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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Angola 1961

A ideia deste post surgiu das fotos que descobri na Life Archive feitas por James Burke entre 04 de fevereiro e 17 de fevereiro de 1961, que foi quando se publicou a reportagem da Life Magazine. Pode-se concluir que James Burke estava em Luanda (como se diz no texto abaixo) e fez esta série de fotos enquanto estava à espera do paquete Santa Maria que tinha sido tomado de assalto em águas internacionais, nas Caraíbas por Henrique Galvão entre outros a 02 de janeiro de 1961 e que rumava a Luanda mas, afinal não veio porque tinha sido cercado por navios de guerra americanos e forçado a ir para Recife no Brasil. Ver post sobre o Santa Maria aqui.


 Noticias no Diário de Lisboa em 4, 5 e 6 de fevereiro de 1961.
 Clique para poder ler.


A 4 de Fevereiro de 1961, teve lugar a primeira revolta organizada contra o regime colonial português, com o ataque à Cadeia de São Paulo e à Casa de Reclusão, em Luanda, onde se encontravam detidos vários independentistas. (...) A acção inseriu-se nos anseios da população e na necessidade de se passar a formas de luta que respondessem à rigidez da administração colonial. (...) Os participantes no ataque foram treinados sobre práticas, por exemplo como manejar os instrumentos que seriam utilizados, principalmente catanas, ou desarmar um sentinela, segundo relatos das testemunhas. Há um dado, também ele histórico, que diversas fontes apontam como importante para este desencadear da revolta, que foi a presença de vários jornalistas estrangeiros em Luanda. A imprensa internacional aguardava a chegada a Luanda do paquete Santa Maria, assaltado nas vésperas por Henrique Galvão num gesto contra o regime fascista de Oliveira Salazar. O Santa Maria não aportou em Luanda e os jornalistas estrangeiros preparavam-se para levantar âncora quando, no meio popular surgem alguns elementos a aproveitar a presença da imprensa internacional para dar destaque mundial a uma acção de revolta anti-colonial. Assim terá nascido, há 50 anos, o 4 de Fevereiro de 1961. 
(In, angola-luanda-pitigrili.com)


  Noticias no Século e Diário de Lisboa em 6 e 7 de fevereiro de 1961. 
Clique para poder ler.


No livro “Angola 61, Guerra Colonial: causas e consequências”, (de Dalila Cabrita e Álvaro Mateus) são abordados em detalhe dois momentos fulcrais da guerra colonial em Angola: o 04 de fevereiro de 1961 e o 15 de março desse mesmo ano.
A 04 de Fevereiro foi quando um grupo de centena e meia de angolanos atacam uma esquadra e outras baluartes do regime, em Luanda, e o 15 de Março marca o início dos ataques sangrentos às fazendas organizados e levados a cabo por elementos da União dos Povos de Angola (UPA).
Sobre as duas datas, Dalila e Álvaro Mateus sustentam que o 04 de Fevereiro terá saído de “uma sociedade organizada por Domingos Manuel Agostinho” é de facto o romper com o colonialismo “um movimento nacional, já com a ideia da independência, em que não há distinção sobre a que movimento ou etnia pertencem os membros do grupo”. (In, angola-luanda-pitigrili.com)






Mas o «4 de Fevereiro» não iria acabar na manhã desse dia. Dias depois, logo após os funerais das vítimas, grupos de civis brancos organizavam autênticas batidas pelos musseques da periferia de Luanda e provocavam a morte a centenas de pessoas. Uma semana depois, o «filme» era retomado, mas em menor escala. Novos tumultos nas cadeias faziam sete mortos, todos presos, e mais 17 feridos. E novas incursões dos mesmos grupos de civis deixavam um lastro de sangue e provocavam um número elevado de vítimas mortais que nunca chegou a ser contabilizado. 



No intervalo dos dois ataques, o governador-geral de Angola, Silva Tavares, resolvia fazer uma incursão pelos musseques — ou «bairros excêntricos», como eram descritos pela imprensa em Lisboa — acompanhado pela polícia e por jornalistas previamente escolhidos. Silva Tavares pretendia assim demonstrar que a situação se encontrava calma. Logo a seguir à visita, o governador lia uma mensagem, na Emissora Nacional, garantindo que reinava a calma em Luanda e recomendando às pessoas para acatarem as ordens e recomendações da polícia. 
(In, angola-luanda-pitigrili.com)




Reportagem de James Burke para a LIFE Magazine em 17 de fevereiro de 1961.


(fotos James Burke e LIFE Archive)





domingo, 2 de outubro de 2011

Assalto ao Santa Maria, 1961


O Fim da Aventura


2 de Janeiro de 1961 - Assalto ao Santa Maria


«Na madrugada de 22 de Janeiro de 1961, o paquete de luxo Santa Maria, da Companhia Nacional de Navegação, é tomado de assalto em águas internacionais, nas Caraíbas, pelo comando único do Directório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL), desencadeando a “Operação Dulcineia” . O projecto da “Operação Dulcineia” – nome expressivo da luta da dama amada, a Liberdade – foi concebido pela DRIL, organização de resistência antifascista estruturada para a acção directa armada.



