terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Cinemas onde vi filmes: Odéon

Fachada do Odéon nos anos 60. Foto Estúdios Novais e Fundação Calouste Gulbenkian.


Só fui ao Odéon umas duas ou três vezes no fim dos anos 60, princípios dos 70, e o que me ficou na memória foi o cheiro a creolina ou algo do género, que ou era das casas de banho ou de algum produto com que lavavam o chão. Isso fez com que não tivesse muita vontade de lá entrar. Os filmes eram muito maus (digo eu agora), e outra coisa que recordo era que passavam muitos filmes portugueses antigos em reposição. Por os anúncios que encontrei, podem ver que tipos de filmes passavam nos anos 60 a 80 e acabou a passar filmes porno ou quase. Actualmente existe uma polémica sobre se o Odéon vai ser um centro comercial ou não, desde que não o mandem abaixo ou destruam as coisas de valor que tem no interior e na fachada por mim, podem fazerem o que quiserem, até uma pista de ciclismo já que o presidente da câmara gosta tanto.


Foi aqui que o Odéon foi construido. Drogaria Ferreira, 
casa fundada em 1755. Início sec. XX. Alberto Carlos Lima.

Inauguração do Odéon em 21-09-1927, anúncio no Diário de Lisboa.


«O Cinema Odéon que se situa na Rua dos Condes, eixo nobre da cidade, em frente ao lisboeta Olympia, foi fruto de um projecto de 1923, pelo construtor Guilherme A. Soares. Abriu portas a 21 de Setembro de 1927, com A Viúva Alegre, de Stroheim e durante largos anos, estabeleceu laços fortes com a sala do Trianon Palace, sua contemporânea, de 1930, partilhando ambos a mesma cópia de filme. Em 1931, foi modernizado com as expressivas galerias metálicas, salientes da fachada, muito decorativas, com os seus rendilhados de vidros coloridos, que quase apagam o desenho ao estilo clássico do edifício. Estilo esse que é ainda visível no piso superior e, principalmente, na esquina com a Rua das Portas de Santo Antão. Destaque ainda, para o janelão que ocupa dois andares, sobre balcão semi-circular, assente em métopas que enquadram o nome Odeon. O interior é notável pela sua grande cobertura em madeira escura, pelo seu palco de frontão Art Deco, pelos sumptuosos e volumosos camarotes e pelo lustre central, irradiando néons. » 
(excerto do texto de Liliana Garcia in, suggia.weblog.com.pt)




ODÈON
por
Manuel Félix Ribeiro

Clique para poder ler; esta é a informação mais segura para saber coisas sobre os antigos cinemas de Lisboa, foi escrito por Manuel Félix Ribeiro,  e tem o nome: Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa 1896 - 1939. Está esgotado há muitos anos e devia ser reeditado. 


Lista dos filmes para estreia na época de 1948-1949 e Planta do Cinema Odéon; em Plantas e Programas dos Cinemas de Estreia em Lisboa. Esta publicação de 1948 era distribuída pela companhia de seguros Mundial Confiança aos clientes. O Cinema Palácio foi o antecessor do Avis e antes de se chamar Palácio, tinha o nome de Trianon e devia pertencer á mesma empresa, razão pela qual alguns dos filmes que passavam no Odéon também passavam no Palácio.


Teatro no Odéon nos anos 50



O Odéon fez em 1950, várias tentativas para encontrar outro público e apresentou alguma peças de teatro ás 18h, geralmente peças com poucos actores. Mas, a coisa não pegou porque em 1951 já não encontrei rasto de teatro no Odéon. E foi por aí abaixo até fechar; veja-se o tipo de filmes que apresentavam durante as décadas seguintes. 


Filmes que passaram no Odéon nos anos 60






Filmes que passaram no Odéon nos anos 70 



Filmes que passaram no Odéon nos anos 80 





O Odéon em foto de 1990/91, pouco antes de fechar definitivamente. Michel Waldmann.

(Fotos do Arquivo Fotográfico da CML)




Ingrid Bergman

"Felicidade é ter uma boa 

saúde e uma péssima memória"


“Existem apenas uns sete astros de cinema, cujo nome, sozinho, faz com que banqueiros americanos emprestem dinheiro para a produção de filmes, e a única mulher na lista é Ingrid Bergman”. (Cary Grant, anos 40)


Ingrid Bergman durante as filmagens de Elena et les hommes (Helena e os Homens, 1956) de Jean Renoir. 1956. Thomas D. Mcavoy.

