de
João Bénard da Costa
Noli me tangere, Tiziano, 1511-1512, Óleo sobre Tela, National Gallery, London. |
"Ouvia histórias de espantar. Familiares ou amigos mais distantes contavam-me como na província era bom: a visita do padre a todas as casas, ou um calicezito para o senhor abade, a roupa a corar, as casas todas a cheirar a enceradinho e a lençóis doces. Muitos bolos com nomes apetitosos. Hoje, ainda, pessoas com grandes talentos manuais passam a semana a amassar folares. Trago-os para ao pé de mim, mas sem grande sucesso, que nunca foram muito lá de casa e parecem abetos em mansões de presépios.
Em Lisboa, não havia nada disso. A tarde da Páscoa era tarde triste e o coração apertava-se a pensar no terceiro período, normalmente tão pequenino.
Em Lisboa, não havia nada disso. A tarde da Páscoa era tarde triste e o coração apertava-se a pensar no terceiro período, normalmente tão pequenino.
Pensando bem, acho que há uma razão para isso. No Natal, festeja-se o nascimento do Menino Deus. Presépio, palhinhas, reis magos. Tudo coisas que puxam à família e à verdade. Na Páscoa, mesmo que soubéssemos que era a maior das festas, misturava-se a morte e a vida, a Cruz e a pedra retirada do sepulcro. O corpo de Cristo, ressuscitado, impunha uma distância que nem era muito espírito nem era muito carne, por maior que fosse o mistério." (excerto do texto de João Bénard da Costa, in, Público, 08-04-2007)
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