quarta-feira, 6 de junho de 2012

O mundo de Ross Pynn (Roussado Pinto)


"A minha mente funcionava como a mente de um condenado."

Ross Pynn

Coisas boas em jornais


José Augusto Roussado Pinto (1926-1986), jornalista e autor multifacetado, elaborou e dirigiu durante vários anos, o "JORNAL DO INCRÍVEL" e o "JORNAL DA SEXOLOGIA", figurando como Directora a sua filha, porém era visível a concepção e a criatividade de Roussado Pinto. Sabe-se que usou dezenas de pseudónimos, em livros Policias, "Westerns", Espionagem, Amor, Aventura. Trabalhou em vários jornais, como o "DIÁRIO ILUSTRADO", assinando com o pseudónimo de Steve Hill. Também em revistas de fotonovelas como "CARÍCIA" ou "IDÍLIO" em que utilizou um pseudónimo, que se tornou muito comum, de Edgar Caygil. O pseudónimo de Ross Pynn, talvez tenha sido o que mais utilizou, nas suas inúmeras produções. Também foi incansável como autor e cronista de Banda Desenhada, como " O PLUTO", "MUNDO DE AVENTURAS", "TITÃ" e outros onde teve como companheiro um criador de desenhos, da envergadura de Vctor Peón. Roussado Pinto, assim como se dedicou a várias compilações, editou bastantes romances Policiais, curiosamente muitas vezes, com cenários da América, assinado com nomes a  dar a idéia de um americano, nato conhecedor daquele país, deixando assim a impressão de se movimentar naqueles meios. De facto o autor nunca terá visitado aquele Continente. (excertos do texto de Daniel Costa - in "JORNAL DA AMADORA" - 23/11/2006)


Evocação de Roussado Pinto (Ross Pynn) por Luis Campos em Jornal de Letras 20-10-1986.





Dinis Machado sobre Roussado Pinto


Diário Ilustrado

"Um dia, o Roussado Pinto, que era o director do Diário Ilustrado, chamou-me e disse-me que o jornal ia fechar. Tinham-lhe dado o prazo de um mês e uma determinada verba para ele fazer o jornal durante esse tempo. E ele propôs-me fazermos aquilo os dois: ele fazia um caderno, eu fazia o outro, e dividíamos o dinheiro pelos dois. Inventávamos histórias, inventámos coisas que não sabíamos se as pessoas iam perceber ou não. E no dia em que o jornal fechou, despedimo-nos à porta, e ele disse-me: "Agora espera pela minha chamada". E quando me chamou foi para fazer a Rififi."

Rififi

"Fui chamado para a Íbis pelo Roussado Pinto para dirigir a colecção Rififi, que era uma espécie de contraponto à Vampiro, mas muito mais desalinhada. Às vezes aparecia-me o restolho dos americanos, acho que cheguei a publicar o Dashiell Hammett e também o Raymond Chandler. E depois apareceram autores que eram considerados menores, como o Ross MacDonald ou o Frank Gruber, e que eu utilizava também como suportes do trabalho que eu queria fazer. Lia-os com o meu americano, sabia como é que diziam as coisas, aquela forma seca. A Censura fechava um bocado os olhos, achavam que aquilo não era importante. Não levavam a sério. Mas deviam." 

Dennis McShade

"Um dia, a minha filha estava para nascer, e eu precisava de vinte contos, fui falar com o Roussado Pinto. E ele disse: "Está bem, ganhas vinte contos, mas fazes três romances policiais com um nome americano, como eu faço". E fiz três romances policiais num ano. E pensei: "Bom, já agora aproveito o gozo da subversão do romance negro". Acho que fui um bocado subversor nos romances policiais: é a mistura do investigador com o assassino, um intelectual. Tem um lado de paródia: colocar um intelectual em zonas esconsas da vida, a fazer aquele tipo de trabalho. Foram três livros que fizeram escola: as pessoas que perceberam o que eu queria fazer, perceberam que ali estava o veículo para uma nova literatura. E a Censura também deve ter percebido, porque ao terceiro livro apareceu-me lá um tipo a perguntar quem era aquele McShade."


(In, viriatoteles.net - 2006)




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