Mostrar mensagens com a etiqueta Salazar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Salazar. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Salazar por Fernando Pessoa

"Politicamente, só existe aquilo que o público sabe que existe."
António de Oliveira Salazar na inauguração do S.N.I. em 1933.



Salazar, capa da TIME em 1946: «Após 20 anos de Salazar (o decano dos ditadores 
da Europa), Portugal é uma terra triste de pessoas pobres, confusas e assustadas...» In TIME.



Fernando Pessoa - António de Oliveira Salazar
s.d., em Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa.
1ª publ. in Diário Popular, Lisboa, 30 Maio e 6 Junho 1974


António de Oliveira Salazar
Bernard Hoffman veio a Portugal em Julho de 1940, fazer uma reportagem para a LIFE.
A Exposição do Mundo Português tinha sido inaugurada (em plena 2ª Guerra Mundial)
 um mês antes. Hoffman não tirou qualquer foto dela (pelo menos eu não encontrei).
Pode ver as fotos dessa reportagem da LIFE, neste post mais antigo carregando aqui.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
Água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...
Em 04 de Julho de 1937, Salazar escapou por um triz (infelizmente) a um atentado
organizado por um grupo de anarquistas. Revista Ilustração 16-07-1937.

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.
Mas afinal é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
 1938, um ano antes de começar a guerra, Salazar organiza uma caçada em
Mafra para membros do Corpo Diplomático. Revista Ilustração 16-07-1937
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.




SIM, É O ESTADO NOVO

Sim, é o Estado Novo, e o povo
Ouviu, leu e assentiu.
Sim, isto é um Estado Novo
Pois é um estado de coisas
Que nunca antes se viu.
Em tudo paira a alegria
E, de tão íntima que é,
Como Deus na Teologia
Ela existe em toda a parte
E em parte alguma se vê.
Há estradas, e a grande Estrada
Que a tradição ao porvir
Salazar, anos 50.  Foto de Rosa Casaco, um Pide. Encontrada na net.
Liga, branca e orçamentada,
E vai de onde ninguém parte
Para onde ninguém quer ir.
Há portos, e o porto-maca
Onde vem doente o cais.
Sim, mas nunca ali atraca
O Paquete "Portugal"
Pois tem calado de mais.
Há esquadra... Só um tolo o cala,
Que a inteligência, propícia
A achar, sabe que, se fala,
Desde logo encontra a esquadra:
É uma esquadra de polícia.
Visão grande! Ódio à minúscula!
Nem para prová-la tal
Tem alguém que ficar triste:
União Nacional existe
Mas não união nacional.
E o Império? Vasto caminho
Onde os que o poder despeja
Conduzirão com carinho
A civilização cristã,
Que ninguém sabe o que seja.
Com directrizes à arte
Reata-se a tradição,
E juntam-se Apolo e Marte
No Teatro Nacional
Que é onde era a inquisição.
E a fé dos nossos maiores?
Forma-a impoluta o consórcio
Entre os padres e os doutores.
Casados o Erro e a Fraude
Já não pode haver divórcio.
Que a fé seja sempre viva.
Porque a esperança não é vã!
A fome corporativa
É derrotismo. Alegria!
Hoje o almoço é amanhã.
s.d.


Salazar - Um cadáver emotivo


Salazar
Um cadáver emotivo, artificialmente galvanizado por uma propaganda...
Duas qualidades lhe faltam — a imaginação e o entusiasmo. Para ele o país não é a gente que nele vive, mas a estatística d'essa gente.
Soma, e não segue.
1932?
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa.
(Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes)
Lisboa: Livros Horizonte, 1993.  - 221.


D. Maria chorando no velório de Salazar. 1970. Foto da net.



“passou a época da desordem e da má administração; temos boa administração e ordem. E não há nenhum de nós que não tenha saudade da desordem e da má administração.”

(Fernando Pessoa, 1935)


Fernando Pessoa (1888-1935)




domingo, 18 de novembro de 2012

Portugal 1940 - Fotos de Bernard Hoffman 2

"O português paga calado cada prestação
Para banhos de sol nem casa se precisa
E cai-nos sobre os ombros quer a arma quer a sisa
E o colégio do ódio é a patriótica organização"
Ruy Belo 


A Mocidade Portuguesa vista por Bernard Hoffman. 1940.


Bernard Hoffman com a sua câmara na Praça do Comércio e em foto da wikipedia.


Bernard Hoffman (1913-1979), foi um fotógrafo americano, que trabalhou para a LIFE durante 18 anos. Ficou conhecido como o primeiro fotógrafo americano em Hiroshima e Nagasaki depois da bomba atómica ter sido lançada em 1945. Já tinha publicado várias fotos suas num post em 2011 (as melhores, em minha opinião) VER AQUI desta viagem de Bernard Hoffman e da LIFE a Portugal. Em 1940 (entre junho e julho), Bernard Hoffman esteve em Portugal durante cinco semanas fazendo um trabalho fotográfico para a LIFE e era acompanhado por um editor e uma jornalista. 