«Ingrid Bergman (1915-1982) foi uma grande actriz sueca, senhora de uma beleza extraordinária, que na época em que o cinema de Hollywood ainda criava e se alimentava de mitos e de divas, ela — mesmo contra todas as evidências iniciais — tornou-se uma das maiores de sempre. Mas a carreira de Ingrid Bergman em Hollywood está pontilhada de atitudes firmes e paixões tórridas.


Ingrid Bergman olhando para o que tinha de vestir no filme Joana d'Arc (Joana d'Arc, 1948) de Victor Fleming. 1947. Allan Grant.

Um exemplo é a forma como ela se transferiu do cinema sueco para o de Hollywood. Otto Friedrich conta, em "Hollywood nos Anos 40", que David Selznick tomou conhecimento da existência de Ingrid por um ascensorista sueco que trabalhava no prédio onde funcionavam os escritórios de Kay Brown, representante do produtor em Nova York. O ascensorista contara à mulher de Brown que seus pais tinham ficado comovidos com um novo filme sueco, Intermezzo, e em especial com a heroína, uma jovem de 21. Kay Brown foi ver o filme e relatou ao patrão que a jovem actriz era "tudo o que havia de melhor". Selznick estava acostumado com os entusiasmos dela (foi a senhorita Brown quem insistiu em vão para que ele comprasse os direitos de Gone with the Wind (E Tudo o Vento Levou)). Disse-lhe que comprasse a história, não a moça. Ela comprou as duas, conta Friedrich. 


 Ingrid Bergman e Gary Cooper durante a rodagem do filme Saratoga Trunk (1945) de Sam Wood. 1943. John Florea.

Ingrid Bergman com Fernandel durante as filmagens de Elena et les hommes (1956) de Jean Renoir. 1956. Thomas D. Mcavoy.

Quando recebeu Ingrid pela primeira vez, Selznick iniciou um desfiar de insatisfações. Primeiro, implicou com a altura da actriz. "Meu Deus! Tire os sapatos!", lamentou-se ele, ao que ela retrucou que não iria adiantar nada, já que, com ou sem sapatos, media 1,73 metro. Depois, Selznick não gostou do nome e do sobrenome da nova contratada. Ingrid era uma coisa muito sueca, ou, pior ainda, com sabor muito germânico para uma época pré-guerra. Sugeriu que "Berriman" talvez fosse um bom nome. Ou que, embora seu nome de casada, Lindstrom, não servisse, talvez "Lindbergh" fosse uma boa escolha. A senhorita Bergman resistiu a tudo isso. Disse que o nome dela era Ingrid Bergman, e quem não soubesse pronunciá-lo que aprendesse. Selznick não se deu por vencido "Bem, discutiremos isso pela manhã. Mas, quanto a essa maquilhagem, as sobrancelhas estão muito grossas, os dentes não são bons e há muitas outras coisas para eu ver. Levarei você amanhã ao departamento de maquilhagem e veremos o que podemos fazer..." A resposta da senhorita Bergman foi exemplar. "Prefiro não fazer o filme", disse a Selznick, enquanto este ponderava. "Não vamos falar mais do assunto. Não há nenhum problema. Tomo o próximo trem e volto para casa." Selznick ficou impressionado, achou graça ou qualquer outra coisa. O fato é que decidiu transformar a intransigência da senhorita Bergman em promoção dele próprio. "Você será a primeira actriz "natural", disse a ela. "Nada vai ser modificado em você. Nenhuma alteração", conta Friedrich.


 Ingrid Bergman como Maria no filme For Whom the Bell Tolls (Por Quem os Sinos Dobram, 1943) de Sam Wood. 1944. John Florea. E, como Karin em Stromboli (Stromboli, 1950) de Roberto Rosselini. 1949. Gordon Parks.


