quinta-feira, 11 de abril de 2013

Um olhar sobre Portugal


Retrato de Eduardo Portugal, um homem cuja paixão foi fixar o país em imagens. 
Sobretudo as da Lisboa entre os anos 30 e 50, de que nos deixou um legado único.

 Eduardo Portugal, retrato de estúdio. 1927.

Fotografou exaustivamente as ruas de Lisboa, em particular entre as décadas de 30 e 50, deixando-nos uma das mais ricas fontes documentais sobre a cidade e as suas transformações durante esse período. Fê-lo sobretudo como olisiponense entusiasta da fotografia, actividade que praticou, de forma quase obsessiva, até ao final da sua vida. O resultado foi um vasto espólio que tem estado a ser organizado nos anos mais recentes pelo Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.

Senhoras passeando na Rua Garret. sem data.

O homem, Eduardo Macedo d'Elvas Portugal, teve uma vida relativamente curta. Nasce a 2 de Fevereiro de 1900, numa altura em que se começava a propagar a moda dos fotógrafos amadores. Eduardo Portugal deixa-se contagiar profundamente. A fotografia nunca chegou a ser a sua actividade profissional, muito menos a sua fonte de sustento, mas ele foi muito mais do que um mero amador. Encarou-a com grande meticulosidade e determinação, preocupando-se em deixar indicações precisas sobre as imagens que captava com as suas câmaras. Começa cedo. Em 1919 já tinha reunido, num pequeno livro, fotografias de acontecimentos ocasionais como reuniões familiares e de amigos, viagens e retratos. Em 1925 obtém o 5º prémio na Exposição Nacional de Fotografia que decorreu nos Armazéns Grandella. 

Venda ambulante de jornais (Ardinas) no Largo do Conde Barão. sem data.

De início o seu trabalho revela algumas preocupações artísticas, mas em breve vira-se para uma abordagem mais «neutra», de índole documental. Fotografa com a clara intenção de criar registos para a posteridade, ele que após ter frequentado o curso comercial da Escola Académica, começou por ser funcionário do Banco Portuguez e Brazileiro, onde chega a chefe-arquivista. Em 1932, o banco fecha e acaba por ir trabalhar na loja do pai, a chapelaria Portugal e Diniz, situada na Rua Augusta. O estabelecimento, especializado em artigos de senhora, era conhecido como o «Challet das Canas» e havia sido fundada pelo seu bisavô. É justamente o facto de ter passado a trabalhar na chapelaria (que depois da morte do pai passaria a dirigir) que lhe permite ter disponibilidade para se dedicar a sério à fotografia.

Tipos populares na Rua do Capelão. sem data.

A influenciá-lo terão estado as viagens que fez pela Europa, nomeadamente por França, onde conhece o trabalho de outros fotógrafos. Deixa-se fascinar também pela experiência de viajante, o que o leva a corresponder-se com diversas agências de turismo, que lhe enviam os seus folhetos de divulgação. Aí vai buscar inspiração para, à imagem do que se fazia lá fora, tentar dinamizar em Portugal o turismo e a nova «indústria das recordações». Percorre o país a fotografar, faz postais, brochuras, cartazes e diversa literatura de divulgação do património cultural e turístico nacional. O interesse pelo levantamento patrimonial leva-o também a adquirir diversas colecções de fotógrafos portugueses do século XIX.

Venda ambulante de azeite na Mouraria. sem data.

Como fotógrafo a sua produção acabaria por se centrar mais na sua cidade, por cuja história e património nutria grande afecto. Em 1940 adere ao grupo «Amigos de Lisboa», fundado pelo seu primo Luís Pastor de Macedo, autor de inúmeras livros sobre a cidade e antigo vice-presidente da Câmara de Lisboa. A autarquia edita então um guia, que compilava vasta informação produzida por Eduardo Portugal sobre a cidade. O município acaba também por lhe encomendar a cobertura fotográfica das transformações urbanísticas que ocorrem nos anos 40. Com as suas câmaras fotográficas de grande formato (cujos negativos, muitos dos quais em chapa de vidro, lhe permitiam muitas vezes fazer cópias por contacto, sem ter de efectuar ampliações) percorre afincadamente as ruas da cidade que tão bem conhecia. 

Rua da Mouraria vista da Rua do Capelão. 1932 e Rua de São Nicolau. sem data.

Fotografa a construção de novos bairros, demolições, pormenores de edifícios - como lápides ou azulejos -, candeeiros, chafarizes, ruelas, becos de bairros tradicionais ou subúrbios. Também por encomenda, fotografa as instalações da Exposição do Mundo Português. As suas imagens ilustram obras sobre a cidade, de autores como Pastor de Macedo ou Norberto Araújo. Independentemente de haver ou não solicitação de trabalhos, Eduardo Portugal faz continuamente, durante décadas, o retrato das ruas e dos edifícios de Lisboa. É isso que torna singular o conjunto do seu trabalho, distinguindo-o do produzido pelos seus contemporâneos.