 Três da nove páginas da reportagem da LIFE. Julho 1940.


Essa reportagem foi publicada em 29 de julho de 1940, e era bastante extensa (9 páginas) e depreende-se que a reportagem foi feita a convite? do governo de Salazar, tendo Bernard Hoffman e os outros, sido acompanhados desde os EUA, pelo Dr. Celestino Soares (que a LIFE diz ser um autor português e conferencista) que estava na América em uma missão para o governo português. 


Vista dos Açores antes de aterrar e policia açoriano olhando o interior do hidroavião (Pan American Clipper). 1940.


Viajaram desde Nova York num hidroavião (seria a inauguração de uma carreira regular?) de que a LIFE fez também uma extensa reportagem. Em Portugal o pessoal da LIFE passeou por onde quis, sem limitações (vê-se pelas fotos), sempre acompanhados pelo tal Celestino Soares e pelo ministro da propaganda (seria o António Ferro?) para todo o lado (é a LIFE quem o diz). 


 Hotel Aviz em Lisboa. Onde é hoje o Hotel Sheraton e o Imaviz. 
E Palácio do Buçaco. 1940.


“a opinião pública é indispensável ao governo dos povos, constitui por vezes um grande estimulante, 
mas nunca se deve perder, a bem da sua própria saúde, o controle da sua formação” (Salazar)

Salazar e Cerejeira: "O Roque e a amiga"; Estes dois mandavam em Portugal. 1940.


Convém não esquecer que estávamos em plena 2ª guerra mundial. O mais certo era que já tinham chegado a acordo sobre a base das Lages e tudo isto fazia parte de uma "limpeza" da imagem do regime de Salazar. Bernard Hoffman disse na LIFE, que gostou de quase tudo, excepto dos condutores de automóveis, que conduzem nas estreitas estradas a alta velocidade e que encontrou nos portugueses as pessoas mais simpáticas e hospitaleiras com quem ele já conviveu, e se ele não tivesse estado muito ocupado, poderia ter aceitado convites para almoço e jantar todos os dias. Mas isso agora não interessa nada. O que interessa é que Bernard Hoffman esteve em Portugal, fez fotos, mas é pena que não tenha deixado indicações sobre os locais em muitas delas.


 Mosteiro da Batalha e Castelo de Guimarães. 1940.


 Pórtico do Mosteiro dos Jerónimos e barcos no Tejo com vista de Lisboa. 1940.


 Praia de Cascais e Cemitério dos Prazeres. 1940.


 O Elevador da Bica por Bernard Hoffman. 1940. Creio que já a tinha publicado.


Cais no rio Tejo (creio que ficava na zona de Cabo Ruivo), onde o hidroavião ficou ancorado, após o voo de 23 horas desde Nova York até Lisboa (parando nos Açores, para abastecimento). 1940.


 Palácio Marquês de Fronteira. Havia mais fotos destas e da família muito bem que lá vivia? 1940.


Maria Domingas, segundo a LIFE: Top movie star Maria Domingas, smiling. 1940.


(Fotos Bernard Hoffman e LIFE Archive)


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A inauguração da Quinta da Calçada em 1939

A inauguração do Bairro da Quinta 

da Calçada em 05 de Fevereiro de 1939


Andei meses a tentar saber qual a data da inauguração do Bairro da Quinta da Calçada, porque se havia fotos tinha de haver um dia da inauguração, e no sábado depois de várias horas a consultar documentos antigos, lá consegui saber um bocado ao acaso. A data foi dia 05 de Fevereiro de 1939. Agora só falta saber a data certa em que acabou para ficarmos a saber quanto tempo durou o bairro onde muitos de nós nascemos e crescemos, para o bem e para o mal. Pelas minhas contas o nosso bairro teve quase 60 anos, já que acabou nos anos 90 mas não sei em que ano; pode ser que algum de vós saiba. Não esqueçam: para lerem as palavras, ou verem as imagens maiores cliquem sobre a imagem.



Salazar e o Eng. Duarte Pacheco á conversa no Bairro da Quinta da Calçada em 05 de Fevereiro de 1939.



Estava a consultar o documento da esquerda no domingo passado, que se chama: Anais do Município de Lisboa 1938-1964, onde retirei esta parte de um relatório de 1939 mas, referente ao ano de 1938, do presidente da câmara da altura que se refere ao Bairro das Minhocas e á Quinta da Calçada, onde se pode constatar que as primeiras casas foram feitas em 1938. Depois resolvi continuar á procura e já no fim do documentos encontro umas páginas chamadas efemérides, onde a certa altura encontro uma referencia á inauguração da Quinta da Calçada com o dia e uma breve discrição, (imagem da direita). Ora sabendo a data podemos ir á procura de noticias em jornais antigos, foi o que fiz, alguns consultei na net e encontrei a noticia do Diário de Lisboa, mas lembrei-me de consultar um serviço da câmara, chamado Hemeroteca e que tem jornais antigos que podemos consultar e comprar as partes que nos interessam. Pedi á Hemeroteca para procurar todas as noticias referentes á inauguração e responderam que tinham um monte de noticias, comprei todas (ficou-me por 17 euros, que se lixe, antes aí que na farmácia), nem tive que lá ir, tratei tudo por mail. Hoje vou colocar duas noticias dos jornais mais importantes da época, depois irei colocando as outras.