Ingrid Bergman nasceu no dia 29 de agosto de 1915 na capital sueca, Estocolmo. Classificada por muitos como a maior estrela do cinema americano, tem sua marca na Calçada da Fama, assim como tantos outros artistas da época. Aos dois anos de idade perdeu sua mãe, e passou a viver somente com o pai, o qual lhe inspirou o gosto pela arte por ser fotógrafo. Infelizmente, quando Ingrid estava com 13 anos sofreu a perda do pai. Após esse marcante episódio, viu-se obrigada a morar com a tia , e como se não bastasse as tragédias anteriores, viu a tia falecer por complicações cardíacas. Em seguida, mudou-se para casa de outra tia com a qual viveu algum tempo. Depois de entrar numa escola de Arte Dramática, estreou no cinema participando de nove filmes suecos. A partir daí, Ingrid sabia que seu futuro poderia ser muito promissor. Em 1939 foi para Hollywood e alcançou o auge participando do filme "Intermezzo", que já tinha feito na Suécia. Seu talento recebeu o reconhecimento do público e dos críticos que a contemplaram com o Óscar. 


 Ingrid Bergman em foto de estúdio e com dois dos filhos (fotos sem data ou local). Gordon Parks.


Porém , o que poucos sabiam é que, apesar de não lhe render o Óscar, seu papel mais marcante nas telas seria viver a personagem Ilsa no filme Casablanca em 1942 ao lado de Humphrey Bogart. Posteriormente apaixonou-se por Roberto Rossellini, o que na época caiu como uma bomba em Hollywood, pois ambos eram casados. Como consequência do escândalo Ingrid ficou anos sem aparecer no cinema americano. De seu casamento com Rossellini teve três filhas. Depois de 8 anos casada, divorciou-se novamente e casou-se com Lars Schimidt, porém não demorou muito para que tudo acabasse como os outros casamentos. Sua saúde já demonstrava sinais de debilitações devido a sua luta contra o cancro de mama, porém Ingrid mesmo em tratamento recusava-se a abandonar as bebidas e o cigarro, consequentemente no dia de seu 67º aniversário a doença foi mais forte do que a sua vontade de viver.»


Casablanca (1942)