Rua Marquês do Alegrete, vendo-se o arco, a ermida de Nossa Senhora 
da Saúde e a Rua da Mouraria. 1949 e Rua Victor Cordon. 1952.

Henrique D'Oliveira Mata - que o auxiliou nas suas incursões fotográficas pela cidade durante os anos 50 - lembra-se dele a correr para as zonas da cidade onde fixava para a posteridade os prédios em risco de demolição. Recorda-o como um homem excêntrico com um feitio complicado, que teve uma «noiva eterna», uma relação que durou até ao final dos seus dias sem nunca ter chegado a casamento. Vivia com o irmão, que era mentalmente diminuído, numa casa na Rua do Salitre herdada dos pais. Dividia os seus dias entre a loja (onde tinha reservado ao fundo uma divisão para os seus trabalhos de fotografia, entre os quais também o de reprodução de diversos documentos), as idas ao grupo «Amigos de Lisboa» e as saídas para fotografar. 

Rua e Travessa de São Tomé. 1953.

Grande conversador, gostava de ir à noite para o café Nicola. «Quando chegava bebia um garoto ao balcão, que era mais barato, antes de se ir sentar à mesa com os amigos. Era muito agarrado ao dinheiro, apesar de não ter necessidade», recorda Oliveira Mata, para acrescentar que «na fotografia, pelo contrário, era capaz de gastar o que fosse preciso. A fotografia era a sua loucura». No Nicola convivia com outros fotógrafos, intelectuais, pintores, músicos e compositores. Daí saíam para irem jogar bilhar. Entre os seus hábitos também se contava a pesquisa de antiguidades. Naturalmente, dava especial atenção aos espólios fotográficos. Desta forma adquiriu parte do acervo do fotógrafo Pouzal Domingos, que começou a inventariar com a ajuda de Oliveira Mata. Depois de mais um dia de trabalho, os dois homens despediram-se: era sexta-feira. Na segunda, quando voltou à loja, Mata soube que Eduardo Portugal tinha falecido, súbita e inesperadamente, na noite de sábado para domingo, enquanto dormia. Estava-se em Junho de 1958 e ainda hoje é desconhecida a causa da sua morte.

Texto e titulo em Expresso
12 de Junho de 2003

Fotos de almoços do Grupo Amigos de Lisboa na Quinta de São Vicente em Telheiras. Na da esquerda vê-se João Villaret a cantar. Na do centro vê-se o actor Vasco Santana a ler e na da direita, o Senhor Almeida, proprietário do restaurante abraça Luís Pastor de Macedo. Junho e Julho de 1942. Clique para aumentar a foto.

Rua de São Lázaro e Igreja do Socorro antes das demolições 
do Martim Moniz, 1949 e Rua Barros Queiroz. 1944.


A história de uma doação

À parte os trabalhos que realizou para a Câmara de Lisboa e colecções de postais que eram vendidas numa papelaria da cidade, todo o vasto espólio de Eduardo Portugal permaneceu, décadas depois da sua morte, com o irmão, João Portugal, na casa onde ambos habitaram na Rua do Salitre. José Luís Madeira, fotógrafo e investigador da história da fotografia em Portugal, tentou ao longo de vários anos ter acesso a ela, para a inventariar. Em Março de 1991 recebeu um telefonema de Rui Macedo, primo do fotógrafo, a informá-lo da morte de João Portugal. Como os dois irmãos tinham falecido solteiros e não deixaram descendentes, havia que encontrar um destino para todo aquele património. Foi nesse contexto que José Luís Madeira conseguiu finalmente ter acesso ao espólio. Quando lá chegou, deparou com uma biblioteca temática sobre Lisboa, dezenas de livros e revistas sobre fotografia e - mais importante que tudo - o arquivo fotográfico de Eduardo Portugal. Surpreendeu-o pela dimensão e pelas informações minuciosas que continha em dois livros de registo. Em termos de imagens eram cerca de 55 mil, não apenas as de autoria de Eduardo Portugal - em provas em papel e milhares de chapas de negativos -, mas também trabalhos de outros fotógrafos, como o de António Novaes, negativos de Bárcia e Paulo Guedes e uma rica colecção de fotografia portuguesa, em grande parte do século XIX. José Luís Madeira aconselhou Rui Macedo a doar o espólio à Câmara de Lisboa, que já detinha, aliás, mais de mil negativos de Eduardo Portugal. O Arquivo Municipal de Lisboa tem estado, entretanto, a proceder ao tratamento de todo esse património, a partir do qual já realizou uma exposição de António Novaes, e agora leva a cabo a primeira retrospectiva de Eduardo Portugal. A história do modo como decorreu a doação é contada por José Luís Madeira, num texto que é acompanhado por uma entrevista ao antigo auxiliar do fotógrafo, Henrique de Oliveira Mata. Relatos que estavam para ser incluídos no catálogo monográfico sobre Eduardo Portugal. Alterações propostas pelo Arquivo Municipal de Lisboa levaram a que as duas partes se desentendessem. Os textos vão ficar de fora.

