Europa Não! Portugal Nunca!
“Europa Não, Portugal Nunca” marcou de forma única a cena cultural e política portuguesa nos últimos estertores do cavaquismo mas em plena estruturação do Bloco Central neoliberal com a continuidade guterrista. “Nesta companhia ninguém assinou para esse senhor que diz ser secretário de Estado da Cultura” rezava o cartaz à boca da cena, zurzindo a um tempo Santana Lopes e os seus engraxadores teatrais. (In, www.acomuna.net)
Excerto de Europa Não Portugal Nunca!, espectáculo integrado na pré pré candidatura de Mário Viegas á presidência da republica em 1994/95.
«Decorria o ano de 1994 quando Vicente Jorge Silva, então director do jornal Público, publicava um editorial sobre a “geração rasca”. Os jovens manifestavam-se nas ruas contra as políticas educativas e contra o pagamento de propinas no ensino superior público. Na base do editorial do jornalista estava o célebre episódio em que quatro estudantes mostraram o rabo ao então ministro da Educação, Couto dos Santos, – e onde se podia ler as palavras “Não pago”. Outros repetiram o gesto durante uma manifestação em frente à Assembleia da República. Apesar dos protestos, a luta acabou por sair gorada, uma vez que o valor das propinas acabou mesmo por subir nos anos seguintes. Em 1994, frequentar uma universidade custava ao bolso dos estudantes 80 mil escudos. Hoje, em Portugal, a quase totalidade das universidades e politécnicos públicos aplica a propina máxima de 986,88 euros. Ainda assim, o número de alunos nas instituições não deixou de crescer: há 17 anos havia 269.982 pessoas matriculadas no ensino superior. Hoje são 383.627.
A “geração rasca” de Vicente Jorge Silva assiste, agora, ao descontentamento de uma outra, mais nova, responsável por uma das maiores manifestações dos últimos anos em Portugal. A tarefa dos mais novos é hercúlea: além de enfrentar um futuro instável, vêem-se confrontados com o défice público, com o fim de algumas reformas e regalias sociais e com elevadas taxas de desemprego: se em 1994, 10.500 pessoas com ensino superior estavam desempregadas, hoje, e segundo dados da Base de Dados de Portugal Contemporâneo Pordata, esse número disparou para os 63,800. Seis vezes mais do que há 17 anos.
Os jovens “retribuíram” com o epíteto “geração à rasca”. Foi na rede social que o apelo foi lançado. E, no último no sábado, milhares saíram à rua: os “desempregados, quinhentoseuristas e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal”. Muitos são hoje vítimas de esquemas de trabalho temporário, de falsos prestadores de serviços. Rapazes e raparigas que oscilam entre estágios não remunerados e o desespero de conseguir o primeiro contrato. Jovens de uma geração deserdada que os deixou “à rasca”. Mas que não os calou.
(Publicado por Patricia Cruz Almeida em 15-03-2011 em, www.asbeiras.pt)
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