«(...) Todo mundo em Casablanca estava profundamente infeliz. Humphrey Bogart, além de irritado por estar sendo obrigado a uma vez mais substituir George Raft em um papel que este havia recusado, enfrentava a ira de sua mulher na época, que o acusava de estar cortejando Ingrid Bergman e ameaçava matá-lo (comenta-se que foi essa a raiva mal contida que conferiu aquela mordacidade à sua interpretação, que proporcionou o desprezo sarcástico de algumas das falas do filme que ele tornou famosas). Já Ingrid Bergman preocupava-se com o fato de que ninguém parecia saber como o filme iria terminar. Afinal, ela ficaria com Rick ou viajaria com Lazlo? Se ninguém dizia isso a ela, como ia saber por quem estava realmente apaixonada?" Apenas interprete, bem... um meio termo", disse Curtiz. Anos mais tarde, Ingrid desabafou. "Era ridículo, horrível. (...) Todos os dias filmávamos de improviso. Todo dia nos entregavam diálogos e tentávamos pôr algum sentido naquilo. Ninguém sabia o rumo do filme." O curioso é que essa hesitação dos produtores, em relação ao destino da heroína do filme, num paradoxo, ajudou a interpretação da actriz, como ela reconheceu 30 anos depois: 
— Durante as filmagens, cheguei a me irritar. Queria saber com qual dos dois homens (Bogart ou Paul Henreid) eu ficaria. Um dia, pressionei o Curtiz: afinal, com quem vou ficar no fim do filme? Preciso passar isso à plateia. Mas ele também não sabia, e pediu que eu fosse levando a coisa de forma ambígua. Hoje percebo que o fato de eu estar indefinida em relação ao rumo da interpretação, reflectia a realidade da personagem que, na história, também está confusa sobre o seu destino. A minha dúvida de actriz, assim, se reflectiu de forma muito verdadeira no carácter da personagem.
Numa festa, no British Film Institute (que promovia uma sessão especial com trezentos convidados especiais do mundo inteiro, para comemorar o 30º aniversário de Casablanca), Ingrid Bergmann estava presente como convidada de honra. Logo depois do avião para Lisboa levantar voo, as luzes da sala se acenderam, Ingrid Bergmann subiu ao palco e, diante do microfone, ainda emocionada, ficou alguns segundos em silêncio. Por fim deixou escapar: 
— Vocês viram? Que filme bom! Risos comovidos da plateia e uma estrondosa salva de palmas pela frase espontânea e verdadeira. 
— Fazia mais de 25 anos que eu não assistia ao filme inteiro, como um espectador, que senta e presta atenção do princípio ao fim — explicou ela. — Assim, foi emocionante. E, tantos anos depois, percebi como o filme foi bem feito. A acção é intensa, o espectador não se distrai nunca. Esta, na minha opinião, é a razão principal do sucesso perene do filme. Pode ser que a infelicidade de todo o elenco tenha sido o que fez de Casablanca um sucesso. É Otto Friedrich que conta : "A incerteza de Ingrid Bergman em relação a qual dos dois heróis devia amar não era um problema, como pensava, mas sim o aspecto essencial da personagem que interpretava. E sua ansiedade quanto à possibilidade de fazer Maria em For Whom the Bell Tolls — para o qual tinham destinado, logo quem, Vera Zorina, a ajudou a retratar Ilsa com aquele ar maravilhosamente nostálgico. Quanto a Paul Henreid, que se queixava de que nenhum líder da Resistência desfilaria na Casablanca de Vichy de terno branco, saiu-se bem exactamente em função da espiritualidade ligeiramente pretensiosa implícita no tal terno branco. Até Max Steiner, encarregado de compor a música do filme, estava infeliz. Odiava As time goes by." Por sinal (talvez felizmente), Casablanca chegou ao final mais ou menos dentro do mesmo espírito. Era tanta a indecisão em relação ao final que os produtores decidiram filmar as duas possibilidades. "Iam filmar dois finais" — conta Ingrid — "porque não conseguiam decidir se eu ia viajar com meu marido ou ficar com Humphrey Bogart. Então, a primeira versão que filmamos foi aquela em que me despeço de Humphrey Bogart e sigo com Paul Henreid. E todos disseram: 'Pronto! É isso aí! Não precisamos do outro final'." 
— Tudo foi tão improvisado que acabou sendo uma surpresa para todos quando ganhamos o Óscar de melhor filme. Nunca se sabia exactamente o que seria filmado no dia seguinte — contou Ingrid Bergmann na noite do 30º aniversário do filme, em 1972, em Londres. — Havia só um esqueleto, um plano geral da película. O roteiro era refeito quase todos os dias. O diretor Michael Curtiz tinha discussões frequentes com os produtores, pois até ele tinha dúvidas sobre o que seria o filme exactamente. Pelo menos uma das dúvidas da filmagem cruzaria as décadas seguintes e ainda hoje persiste: Ilsa Lund (Ingrid Bergman) deveria ficar no final com Rick (Bogart) ou com Laszlo (Paul Henreid)? 
— Só na ultima semana de filmagens ficou decidido que eu viajaria com Laszlo, deixando Rick em Casablanca — revelou Ingrid Bergmann. — Chegamos até a filmar um final em que Laszlo viajava sozinho e eu ficava com o Rick... Não teria sido um final melhor? — perguntamos todos nós até hoje. — Não creio. Acho que elegeram o melhor. Se Laszlo tivesse embarcado sozinho, seria decepcionante. — respondeu Ingrid Bergmann, convicta. Mas nós outros sabemos que Ilsa Lund não tinha essa certeza toda, e embarcou de coração partido. 
(textos: allclassics.blogspot.com e www.ocaixote.com.br)




(fotos LIFE Archive)


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Bons e maus darwinistas

de 
Luis Fernando Veríssimo


Darwinistas bem pensantes se vêm frequentemente obrigados a explicar que aceitar tudo que Darwin disse a respeito de seleção natural, sobrevivência dos mais fortes etc. não significa acreditar que o que se aplica aos animais também se aplica aos homens. Ou seja, darwinismo social, não.

O próprio Richard Dawkins, o darwinista mais conhecido em atividade hoje, já disse em mais de um dos seus textos ser possível viver num universo amoral, o universo darwiniano em que a única regra é a vitória do que ele mesmo chama de “gene egoísta” na competição pela vida, e cobrar da sociedade humana um comportamento moral.

Darwinistas mal pensantes, claro, não precisam explicar nada. Para eles o darwinismo social justifica mercados desregulados, empreendedores aéticos e todas as manifestações do gene egoísta que tornam o capitalismo selvagem parecido com o mundo natural.

Darwin só não ganhou seu lugar na galeria dos heróis da livre empresa, ao lado do Adam Smith, porque são raros os poderosos e endinheirados que não atribuem sua boa fortuna a Deus, em vez da evolução. 


Cartoon encontrado em wordpress.com)


Mesmo antes de Darwin nos dar a incômoda notícia de que todos descendíamos de macacos (menos os meus antepassados, que foram adotados) e que pertencíamos a uma espécie tão sem caráter quanto qualquer outra, essa divisão entre o que éramos e o que pretendíamos ser já existia.