Expresso, 12 de Junho de 2003


Rua de Belém antes das demolições. 1939.

Rua de São Lázaro. 1955.

Avenida António Augusto de Aguiar, 1949 e Casa Africana na Rua Augusta. sem data.

Quatro caminhos actualmente Rua dos Sapadores. 1953.

Praça da Figueira antes da demolição do mercado. 1949.

Praça da Figueira, arraial. 1950.


Lago do Parque Eduardo VII. 1940. 

Parque Eduardo VII. 1940. 


Panorâmica tirada do Teatro Apolo sobre a Rua da Palma no cruzamento da Rua de São
 Lázaro, antes das demolições, 1927 e Praça da Figueira antes da demolição do mercado. 1949.

Linha férrea de cintura junto do mercado Geral de Gados na Avenida 5 de Outubro. 1944.

Carruagem e carroças no Campo das Cebolas. sem data.

Cais das Colunas visto do rio Tejo. sem data.



(Fotos de Eduardo Portugal e Arquivo Fotográfico da CML)


terça-feira, 9 de abril de 2013

Cara, decote e voz

Volto a publicar este post de 2012, agora que soube 
pelos jornais que a grande Sara Montiel nos deixou.

SARA MONTIEL

ou Sarita Montiel


Coisas boas em jornais

Texto de
Manuel S. Fonseca
Expresso, 21-03-1992


TINHA truques. Na Cinemateca, numa das maiores apoteoses com que o público de Lisboa brindou uma estrela convidada, Sara Montiel, 64 anos, muito pouco vestida, e toda em rosa, num estilo que Almodóvar copia em «mui-to-po-bre», contou um dos seus truques favoritos. Filmava com Gary Coper. A cena era iluminada por um gigantesco projector de arco. Os olhos de Cooper eram só um traço, incapazes de se abrirem, tão violenta era a luz. Sara, pelo contrário, lá estava de olho arregalado. Cooper quis saber como é que ela conseguia. «Tenho um truque», disse ela. «Diz-me qual é», pediu-lhe o galã. «Não é de dizer, é de fazer», explicou ela, levando-o para um canto. Puxou de um frasquinho e deitou umas gotas em cada um dos olhos de Gary Cooper. «Anestésico», segredou Sarita a um Cooper que, durante quatro horas, passou a ter faróis em lugar de olhos.


«Na Cinemateca, numa das maiores apoteoses com que o público de Lisboa 
brindou uma estrela convidada, Sara Montiel, 64 anos, muito pouco vestida» 
Foto copiada do Expresso.

A carreira de Sara Montiel deve-se começar a ver pelo meio. Os primeiros anos foram, com efeito, anos de chover no molhado, filmando para poder continuar a levar o pão à boca. De Ti Quiero Para Mi (1944), a sua estreia aos 16 anos de idade, até Pequñeces (1950), nem ela pareceu interessar a câmara, nem os espectadores viram nela, e no que dela se podia ver, motivos para sobressalto.
Essa primeira fase espanhola já estaria esquecida e enterrada, se o caso de popularidade de Sanita não tivesse explodido, inopinadamente, na fase que se iniciou com El Ultimo Cuplé. Maltratada e mal paga, Sarita Montiel deixou, em 1950, a ingrata, espúria e mesquinha Espanha, procurando emprego e papéis mais adequados no então florescente cinema mexicano. Começou com Necessito Dinero e acabou com Yo no Creo en los Hombres, passando por Cárcel de Mujeres, títulos suficientemente sugestivos para descrever o tipo de ficção populista e as personagens primárias que incarnou.

Capa da «plaquete», editada pela Cinemateca em homenagem a Sara Montiel em 1992.

Foi por esses anos, de 50 a 54, que a sua presença começou a ganhar na tela parte das qualidades eróticas que seriam trampolim para a fama ibérica e latino-americana, qualidades que entretanto pode exercitar em Hollywood, primeiro no conhecido Vera Cruz, de Robert Aldrich, ao lado de Burt Lancaster e Gary Cooper, e logo a seguir em Serenade, de Anthony Mann (com o qual se casou), e em Run of The Arrow, de Samuel Fuller. O sol da Califórnia foi, todavia, de pouca dura.
Em Espanha lembraram-se, então, dela, convidando-a, em 1957, para um filme que ninguém queria fazer e muito menos alguém queria pagar. O que ninguém adivinhava é que a carreira de Sarita Montiel estava, nesse momento, naquele ponto exacto onde repousa toda a virtude, a meio. E ainda menos poderiam adivinhar que esse filme, El Último Cuplé, parecendo ser durante a rodagem quase uma humilhação para quem o fazia, se iria converter no maior sucesso popular do cinema espanhol, obrigando a apreciar a nova luz tudo o que Sarita tinha feito para trás e, sobretudo, criando expectativas para tudo o que a actriz iria fazer daí em diante.



