateca Portuguesa 


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Contra o "pobrete mas alegrete"


Lisboa, Crónica Anedótica de Leitão de Barros, 1930



"Leitão de Barros recriou, como ninguém, o que mais tarde chamou o lado "pobrete mas alegrete" do "fatalismo sem revolta" do "povo ribeirinho da velha Lisboa". Sob uma aparência desenvolta (o lado "quadro vivo") o que surge nessa "crónica" é o horizonte fechado de uma cidade sem saídas, presa das suas próprias manhas e armadilhas, que não mais deixaria de insinuar-se, em filigrana ou como nota dominante, em quase todos os filmes (comédias ou dramas) que tiveram Lisboa como cenário dominante. Se houvesse que opor um desmentido cabal à lenda da "ville blanche" (cidade branca), emblema fácil e superficial do filme de Tanner dos anos 80, havia que o buscar em todos esses filmes portugueses, em que nunca se pintou cidade mais "escura" e cujo fulgurante marco inicial é o filme de Barros, certamente um dos mais desapiedados olhares de nós próprios sobre nós próprios." 
João Bénard da Costa, Histórias do Cinema, col. Sínteses da Cultura 
Portuguesa, Europália 91, ed. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1991.


Lisboa, Crónica Anedótica (1930), dirigido por Leitão de Barros, foi uma grande realização, contando com uma das melhores 
equipes técnicas até então montadas no país. Este filme é considerado como uma das obras-primas do cinema de Português.


"Não se pode deixar de referir um conjunto de apontamentos ligados a esses actores, velhos e novos, que ainda hoje dão ao filme a sua graça, já que a ficção envelhece menos que o documento: o saloio Estevão Amarante olhando os manequins na montra e replicando ao aviso da empregada Josefina Silva "Não pode ver sem tocar?" com o imediato "Eu até era capaz de tocar sem ver!"; Nascimento Fernandes e as suas mãos maravilhosas seduzindo com boquinhas e piscadelas de olho as bonitas condutoras de automóveis; Vasco Santana e Costinha, no eléctrico do Campo Grande, às voltas com um burro que impede a passagem; o grande Chaby Pinheiro, na sua única aparição cinematográfica, no papel de um vendedor da Feira da Ladra que mostra um corno aos compradores; Alves da Cunha, num momento dramático no Arsenal da Marinha, uma das melhores descrições de ambiente operário do nosso cinema; Teresa Gomes na inenarrável cena de "peixeirada" da Praça da Figueira, com evidentes alusões eróticas de peixes e alhos; Erico Braga, galã convencional, descendo a Avenida da Liberdade no seu carro e declarando-se às bonitas transeuntes; o conto do vigário da bilha quebrada, com Perpétua Santos." 
(Luís de Pina, in História do Cinema Português, ed. Europa-América, col. Saber, 1986.)


Chaby Pinheiro (1873-1933)


Para quem não saiba, Chaby Pinheiro foi um dos maiores actores de teatro, revista e até do cinema mudo em Portugal. Actor de um teatro que alguns críticos classificam como ligeiro, Chaby Pinheiro foi também intérprete de peças que os teatrólogos ortodoxos classificam como mais respeitáveis, da autoria de Henrik Ibsen (1828-1906) e Émile Zola (1840-1902).

 Postal do filme encontrado na net com Chaby Pinheiro e Beatriz Costa.

Postal do filme encontrado na net com Chaby Pinheiro. 

Da sua vida e da sua relação com amigos e actores ficaram registados diversos episódios pitorescos, como este que se transcreve da obra de Beatriz Costa (1907-1996), Eles e Eu (1990):


"O grande actor Chaby Pinheiro tinha uma especial admiração por Ângela Pinto, que foi a maior artista da sua época. Ângela, sempre que se referia a Chaby, chamava-lhe o «cara de cu». Um dia o grande artista chamou-a e fez-lhe sentir a vulgaridade do seu vocabulário: «Ângela, tu és uma artista amada e respeitada pelo povo, não o podes desiludir com as tuas irreverências. Acaba com essa brincadeira de, em pleno Chiado, de um passeio contrário, dares um grito: 'Adeus ó cara de cu...' » Ângela, que era humilde, como o devem ser todos os famosos, ouviu e passou a respeitar o seu mais que ilustre colega. Um dia ao passar no Rossio viu Chaby numa esplanada a chupar uma carapinhada por uma palhinha cor-de-rosa... Olhou e não aguentou aquele espírito extraordinário, que foi só dela, numa gargalhada, para que ele ouvisse, atirou com esta: «... a tomar o seu semicupiosinho!...» Sobre a Ângela Pinto existem centenas de respostas e anedotas. Não creio que tudo seja autêntico..." 
(In, blogdaruanove.blogs.sapo.pt)


Beatriz Costa numa foto "rara", sem a franjinha que depois usou durante toda a sua vida. 
(foto da colecção Gulbenkian)