O capitalismo moderno e a moral burguesa nasceram juntos e desde então vêm coexistindo nem sempre pacificamente. Há muito tempo vivemos em dois universos simultaneamente, um em que o poder do dinheiro tudo determina, da nossa vida política à nossa digestão — com picos de ganância sem controle do capital financeiro como o que originou a crise atual —, e outro em que ignoramos esta omnipotência e nos imaginamos seres racionais e até altruístas, ou em nada parecidos com um macaco egoísta.


Uma forma do bom darwinista conciliar sua crença na evolução amoral das espécies e sua crença de que o Homem é diferente é cultivar a ideia de que o desenvolvimento da consciência humana foi, mais do que uma evolução natural, uma mudança radical na história dos habitantes deste planeta.

Como nenhum outro bicho, somos conscientes de nós mesmos, do nosso passado e dos nossos possíveis futuros. Consciência não muda o poder do dinheiro nem assegura um comportamento moral da nossa espécie — ainda. Mas nos próximos milhões de anos, quem sabe?

A evolução ainda não terminou.


(Luis Fernando Veríssimo - 18.12.2011, In, oglobo.globo.com)

Luis Fernando Veríssimo. Foto da net.




domingo, 18 de dezembro de 2011

Fahrenheit 451 de François Truffaut

Fahrenheit 451
a temperatura a que os livros começam a arder…



"Sou contra a violência e a intolerância porque elas significam confronto. É como a discussão, algo do qual não gosto. Se quero alguma coisa, o meu desejo é tão intenso que não perco tempo com discussões. Se quero partir, parto, não falo sobre isso, pois se falo os outros me impedem de partir. Para mim, quem substitui a violência é a fuga, não a fuga do essencial, mas a fuga para se obter o essencial.
Creio ter ilustrado isso em Fahrenheit 451. É um aspecto do filme que escapou a todo mundo e me parece importante: a apologia da astúcia. "Ah, então os livros estão proibidos? Então, muito bem, vamos aprendê-los de cor". É o supra-sumo da astúcia. Não me farão assinar com outros amigos cineastas um manifesto contra a censura, pois creio haver cinquenta maneiras de se enganar, de vencer a censura e de se enviar a todos os outros países um filme exactamente como se quer que ele seja. A meu ver, isso é melhor em relação à violência. Não lutarei em nome de princípios. Tenho uma ideia completamente pessimista em relação à sociedade humana na qual vivemos.” (François Truffaut)




Fotos de Paul Schutzer de François Truffaut e Julie Christie, 
durante as filmagens em Londres de Fahrenheit 451 em 1966.


«Fahrenheit 451 é um romance de ficção científica, escrito por Ray Bradbury e publicado pela primeira vez em 1953. Em 1966, François Truffaut adaptou-o para o cinema; o romance e o filme apresentam um mundo futuro onde todos os livros são proibidos, as opiniões próprias são consideradas anti-sociais, e o pensamento crítico é suprimido. O personagem central Montag (Oskar Werner) é um bombeiro cuja função é queimar livros, proibidos na sociedade do futuro. O número 451 refere-se à temperatura (em Fahrenheit) a qual o papel ou o livro se incendeia. A mulher de Montag, Linda, é fútil e superficial, e presta mais atenção na televisão "interactiva" do que no marido. Influenciado por sua vizinha Clarisse (o oposto de Linda, mas representada pela mesma actriz, Julie Christie), ele começa a guardar e ler alguns livros.


 François Truffaut e Julie Christie, durante as filmagens em Londres de Fahrenheit 451 em 1966.


Uma cena marcante do filme: uma mulher recusa-se a sair de sua casa e é queimada junto com seus livros, sendo que ela mesma acende um fósforo e inicia a fogueira. Ao se apaixonar pela leitura, Montag decide sair da corporação, mas seu último serviço é em sua própria casa, denunciado por sua esposa Linda. Durante o serviço, ele queima seu chefe, Capitão Beatty, e foge. Refugia-se no local onde outras pessoas que lêem se refugiam, representando personagens e decorando os livros, antes de queimá-los. O livro que ele começa a memorizar é de Edgar Alan Poe.» 
(texto da wikipédia e www.pco.org.br)




Capa original do livro e cartaz do filme encontrados na net.