Sara Montiel cantando Quizàs, Quizàs, Quizàs no filme 
Noches de Casablanca (1963) com Maurice Ronet.


Cara, decote e voz foram os três vértices do sucesso de Sarita, por obra e graça de El Ultimo Cuplé, convertida em avatar do erotismo ibero-americano, para uso de quarentões a cauterizar casamentos no mínimo enfadonhos. La Violetera, Carmen la de Ronda, Mi Ultimo Tango e La Reina del Chantecler tornaram-na, no final dos anos 50 e no começo da década de 60, objecto de devoção e de peregrinação das classes mais desfavorecidas, nas tintas para os dramas ideológicos ou de acção social que a sociedade espanhola politizada vivia. Hoje, seja como fenómeno «camp» seja por recuperação cinéfila, mais ou menos historicista, Sara, a bela Sara, voltou a despertar as velhas «loucuras de amor». «Esa mujer»!

Manuel S. Fonseca
Expresso, 21-03-1992



Excerto da entrevista do Expresso a Sara Montiel, pouco 

antes da homenagem da Cinemateca Portuguesa em 1992.



EXPRESSO — Sempre proclamou em público as suas ideias políticas de esquerda?
SARA MONTIEL — Nunca fui muito dada a provocações gratuitas. Mas recordo que no princípio dos anos 60, com Franco ainda bem vivo, Manuel Vazquez Montalbán fez-me uma entrevista que quase nos levou  à prisão! Tivemos então sérios problemas, só porque eu havia manifestado ideias e preocupações simplesmente liberais! De todos os modos, nunca me considerei uma mulher política. Aliás, voto socialista, mas nunca tive nem terei o «carnet» do PSOE.
EXPRESSO — Como grande vedeta espanhola e universal, terá sido recebida ou convidada alguma vez pelo general Franco?
SARA MONTIEL — Uma só vez e chegou! Foi durante um encontro colectivo de artistas, numa daquelas sinistras festas-recepções do regime franquista. Não troquei uma única palavra com o ditador, somente um frio aperto de mão. De qualquer maneira, era um regime que não tinha nada a ver com o mundo da cultura e do espectáculo — um mundo que, segundo Franco, só podia estar «infectado» de intelectuais liberais e progressistas, ou seja, de «comunistas». Sinto-me feliz por ter assistido à morte desse regime e por viver enfim numa Espanha democrática.
EXPRESSO — Até que ponto se identifica com a Espanha folclórica, a Espanha de Carmen, simbolizada de algum modo por Lola Flores?
SARA MONTIEL — Se tenho inveja de alguém, esse alguém é Lola Flores! E um autêntico monumento nacional, um, exemplo único, inimitável. Ninguém lhe chega aos calcanhares! A Pantoja? Essa não serviria sequer para lhe limpar os sapatos! São artistas como Lola Flores que fazem a grandeza de um país como Espanha, com uma personalidade forte e ímpar, o que não impede que seja também um país moderno, dinâmico e com uma boa imagem no exterior. Pretender que Lola Flores dá uma imagem negativa de Espanha é uma estupidez.
EXPRESSO — Como recebeu a notícia da homenagem da Cinemateca Portuguesa à filmografia de Sara Montiel?
SARA MONTIEL — Com uma grande alegria. Com o meu marido Pepe Tous e com os realizadores do meu programa «Ven al Paralelo» na TVE2, procurámos logo conciliar as datas das gravações e dos ensaios com uma viagem a Lisboa, uma cidade pela qual tenho uma paixão particular. Sempre mantive uma estreita e secreta relação com Portugal, uma relação «underground». Não tive, infelizmente, grandes contactos com os meios artísticos portugueses, mas quando oiço Amália Rodrigues cantar o fado estremeço dos pés à cabeça!

Entrevista de José Alves em Madrid
Expresso Março 1992


Destaque na Visão, num trabalho sobre o cinema espanhol.



sábado, 6 de abril de 2013

A mulher que fazia brilhar as estrelas


Costumes by Edith Head
Texto  de Vítor Pavão dos Santos
Jornal Se7e 4-11-81

 Coisas boas em jornais

«Costumes by Edith Head» é uma das frases de maior prestigio na história de Hollywood. De facto, a grande figurinista, soube aliar a mais elevada qualidade ao maior profissionalismo, com uma versatilidade e um talento difíceis de igualar. Responsável por mais de 500 filmes, desenhou todos os géneros, de ternurentos melodramas a violentos westerns, de movimentadas comédias a apavorantes filmes de terror, de musicais alegres e dramas sombrios, de esplendores bíblicos a sórdidos policiais.

Edith Head (1898-1981). 1955. Hollywood. Allan Grant.


