sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cinemas onde NÃO vi filmes: Campolide Cinema


Campolide Cinema em 1961. 
Foto João Goulart, Arquivo Fotográfico da CML.


Segundo o site; cvc.instituto-camoes.pt: "4 DE JANEIRO 1925 - Em Campolide, é inaugurado o CINE TORTOISE, com gerência de Manuel Pinto Lello; em 1927, passou a designar-se Cinema Tenor Romão.". Mas, segundo, Manuel Félix Ribeiro, (que neste texto comete mais de um erro) a estreia do Cine Tortoise ocorreu em Dezembro de 1924. Fiz uma pesquisa, mas não encontrei referencia nenhuma no Diário de Lisboa. Só a 27 de Janeiro de 1925 é que encontrei o seu nome no cartaz dos cinemas no Diário de Lisboa. 
Ainda segundo a minha pesquisa no Diário de Lisboa, no cartaz dos cinemas de 1927, já tinha o nome de Cinema Tenor Romão, pelo menos até 26-12-1927, mas não sei quando começou, o dono era o Tenor Romão Gonçalves, figura muito conhecida na época. 
Mas, o nome CAMPOLIDE CINEMA, começou por meados de Fevereiro de 1928 como prova o cartaz dos cinemas do Diário de Lisboa de 27-02-1928 e não como vem em todo o lado, 1932. Certamente foram levados em erro por Manuel Félix Ribeiro que o afirma no seu livro, «OS MAIS ANTIGOS CINEMAS DE LISBOA 1896-1939». O que não consegui saber é quando acabou este cinema, fica para outra pesquisa.


Cartazes dos teatros e cinemas, copiados do Diário de Lisboa: à esquerda, a primeira referencia ao Cine Tortoise (1925); ao centro, última referencia ao Cinema Tenor Romão (1927); à direita, a referencia ao Campolide Cinema (1928). Clique para ler.


Cine Tortoise - Campolide Cinema por Manuel Félix Ribeiro em, 
«OS MAIS ANTIGOS CINEMAS DE LISBOA 1896-1939».


Campolide Cinema, entrada. Foto sem data, do Estúdio 
Mário Novais e Fundação Calouste Gulbenkian.

ROMÃO GONÇALVES E O DÓ DE PEITO 

Romão Gonçalves

«Como ocorre noutras cinematografias, em que a escassa produção é compensada por um vasto anedotário, deparamos entre nós - ao longo da história respectiva - com figuras pitorescas e episódios característicos, cuja evocação - além de peculiar relevância - traz por vezes elementos significativos, para iluminar outras incidências, porventura mais importantes mas ainda obscuras... É o caso de Romão Gonçalves, durante os anos ’20 do Século XX - segundo o fundador da Cinemateca Nacional, M. Félix Ribeiro - «muito extravagante e muito popular, pelas suas exuberâncias de indumentária, pelas atitudes e pela preocupação, sem grandes resultados, de ser tomado como um emérito cantor de ópera». Um nome e uma imagem que ficaram ligados a várias fitas - a primeira referenciada, Romão, Chauffeur e Mártir, feita em frente do Clube Ritz, mas que só estreou em Lisboa (Central) uma semana após o lançamento no Porto (Carlos Alberto) em FEV1920; e em JUL, a mesma sala da capital apresentava Romão, Boxeur e Atleta. Trata-se de obras cómicas, em geral atribuídas a Ernesto de Albuquerque - embora A. Videira Santos alerte que a segunda pode estar ligada ao Studio Film, que tinha Carlos Machado como encenador, sendo operador Fernandes Thomaz... Entretanto, em NOV, exibia-se no Olympia de Lisboa A Visita do Rei dos Belgas - que, para o Diário de Notícias, reportava «os aspectos mais interessantes da chegada de Sua Majestade, entre eles o arrojado acto de coragem e patriotismo do tenor Romão Gonçalves, que se atirou à água e, nadando, cantou o hino belga»...

Campolide Cinema, interior. Foto sem data, do Estúdio 
Mário Novais e Fundação Calouste Gulbenkian.

Deste modo, designou-se também Romão Gonçalves, Cantor e Nadador, embora - em MAR1933! - fosse, ainda, publicitada em Negrelos (Cine-Alves) como O Sofrimento Dum Cantor Por Um Chefe do Estado. Aliás, voltam a dividir-se as versões, quanto aos responsáveis por tal filme: pertenceria a Mario Huguin da Pathé, mas Rogério Pérez - em OUT1930, no Kino - garantia que foi manivelada por Albert Durot, acrescentando que Albert I toda a vida deve ter lembrado «aquele tritão lírico» do Tejo... Em 1927, as excentricidades de Romão lavaram-no a inventar o licor Romanini, para fazer concorrência ao francês Beneditine. Continuando um cinéfilo inveterado, decidiu então promocioná-lo através de As Aventuras do Tenor Romão, ou O Dó de Peito como se imortalizaria. Rogério Pérez escreveu que «entrava ele próprio, um casaco de peles bastante impróprio, e um cão que, pelas ruas de Lisboa, passeava com ele e o casaco»; outros intérpretes: Aurora Martins Vaz, Francis, Adler e Hans Cooper. Realizou Rino Lupo, com fotografia de Fernandes Thomaz. Raul Lopes Freire aceitaria projectá-lo (Salão Central), em JUN. Seguiram-se sessões contínuas no Cinema Tenor Romão Gonçalves, de que o dito era dono e empresário, em Campolide. Certo dia, teve a triste ideia de lhe agregar o Cantor e Nadador, amputando para isso o filme principal em cartaz; o público protestou, e Romão respondeu com os argumentos do seu corpulento físico, intervindo a polícia. À hora em que, como prometera, devia dar em viva voz O Dó de Peito, estava preso na esquadra, e os espectadores enfurecidos arrasaram o recinto!

(Texto e foto encontrados em Imaginario, José de Matos-Cruz, www.truca.pt)

Campolide Cinema, interior. Foto sem data, do Estúdio 
Mário Novais e Fundação Calouste Gulbenkian.

Campolide Cinema, hall da entrada. Foto sem data, do 
Estúdio Mário Novais e Fundação Calouste Gulbenkian.

Actualmente o Campolide Cinema é isto, uma garagem ou oficina. 
Foto feita este ano com o google wiew.



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