(Fotos de Paul Schutzer e LIFE Archive)



sábado, 17 de dezembro de 2011

Orson Welles (É Tudo Verdade)

It’s All True
Orson Welles no Brasil - 1942  




A presença de Orson Welles no Brasil, e em particular no Ceará, as filmagens de It’s All True – título do filme que incorporava a saga dos pescadores cearenses e o carnaval carioca – a exploração política do episódio pelo do Estado Novo e a morte trágica de Jacaré durante as filmagens – num acidente sob suspeição -, culminando com a interrupção dos trabalhos, o que levou Orson Welles de volta ao Ceará, sem nenhum recurso, para retomar as filmagens, são situações que até hoje geram muitas especulações e algum folclore. Determinado a concluir as filmagens sobre a saga dos jangadeiros, Orson Welles, como já afirmamos, voltou ao Ceará com a idéia na cabeça e uma câmara que sequer permitia a gravação de áudio. Convivendo diretamente com os jangadeiros cearenses, Welles, arriscamos a dizer, viveu os melhores dias de sua vida: Filmava mesmo nessas condições adversas; saia para pescar com os pescadores cearenses; comeu muito peixe fresco com cerveja; contemplava o pôr-do-sol no alto das dunas; dormia em rede; estirado na esteira de vime, como diria o poeta, bebia água de coco ao cair da tarde. Certamente namorava e ainda ouvia as conversas de pescadores. (In, www.fundaj.gov.br)


As imagens são de um documentário inacabado de Orson Welles de 1942, chamado "Four Men on a Raft" (Quatro homens em uma jangada), que incorporava a saga dos pescadores cearenses e o carnaval carioca  e que tinha o título de It’s All True, (É Tudo Verdade).




Orson Welles desembarcou no Rio de Janeiro precisamente no dia 8 de fevereiro de 1942. Vinha para filmar o seu docudrama (misto de documentário e ficção) It’s All True (É tudo verdade). Welles tinha apenas 26 anos e já havia filmado o inovador Citizen Kane, e era uma lenda viva do cinema. It’s All True fora encomendado à época por Washington à RKO. A idéia estratégica do governo Roosevelt era aproximar culturalmente a América Latina dos Estados Unidos. Tanta atenção com “nosotros” devia-se ao fato de a Quinta Coluna nazi estar botando suas manguinhas de fora por aqui, enquanto Getúlio Vargas permanecia em cima do muro. 




Não havia roteiro para It’s all True, mas Welles trazia na bagagem um recorte de uma reportagem da revista Time (edição de 8/12/1941) sobre a aventura de jangadeiros de Fortaleza que viajaram até o Rio em suas jangadas para fazer reivindicações trabalhistas ao ditador Vargas. Mais tarde, o cineasta tentou reproduzir estas cenas no mar da Barra da Tijuca. A coisa terminou em tragédia, com o afogamento e morte do jangadeiro Jacaré. Não obstante, Welles criou uma pequena obra-prima em preto e branco nas praias do Ceará, Four Men on a Raft (Quatro homens numa jangada).




As filmagens de rua no Rio de Janeiro já não interessavam mais aos patrocinadores oficiais do filme. Reclamavam que Welles só filmava “crioulos, miséria e misticismo”. Já no Brasil, acusavam-no de comunista com o propósito de denegrir a imagem do país no exterior. Orson Welles, que chegou ao Brasil alardeando ser quase um brasileiro, por ter sido gerado numa viagem de seus pais ao Rio de Janeiro, dizia agora ser vítima de um trabalho de macumba no Rio. Um pai-de-santo teria trespassado o roteiro com uma agulha. A verdade é que Welles juntou-se ao ator Grande Otelo e caiu nas baladas das noites cariocas. A extravagante e mundana vida de Welles no Brasil entornou o caldo e a produção foi suspensa e o filme jamais foi acabado. (Guilherme Mansur em www.ouropreto.com.br)


Orson Welles nas ruas de Fortaleza. Foto encontrada na net.

Página do script com desenho de Orson Welles, encontrado na net.



(Fotos de Hart Preston e LIFE Archive)



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Beijos de Luis Fernando Veríssimo

de

Luis Fernando Veríssimo


Para a Joana


Luis Fernando Verissimo e Chico Buarque: bate papo em França.