As suas qualidades de trabalho eram lendárias. Entre 1937 e 1942, nunca desenhou menos de 35 filmes por ano. Com rara flexibilidade e profunda compreensão dos temas tratados, demonstrou amplamente como um vestido pode caracterizar uma personagem sem se tornar demasiado notado, mas antes se integrando no conjunto e contribuindo para a criação da atmosfera requerida para cada filme. Sempre simpática, era tão popular entre as  stars,  que procurava se sentissem bem dentro dos vestidos que lhes desenhava, como entre as equipas técnicas, com as quais colaborava estreitamente. No entanto, Edith Head era uma mulher de temperamento forte. Por exemplo, decidiu que o ano do seu nascimento era 1907 e embora toda a gente soubesse que era muito mais velha, nunca se lhe descobriu a idade exacta. Nem agora quando morreu, o segredo foi revelado. Até a conservatória de Los Angeles, onde foi registada, ardeu há muitos anos. E não faltaram línguas maldosas que falassem de fogo posto...
Sabe-se que teve uma boa educação, tirou um curso universitário e casou, com brevidade, com um tal mr. Head, do qual guardou o nome. Em 1923, era professora de Espanhol e estudava arte, à noite, quando respondeu a um anúncio que pedia desenhadores para a Paramount. Como pagavam bem, embora quase não soubesse desenhar não se atrapalhou, pediu alguns desenhos emprestados a uma colega e mediante este expediente apresentou-se a Howard Greer, que era então quem vestia as stars do estúdio, e logo a admitiu. E não se arrependeu, pois ela revelou-se uma grande trabalhadora, com raro talento para aprender os segredos da profissão.
Por isso, em 1927, quando Greer deixou o estúdio, Edith Head estava já tão integrada que foi elevada à categoria de chief designer e primeira assistente do grande Travis Banton, mundialmente famoso pela fantasia delirante, mas de gosto impecável, com que vestia Marlene Dietrich nos filmes de Joseph von Sternberg. Ofuscada pelos triunfos de Travis Banton, a jovem Edith Head desenhava montes de filmes série B, que não davam nas vistas mas lhe iam fornecendo uma enorme experiência.


 Desenhos de Edith Head para Dorothy Lamour no filme Road to Bali (1952).
Encontrados em thesilverscreenaffair.blogspot.pt e bid.profilesinhistory.com

Um sucesso chamado «Sarong»

Acontecia que Banton bebia que se fartava, estava dias e dias sem aparecer no estúdio, era malcriado para toda a gente, só fazia o que lhe apetecia. Como tudo isto começasse a pesar mais que o seu enorme talento, a Paramount, em 1937, não lhe renovou o contrato, oferecendo então o lugar de head designer a Edith Head, que se iria manter à frente do departamento até 1967. Ser sucessora de alguém tão famoso como Travis Banton, não era coisa nada fácil. Os problemas começaram logo com Claudette Colbert, então a maior  star  do estúdio, que detestou os vestidos que Edith Head lhe desenhou para Zaza  (1938) e se recusou a voltar a ser vestida por ela, embora sem razão, pois eram lindos. Melhor andaram as coisas com Mae West, que sabia exactamente aquilo que queria vestir e se deu tão bem com Edith Head que sempre a chamou para os seus filmes. Ainda em 1970, quando fez o seu célebre comeback  em Myra Breckinridge (filme inédito em Portugal), declarou: «Edith Head é a única desenhadora capaz de vestir Mae West como Mae West». E era!
Estávamos em plenos anos 30, na época em que, na Metro-Goldwyn-Mayer, o famosíssimo Adrian dispunha de rios de dinheiro para deslumbrar o mundo com a flamboyance  dos vestidos que desenhava para Greta Garbo, Joan Crawford e Norma Shearer. No entanto, apesar de tal concorrência, Edith Head, num estúdio com muito trabalho e poucos meios, não tardou a impor o seu estilo e a sua aparente simplicidade, conseguindo que os vestidos que desenhava fossem os mais copiados pelas mulheres americanas. E isto era o maior sucesso, pois significava que sabia tornar próximas do público as personagens que vestia.

 Modelos usando vestidos desenhados por Edith Head. 1941. Peter Stackpole.
Fotos de LIFE Archive