Noticias no dia seguinte á inauguração em dois dos jornais mais importantes da época, Diário de Noticias e jornal O Século.


Lanche distribuido ás crianças da Quinta da Calçada, no dia da inauguração em 05 de Fevereiro de 1939.



(fotos Arquivo Fotográfico da CML)



domingo, 20 de março de 2011

Joana Pontes 1

Coisas lá de Casa



Joana Pontes é licenciada em Psicologia. Fez estudos de cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema do Conservatório Nacional de Lisboa e de Realização/TV Production com a BBC. Foi realizadora da SIC entre 1992 e 2002, onde assinou as séries documentais “Século XX Português”, “Salazar”, “20 anos, 20 nomes” e “A Hora da Liberdade” (documentário de reconstituição histórica do dia 25 de Abril de 1974). Desde 2002, realizou os documentários “O Escritor Prodigioso”, um filme sobre a vida de Jorge de Sena e “Estórias da Pintura”, este com autoria de Diana Andringa. É co-autora e realizadora das séries documentais “Portugal, um Retrato Social” e “50 Anos de Televisão em Portugal” (RTP, 2007). Foi consultora da RTP para a área dos documentários e Professora convidada da Escola Superior de Comunicação Social, Universidade de Santiago de Compostela, entre outras. É actualmente doutorada em História na Universidade de Lisboa.


Fotos das Filmagens de A Hora da 
Liberdade de Joana Pontes (1999)





A tropa está na rua mas é a polícia que manda. Cortam ruas, controlam o trânsito, apontam vias alternativas. No Terreiro do Paço amontoam-se chaimites, militares fardados com velhas roupas e câmaras de televisão. A SIC está a filmar o 25 de Abril. "Não vamos a casa há dois fins-de-semana", queixa-se o soldado Rodrigues, recrutado para fazer de figurante nesta versão virtual da Revolução dos Cravos, e que desde as seis da manhã aguardava ordens em frente ao rio Tejo. 
(in, Escola Secundaria Ponte de Lima Biblioteca/Mediateca)




A rodagem, que começou no dia 13 de Janeiro e se prolongou até ao dia 28 de 1999, contou com a colaboração, material e logística, do exército. Tudo para comemorar os 25 anos do 25 de Abril em grande estilo e em tempo real. A estação de Carnaxide é assim: se em 1974 não esteve lá para filmar a Revolução, em 1999 criou uma Revolução para filmar. A expressão é da directora de produção: trata-se de uma "reconstituição à hora real".A SIC interromperá a sua programação habitual às 23 e 40 para colocar no ar a canção de Paulo do Carvalho E Depois do Adeus. Foi o tema-senha para o despoletar da Revolução e foi, o tema que despoletou uma emissão marcada pelos acontecimentos - chave do 25 de Abril de 1974. Ao longo do dia, desde a saída de Salgueiro Maia de Santarém até à ocupação do Terreiro do Paço, da entrada dos revoltosos em Lisboa à tomada do Quartel do Carmo, todos os momentos foram recriados, à mesma hora a que se passaram há 25 anos, pelas câmaras da SIC. 
(in, Escola Secundaria Ponte de Lima Biblioteca/Mediateca)




Só que desta vez, os capitães são actores e os militares figurantes. Sob a direcção de João Lourenço, cerca de 60 artistas vão encarnar as personalidades fundamentais da Revolução, como Spínola, Otelo Saraiva de Carvalho, Marcelo Caetano, Jaime Neves ou Salgueiro Maia. E de que forma se chegou ao guião final? Fazendo entrevistas com os verdadeiros protagonistas dos acontecimentos e cruzando diversas informações. João Lourenço reconhece a inevitabilidade da escolha e a necessidade de optar por uma versão da Revolução dos Cravos, na medida em que os depoimentos "nem sempre são coincidentes", mas acredita que esta versão vai ser a "versão correcta". 

(in, Escola Secundaria Ponte de Lima Biblioteca/Mediateca)




Realizada por Joana Pontes, esta produção da SIC era para manter-se secreta, só que a chegada do exército ao Terreiro do Paço não poderia passar despercebida. Dois enormes tanques M-48 ("deviam ser M-47", explicava um oficial, "só que já não há em funcionamento") ocupavam a Ribeira das Naus. Avançavam e recuavam para marcar posições, um técnico de som apontava os microfones para as potentes lagartas, repetiam-se ensaios, davam-se ordens por megafones, uma grua subia e descia. E o coronel Ferreira de Sousa, no 25 de Abril de 1974 foi o tenente que ocupou o Cristo Rei, resumiu da melhor forma tanta demora: "Dá mais trabalho estas filmagens do que fazer o 25 de Abril." 

(in, Escola Secundaria Ponte de Lima Biblioteca/Mediateca)