Beijos
de
LUIS FERNANDO VERÍSSIMO


Queria ser um homem moderno, mas tinha alguma dificuldade com o protocolo. Por exemplo: não sabia quem beijava. Quando via aproximar-se uma conhecida do casal, perguntava para a mulher, apreensivo, com o canto da boca: “Essa eu beijo? Essa eu beijo?”. Nunca se lembrava. 
Para simplificar, passou a beijar todas. Conhecidas ou não. Quando lhe apresentavam uma mulher, em vez de apertar sua mão, beijava-a. Dois beijos, um em cada face.
– Muito (muá) prazer (muá).
Outro problema era a quantidade de beijos. Já tinha dominado os dois beijos, estava confortável com dois beijos, quando a moda passou a ser três. Um dia, a mulher comentou:
– Não sabia que você era tão amigo da Fulana (o nome verdadeiro não é este).
– Beijo todas.
– Quantas vezes?
– Quem está contando?
Às vezes, ele partia para o terceiro beijo e a beijada não esperava. Ou então esperava e ele não dava, e quando ele voltava ela já recuara. Não havia nada mais constrangedor do que oferecer a face para o terceiro beijo (ou o quarto, quando a moda passou a ser esta) e o beijo não vir. Ficar, por assim dizer, com a cara no ar enquanto a mulher se afastava, rezando para que ninguém tivesse notado. O problema da vida, pensava ele, é que a vida não é coreografada.
Aí os homens começaram a se beijar também. Tudo bem. Seu lema passou a ser: se me beijarem, eu beijo. Mas não tomava a iniciativa. Quando chegavam numa reunião, fazia um rápido levantamento dos presentes. Essa eu beijo duas vezes, essa três, esse me beija, esse não me beija, aquele já está me beijando quatro vezes...
Na outra noite, numa recepção de casamento, a mulher comentou:
– Você enlouqueceu?
– Me descontrolei, pronto.
– Você beijou todo o mundo.
– Todo o mundo estava beijando todo o mundo.
– Mas beijo na boca?
– Foi só um.
– Mas logo o padre?!
Tomado por uma espécie de frenesim, depois de beijar uma fileira de conhecidos e desconhecidos, ele dobrara o padre pela cintura e o beijara longamente, como no cinema antigo. 


(In, O GLOBO - 25/09/11)




quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Figuras e Figurões (filhos da mãe)


Primeiro as Figuras

 Eric Von Stroheim, foto sem data ou local encontrada na net.

Buster Keaton, foto sem data ou local encontrada na net.

Tennessee Williams durante as filmagens no México do filme A Noite de Iguana, a partir da sua peça The Night Of Iguana, Mismaloya, México. 1963. Gjon Mili (LIFE Archive)


Carlos Lopes na Maratona de Roterdão de 1985, em que foi o vencedor. (foto gahetna.nl)


Carlos Lopes na Maratona de Roterdão de 1985, em que foi o vencedor. (foto gahetna.nl)

Bruce Lee, foto sem data ou local encontrada na net.

 Gene Kelly ensaiando na Ópera de Paris. 1960. Loomis Dean (LIFE Archive)

A filósofa francesa Simone Weil de macacão e espingarda 
durante a Guerra Civil de Espanha, 1938. Foto encontrada na net.


Jean Cocteau desenha para a modelo Elizabeth Gibbons, vestida com um modelo Chanel em seu quarto de hotel, rodeado por cartazes da sua última obra teatral. 1937. Roger Schall. (LIFE Archive)


E agora os filhos da mãe!


O ditador italiano Benito Mussolini de pé na plataforma 
posando como se fosse um realizador. 1940 (foto LIFE Archive)


O ministro nazi da propaganda Joseph Goebbels no jardim do Carlton Hotel na Suiça, na sua primeira viagem ao exterior, durante uma reunião da Liga das Nações (precursora da ONU). 1933. Alfred Eisenstaedt. (LIFE Archive)

Um encontro de bandidos: Adolf Hitler, Francisco Franco e Wilhelm Keitel 
(general nazi), antes de uma reunião em França, 1940. (foto LIFE Archive)

Foto tirada dentro da prisão de Segurança "Mínima" de São Landsberg, quando Hitler esteve preso e aqui recebia a visita de Rudolf Hess, Germany. 1924 (foto LIFE Archive)

A cineasta alemã Leni Riefenstahl a dar um passeio com o MAL; Adolf 
Hitler e Joseph Goebbels, Germany. 1937. Heinrich Hoffman. (LIFE Archive)