Um dia, lá por 1936, enrolou com tal arte um pano estampado à volta de uma rapariga sorridente e lânguida, chamada Dorothy Lamour, que o sarong  se tornou uma moda que durou muitos anos e todos os estúdios copiaram. Mas o boom tremendo de Edith Head chegou em 1941, quando vestiu Barbara Stanwick com uma série de vestidos de cintura alta e influência espanhola, em The Lady Eve (As três noites de Eva). Antecipando-se às modas, como frequentemente iria acontecer, ela dava o sinal de partida para a loucura do south american way,  que dominaria nos States durante a guerra. Mas, para além disso, criava possibilidades insuspeitadas a uma grande star,  que ninguém até então tinha sabido como vestir para a transformar numa mulher sofisticada. Ficaram grandes amigas e a magnífica Barbara Stanwyck nunca mais a dispensou, levando-a atrás de si, durante sete anos, para os vários estúdios em que ia trabalhando, embora a Paramount não gostasse nada de emprestar a sua preciosa costume designer.
Por esse tempo, tinha o estúdio descoberto uma rapariguinha, de aparência adolescente mas cheia de potencialidades. O departamento de penteados deu-lhe uma madeixa sobre o olho, que o mundo inteiro iria copiar. Quanto ao resto, transformar a miúda miope na provocante Veronica Lake, foi obra de Edith Head. E acertou em cheio, como acertou depois com Betty Hutton ou com Paulette Goddard.

Desenho de Edith Head para Hedy Lamarr em Sansão e Dalila  e a própria no filme (1949).
Fotos de flapperdays.blogspot.pt 

O vestido certo na cena certa

Por meados dos anos 40, todas as  stars  disputavam Edith Head, pois sabiam que ela as valorizava ao máximo, sem as afogar num exagerado «decorativismo». Olivia de Havilland atribui-lhe uma boa parte da responsabilidade do seu êxito nos dois filmes em que ganhou o  Oscar  para a melhor actriz do ano:  To Each His Own (Lágrimas de mãe, 1946), onde  atravessava várias épocas e várias idades;  The Heiress (A Herdeira, 1949), onde os seus vestidos 1850 tinham rigor histórico, mas eram «compreensíveis» para o público actual. É a actriz quem afirma: «Cada um dos vestidos desenhados por Edith Head eram sempre perfeitos. Bastava-me vesti-los para me transformar na mulher que tinha de interpretar.» 
De facto, nada desenhado por Edith Head era gratuito, tudo se conjugava para acentuar um determinado momento de um determinado filme. E, no entanto, o seu estilo simples, directo, «jornalístico», beneficiava pouco da súbita riqueza que a II Grande Guerra trouxera à Paramount. É que quando havia superproduções, pensavam sempre para as desenhar em alguém mais ligado a coisas espectaculares. Pois se até Cecil B. De Mille, o produtor supremo, trabalhava sempre, dentro da Paramount, com a sua equipa própria. Era um bocado de mais e Edith Head reagiu com violência, e fez muito bem. Por isso, quando De Mille realizou uma das suas obras mais belas e arrebatadas, Samson and Delilah (Sansão e Dalila, 1949), foi ela, integrando-se admiravelmente na grande tradição demilleana, quem inventou aquela inesquecível teoria de caudas, sedas roçagantes, cascatas, para já não falar das penas de pavão, que envolvem Hedy Lamarr. Raramente se terá conseguido algo de mais espectacular. Quem é que dizia que a Head só fazia coisas sóbrias?

Pormenor do vestido de Edith Head para Hedy Lamarr em Sansão e Dalila.
Foto de flapperdays.blogspot.pt


Entretanto, em 1947, em Paris, num golpe mágico que deixou de boca aberta o mundo incrédulo, Christian Dior mudou por completo a silhueta feminina, instaurando o new look. Sempre com medo de que os vestidos dos filmes passassem muito rápido de moda, Hollywood. tentava ignorar essa nova moda. Foi Edith Head quem se atreveu a trabalhar a nova silhueta, equilibrando-a em termos  de cinema. E Bette Davis foi a primeira star a exibir o new look, em  June Bride (Noiva da  Primavera, 1948). E ficou tão chic que nunca mais dispensou Edith Head,  impondo-a quando foi  à Fox fazer All About Eve (Eva, 1950), embora todo o resto do elenco  fosse vestido pelo famoso Charles LeMaire. Na verdade, Bette Davis aparecia perfeita, muito elegante e apenas com uns toques de extravagância, ao interpretar, nesse filme, a temperamental  actriz teatral Margo Channing. Mas melhor para Edith foi vestir uma star como uma star, ou seja, Gloria Swanson como Norma Desmond,  rainha  do cinema mudo, vivendo a  esperança  de um  regresso impossível,  em Sunset Boulevard  (O Crepúsculo dos Deuses, 1950). A personagem podia  prestar-se  aos maiores exageros, mas a figurinista  soube, com imensa subtileza, manter-lhe  a humanidade, dando-lhe apenas os necessários elementos de exotismo e glamour que distinguem uma superstar de um  ser humano. Um triunfo absoluto.