Henrique Galvão esperando por Humberto Delgado nas escadas do Santa Maria. Foto 
copiada da reportagem de 7 páginas da LIFE: "Last tense days on Santa Maria" - 10 Fev 1961. 


Criada na Venezuela, em Janeiro de 1960, congregava exilados da União dos Combatentes Espanhóis, pelo lado espanhol, e do Movimento Nacional Independente, delgadista, pelo lado luso. O plano da primeira iniciativa conjunta, congeminada pelo capitão Henrique Galvão (delegado plenipotenciário do general Humberto Delgado), consistia no desvio de um navio para ocupação da ilha espanhola de Fernando Pó, de onde se partiria para Angola rastilho de um levantamento insurreccional contra as ditaduras ibéricas. O dia D do embarque, inicialmente previsto para 14 de Outubro, foi por três vezes adiado, devido a imprevistos financeiros e pessoais. Finalmente a 20 de Janeiro de 1961, insinuam-se vinte operacionais, entre os seiscentos passageiros que embarcam no porto venezuelano de La Guaira, aos quais se juntarão, no dia seguinte, em Curaçao, os restantes quatro membros do comando operacional. A bordo vai ainda uma tripulação de trezentos e cinquenta indivíduos. Na tomada do navio regista-se um único incidente, uma troca de tiros na ponte, resultando a morte de um oficial e no ferimento grave de um outro.

O Santa Maria rodeado de barcos e aviões de guerra americanos. 1961.


A operação, contudo, restringe-se à sua primeira fase – a tomada do navio – em consequência da opção humanitária de evacuação de dois enfermos e também da divergência táctica entre os capitães Henrique Galvão e Jorge Sottomayor – comandantes dos grupos luso e espanhol, respectivamente – quanto à liderança da investida na ponte. Esta divergência determinou um contratempo, decisivo para a mudança de rota e saída do espaço caribenho durante essa noite, rumo a África. A revelação da acção, após dois dias e duas noites de incógnita, suscita uma contenda jurídica de direito internacional. O Governo português inicia uma campanha condenatória da empresa, apodando-a de “pirataria internacional” instigada pela conspiração comunista. Invoca as contrapartidas da NATO para pressionar os governos dos países aliados, como a França, Inglaterra e EUA, a agir em retaliação. Desde logo a França não adere ao pedido, mas a Inglaterra e os EUA, num primeiro momento convergem tacitamente, enviando vasos de guerra, e aviação para interceptar o navio sequestrado. A contestação da oposição trabalhista pressiona, contudo, a retirada britânica. Por outro lado, Kennedy, recém-eleito presidente dos EUA, apostado na mudança da política norte-americana para com Portugal, por causa da questão colonial, não dará ordem de abordagem do “Santa Liberdade” (novo nome do navio).


O Santa Maria a caminho do Recife, Brasil. 1961.


Nas mensagens transmitidas via rádio, especialmente dirigidas à opinião pública norte-americana, Galvão sustenta uma atitude de beligerância política e apela à não ingerência de países terceiros. O carácter surpreendente do fenómeno dá-lhe forte impacte mediático, aumentando extraordinariamente a sua repercussão internacional. A tese de Salazar perdia terreno na cena mundial, e à condenação inicial sucede leitura politica dos acontecimentos favorável aos propósitos anti-ditatoriais dos ocupantes. De 27 a 31 de Janeiro decorrem negociações entre o comando rebelde e representantes de Kennedy para o desembarque dos passageiros, muitos deles norte-americanos. Permanece o navio ao largo do Recife, em águas internacionais, enquanto não cessa funções Kubitchek de Oliveira presidente brasileiro desfavorável às pretensões dos insurrectos. O comando operacional recebera assessoria jurídica do embaixador Álvaro Lins e a promessa do futuro presidente do Brasil, Jânio Quadros, de apoio político. Só a 1 de Fevereiro, após o empossamento deste, se encetam conversações com os representantes brasileiros. A 2 de Fevereiro dá-se o desembarque de passageiros e tripulação. O dia seguinte culmina com a adesão dos activistas a um acordo com as autoridades brasileiras para a entrega do navio ao Brasil em troca de asilo político. A forte repercussão mundial dos propósitos políticos de Galvão, Delgado e seus companheiros e o isolamento externo a que se vê remetido o Governo de Lisboa no caso Santa Maria, deixam adivinhar, nesse Janeiro de 1961, o início de um ano critico para o regime, tanto no plano interno como no plano internacional.» 
(Fernando Rosas e José Maria Brandão de Brito, In: avenidadaliberdade.org



O Santa Maria na chegada ao Recife, Brasil. 1961.


Relato e fotos dos militares americanos. Aqui