Estive para não ir porque estava à volta com as minhas dores mas fui e abençoados sejam os santos populares (em dia de eclipse), só estando lá se pode acreditar. Eu, que já vi dezenas de concertos do Zé Mário fiquei por várias vezes com um aperto no coração (acreditem que comigo isso é dificíl), acho que estou a ficar piegas. José Mário Branco com ajuda da Manuela de Freitas e acompanhado de Camané, e dos músicos, Carlos Bica, José Peixoto e Filipe Raposo, deram um concerto único e extraordinário no Cinema São Jorge, na abertura do Festival Silêncio.
A Sala escureceu depois dos organizadores terem dito umas breves palavras e notei os músicos entrarem no escuro e então entra um excerto do filme do João César Monteiro "Sophia de Mello Breyner Andresen" com a própria a dizer um poema ver aqui e depois entra a música de Tentanda a Via de Antero de Quental e logo o Zé Mário coméça a cantar com aquela voz que deus lhe deu e com ele e depois com o Camané vieram as palavras de alguns dos nossos maiores poetas.
José Mário Branco e Manuela de Freitas.
Foto Francisco Grave.
Com que passo tremente se caminha
Em busca dos destinos encobertos!
Como se estão volvendo olhos incertos!
Como esta geração marcha sozinha!
Sim! que é preciso caminhar avante!
Andar! passar por cima dos soluços!
Como quem numa mina vai de bruços
Olhar apenas uma luz distante!
José Mário Branco – Concerto Cinema São Jorge
ALINHAMENTO-GUIÃO
(os textos à direita apareciam projectados durante as canções)
01. Video: excerto do filme de João César Monteiro "Sophia de Mello Breyner Andresen" com Sophia a dizer um poema
02. Tentanda via de Antero de Quental
Antero de Quental
"Mestre, meu Mestre querido"
03. Uma vez que já tudo se perdeu de Ruy Belo
Ruy Belo
“no meu país não acontece nada”
04. Travessia do deserto de José Mário Branco inspirada no poema Caminho de Sophia de Mello Breyner Andresen
“eu sabia
que antes do próximo oásis
que antes do próximo oásis
alguém morreria"
(Sophia)
(Sophia)
05. Queixa das almas jovens censuradas de Natália Correia
Natália Correia
40 anos depois, outra vez
06. Não te prendas a uma onda qualquer de Bertolt Brecht
Bertolt Brecht
começar de novo
a partir de dentro
a partir de perto
a partir da base
07. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades de Luís de Camões
Luís de Camões
… para que tudo fique na mesma?
08. De pé (Antero) de José Mário Branco
Antero de Quental
“que sois os loucos
porque andais na frente”
09. vídeo de David Mourão-Ferreira a dizer um poema
10. Lembra-te sempre de mim de David Mourão-Ferreira
David Mourão-Ferreira
"e por vezes lembramos que por vezes"
11. Quadras de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
"essa coisa da alma"
12. Ser aquele (fado menor) de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
"... este silêncio no qual, ofegantes,
sabemos com tanta dor
que ainda estamos vivos”
(Herberto Helder)
13. Arrocachula de José Mário Branco
“de longe muito longe desde o início
o homem soube de si pela palavra”
(Sophia)
14. A meu favor de Alexandre O'Neil
Alexandre O'Neil
"o amor é o amor
e depois?"
15. Inquietação de José Mário Branco
“tudo o que sonho ou passo
o que me falha ou finda
é como que um terraço
sobre outra coisa ainda
- essa coisa é que é linda”
(Fernando Pessoa)
16. As palavras de Manuela de Freitas
“secretas vêm, cheias de memória”
(Eugénio de Andrade)
17. vídeo de Mário Cesariny a dizer um poema
18. Perfilados de medo de Alexandre O'Neil
Alexandre O'Neil
“ter de existir num tempo de canalhas
de um umbigo preso à podridão de impérios
e à lei de mendigar favor dos grandes”
(Jorge de Sena)
19. Silêncio pesado de Manuela de Freitas
“nada é inacessível no silêncio ou no poema”
(António Ramos Rosa)
20. Com fúria e raiva (poema de Sophia dito por José Mário Branco
21. Sopra demais o vento de Fernando Pessoa
«e agora vão dormir»
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