 Desenho de Edith Head para Grace Kelly no filme Ladrão de Casaca (1955) e Grace Kelly.
Fotos de sheris-musings.tumblr.com

A  favorita de Hitchcock

Outra actriz que não dispensava Edith Head era Ingrid Bergman, que a exigiu em Notorious (Difamação, 1946), onde exibia um vestido de veludo negro com um decote de cortar o fôlego. Mas mais importante que a dita dècolletage foi o facto de, nesse filme, Edith encontrar Alfred Hitchcock, que viu nela a colaboradora ideal, inteligente e sóbria, capaz de fazer vibrar uma sensação no momento exacto. Fizeram nove filmes juntos, dois deles com Grace Kelly, cujo tipo distante e um tanto misterioso, mas também, desenvolto, a figurinista ajudou a modelar com grande sabedoria, ajudando a torná-la a mulher famosa que ainda é hoje. Edith Head considerava mesmo como seu trabalho preferido To Catch a Thief (Ladrão de Casaca, 1955). E contava: «Hitch disse-me: Não quero, de maneira nenhuma, cores fortes. Por isso, usei em todo o filme os mais pálidos tons de pastel. Depois, quando ela (Grace Kelly) aparece com o vestido dourado, o climax torna-se assim muito mais eficaz.» Nos anos 50, com a decadência dos estúdios e o enorme decréscimo dos filmes produzidos, Edith Head passou a ter mais tempo para estudar os seus trabalhos. Foi a sua época mais marcante. Até lhe deram oportunidade para desenhar uma passagem de modelos, cheia de cor e imaginação, em Lucy Gallant (Orgulho contra orgulho, 1955); onde uma das suas estrelas preferidas, Jane Wyman, interpretava uma desenhadora de modas. E nunca a primeira Mrs. Ronald Reagan apareceu tão fascinante e sofisticada.

 Desenhos de Edith Head para Audrey Hepburn nos filmes Férias em Roma (1953) e Sabrina (1954).
Fotos de sheris-musings.tumblr.com

Em 1953, a Paramount descobriu uma miúda cheia de espontaneidade, muito esguia e ossuda. Vesti-la foi um dos triunfos de Edith Head, pois em vez de lhe camuflar o seu corpo nada convencional, decidiu acentuá-lo e mostrá-lo tal qual. E assim nasceu, com Audrey Hepburn vestida por Edith Head, em filmes como Roman Holiday (Férias em Roma, 1953) e Sabrina  (1954), um novo tipo de mulher, uma nova beleza. Por isso, embora Audrey Hepburn talvez fique na história da  fashion como a musa inspiradora de Hubert de Givenchy, é bom não esquecer que quem lhe compreendeu o charme e o evidenciou foi Edith Head. Outra star que causou sensação na América, e beneficiou do «tratamento» de Edith Head, foi Sophia Loren, que ela vestiu muitas vezes, mas cuja personalidade definiu admiravelmente em That Kind of Woman  (Uma certa mulher, 1959). Embora trabalhando durante décadas com orçamentos reduzidos, foi ironicamente quando lhe deram possibilidades de desenhar vestidos aos montes para Shirley MacLaine, sem limite de verbas, em What a Way To Go (Ela e os seus maridos, 1963), que Edith Head realizou um dos seus trabalhos mais óbvios e falhos de estilo, embora aparentemente espectacular.

Edith Head e os seus Oscars.
Foto de sheris-musings.tumblr.com


Uma cabazada de «oscars»

Em 1966, quando a Paramount foi absorvida pela multinacional Gulf+Western, todos lamentaram que Edith Head fosse obrigada a abandonar o seu estúdio de tantos anos. Mas ei-la que aparece, triunfante, com um contrato para head designer dos Universal Studios, onde continuaria, desenhando sempre, até morrer, embora parando para fazer conferências, dar aulas nas universidades, e escrever dois livros de memórias:  The dress doctor  e  How to dress for sucess. Numa época em que os verdadeiros profissionais de Hollywood  quase tinham  já desaparecido,  Edith Head fez valer a  sua tremenda experiência, sobretudo na difícil arte de desenhar fatos de  homem. E com tal brilho que, inesperadamente, em 1973, com  The Sting  (A Golpada), o  modo impecável como vestiu, à  moda dos anos 30, Paul Newman, Robert Redford e Robert Shaw, caracterizando com exactidão cada uma das personagens, lhe  valeu  o  seu oitavo Oscar.
Desde que, em 1948, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood  resolveu instituir um Oscar para o melhor costume designer, Edith Head foi distinguida nos seguintes anos:  1949:  The Heiress  (A Herdeira); 1950: All About Eve (Eva) e Samson and Delilah (Sansão e Dalila), nas duas modalidades, respectivamente preto e branco e a cores; 1951: A Place in The Sun  (Um  lugar ao sol);  1953: Roman Holiday (Férias  em Roma); 1954: Sabrina; 1960: The Facts of Life (Coisas da vida); 1973: The Sting  (A golpada). Uma cabazada  de Oscars como mais ninguém tem.

 Desenhos de Edith Head para Bette Davis e Natalie Wood nos 
filmes All About Eve (1950) e (1953) e Inside Daisy Clover (1965).
Fotos de sheris-musings.tumblr.com

O mais curioso é que Edith Head, sempre inultrapassável ao vestir as stars, pouco acertava consigo própria. Quando  se  arranjava para festas, toda decotada e cheia de jóias, com a sua eterna franja e óculos escuros, arrancava boas gargalhadas das sofisticadas que lhe deviam a sua elegância. Chegou mesmo a aparecer nas listas das mulheres mais mal vestidas. Mas ela pouco se ralava. Ligada, desde 1933, ao  art director  Wiard (Bill) Ilheu, com quem casou em 1940, levava uma vida privada pacata e muito confortável, longe da multidão. Gostava de viajar e, em 1952, passou por Lisboa, dando uma saborosa entrevista a «O Mundo Ilustrado», declarando-se encantada com o Museu Nacional dos Coches, dizendo que Carmen Miranda lhe ensinara a dizer «obrigada» para se desembaraçar em Lisboa, revelando ser Balenciaga o seu costureiro preferido (pois quem havia de ser?). E a entrevistadora rematava: «E para terminar, encarregou-nos de dizer às mulheres portuguesas que as achou bonitas e muito bem vestidas.»
Ora digam lá se Edith Head, além de uma grande figurinista, não era mesmo uma simpatia de pessoa?

Texto  de Vítor Pavão dos Santos
Texto e Titulos em
Jornal Se7e
4-11-81

Edith Head preparando o vestido para Grace Kelly no 
filme Ladrão de Casaca. 1955. Hollywood. Allan Grant.
Foto LIFE Archive




terça-feira, 2 de abril de 2013

Cinemas, Teatros e Cine-Teatros 3

Alguns já desapareceram, outros ainda mexem de alguma maneira.


Assim se faz Portugal



Fotos de
MICHEL WALDMANN 1990-1991
PRIMEIRA PARTE

«Michel Waldmann, nasceu em 1950 em Bruxelas, Bélgica. Vive em Lisboa, Portugal. Estudou fotografia na I.N.R.A.C.I., Bruxelas. Fotojornalista free-lance. Exerceu também, durante os anos, 60, 70 e 80, como Técnico no teatro e no cinema: (régie som e luz, cenários e adereços, luzes, registo de som, câmera e projeções . Fotógrafo oficial da Fundação Europália Internacional para: Europália 87 Áustria, 89 Japão, 91 Portugal e 93 Mexico. 1976-77-78, trabalha em Israel: Fotografia submarina da fauna e flora do Mar Vermelho, 1982-1995, Trabalha com Les Baladins du Miroir: história e vida de um grupo de teatro ambulante, 1984, Trabalha dois meses na Noruega: os cemitérios marítimos dos grandes barcos petroleiros depois do segundo choque petrolífero e a reabertura do Canal do Suez. 1993, Trabalha dois meses em Moçambique: a vida social, o comércio, os campos de desarmamento da ONU, um ano após o fim da guerra colonial e um ano antes das eleições democráticas. 1994, Trabalha na Índia: os pequenos ofícios e a vida social nas ruas de Bombaim, Goa e Cochim. Desde 1997, Trabalha vários meses por ano em Portugal: as mudanças na vida social, política e religiosa, a paisagem, a arquitetura  o comércio, as artes, etc...» 
(texto de 31-03-2006, encontrado no Arquivo Fotográfico da CML)


Cine Águia e Cine Batalha no Porto. 1990/91.


«(...) é um extenso levantamento de edifícios de todo o país, em muitos casos arruinados ou desfigurados por novas utilizações. Espaços de mágicas memórias de espectáculos de infância, mas também, em muitos casos, absurdas construções regidas por imposições de monumentalidade, surgem num inventário tratado como reportagem, nostálgica mas também atenta ao registo da sedimentação de presentes que constrói cada lugar. É uma memória preciosa.» 
(Alexandre Pomar, Expresso 5-06-1997)

Cine Monsaraz em Reguengos de Monsaraz e Cine Rossio em Viseu.1990/91.

Cinearte em Lisboa e Cine Olympia no Porto. 1990/91.

 Cinema Alvalade e Cinema Capitólio em Lisboa. 1990/91.

 Cinema da Praia de Vieira e Cinema da Trafaria. 1990/91.

 Cinema de Arraiolos e Cinema de Mangualde. 1990/91.

 Cinema de Seia e Cinema Esplanada Vista Alegre em Beja. 1990/91.

 Cinema Estrela em Vila Nova de Gaia e Cinema Europa em Lisboa. 1990/91.

 Cinema Girasol em Vila Nova de Milfontes e Cinema Império em Lisboa. 1990/91.

 Cinema Lys, depois Roxy e Cinema Miranda em Almansil. 1990/91.

Cinema Luisa Tody em Setubal e Cinema Odemira. 1990/91.

Cinema Odéon e Cinema Paris em Lisboa. 1990/91.

 Cinema São Jorge e Cinema Politeama. 1990/91.


(Fotos de Michel Waldmann e Arquivo Fotográfico da CML)