Texto de João Paulo Martins, Arq.
Revista Arquitectura & Construção
Setembro 2004
Coisas boas em jornais
Foto do Arquitecto Cottinelli Telmo. 1945? Autor desconhecido e Plano geral da "Exposição do Mundo
Português", autoria de Cottinelli Telmo (arquitecto-chefe), desenho de Eduardo Anahory. Lisboa. 1940.
Fotos encontradas em jovensdorestelo.blogspot e www.fmnf.pt
Entre um sereno classicismo e uma discreta modernidade, o espartilho formal do Português Suave e o vocabulário possível de transgressão, a BD, o cinema e a arquitectura, Cottinelli Telmo, figura tutelar da Exposição do Mundo Português, rubricou, exuberante e eclético, um dos percursos mais singulares na criação portuguesa do século XX.
Exposição do Mundo Português. Praça do Império. Lisboa. 1940.
Foto copiada da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004
Quando o jovem José
Ângelo Cottinelli Telmo entrou para a Escola de Belas-Artes de Lisboa, em 1915,
para frequentar o curso de Arquitectura, deparou-se com uma instituição
retrógrada e passadista, bafienta até. Bem pelo contrário, no Chiado, mesmo ali
ao lado, a modernidade lisboeta começava a tornar-se visível. E Cottinelli
respondia a todas as chamadas. Esteve no núcleo fundador da revista Sphinx
(1917), destinada a divulgar os jovens talentos. Nas festas escolares das
Belas-Artes foi actor e compositor musical. Em 1918, dançou ao lado de Almada
Negreiros, no começo da história do bailado português. Ao mesmo tempo era
gráfico, cenógrafo e figurante ocasional para a Lusitania Film (1918-19), uma
empresa que se propunha produzir, distribuir e exibir cinema em Portugal. O
verdadeiro reconhecimento público chegou com as "Aventuras inacreditáveis,
e com razão, do Pirilau que vendia balões", uma banda desenhada da sua
autoria publicada em 1920 no magazine ABC . O sucesso foi tal que a partir
desse momento Cottinelli adoptou o pseudónimo de Tio Pirilau e criou o ABCzinho,
uma nova revista infantil que, sob a sua direcção (1921-29), alcançou uma
popularidade inédita no país.
Maqueta e entrada (Portas da Fundação) da Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940.
Fotos encontradas em www2.ufp.pt e Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais.
Já nos tempos do Liceu
Pedro Nunes (1907-14) então conhecido pela sua pedagogia inovadora Cottinelli
revelara os seus múltiplos talentos. Filho de um casal de músicos, sempre
vivera junto dos palcos, do mundo do espectáculo. Os seus amigos por essa data
eram os Leitão de Barros, os Roque Gameiro, Jaime Martins Barata, Luís Cristino
da Silva, Fernanda de Castro, António Ferro, todos futuros protagonistas da
cultura portuguesa. Os patricarcas figuras tutelares das artes de oitocentos,
como Roque Gameiro, Marques Leitão, Ribeiro Cristino acompanhavam, atentos, o
grupo promissor. Entretanto, concluído o curso das Belas-Artes (1920),
Cottinelli iniciava a sua carreira de arquitecto. Venceu o concurso para o
Pavilhão de Honra de Portugal na Exposição Internacional do Rio de Janeiro
(1921-22) associado a Carlos Ramos e Luís Cunha, com um projecto de orientação
revivalista. Quando ingressou na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses
(CP), em 1923, foi encarregado de desenvolver o projecto do edifício de
passageiros da Estação de Coimbra-Cidade (1923-30, com L. Cunha), a partir de
estudos anteriores, de outro autor. A sua formação académica fica bem visível
no resultado final. Mais inovador seria o Bairro Camões, no Entroncamento
(1923-28, com L. Cunha), uma das primeiras concretizações portuguesas do modelo
europeu da "cidade-jardim". A escola do bairro foi o mais
interessante destes seus primeiros trabalhos, encadeando os espaços de um modo
surpreendente, manipulando a construção, a luz, os ritmos gráficos, para potenciar
o sentido lúdico do ambiente. No projecto do Sanatório da Covilhã (1927),
ainda por encomenda da CP, Cottinelli deu provas da sua capacidade para abordar
um programa funcional complexo e, sobretudo, de uma particular sensibilidade
para integrar na paisagem um edifício de tão grandes dimensões.
Exposição do Mundo Português, inauguração (23-06-40). Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais.
Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais
Tal como os seus
companheiros de geração, Cottinelli despertava entretanto para a arquitectura
modernista de circulação internacional. Visitou a Exposition des Arts
Décoratifs, 1925, em Paris, para conhecer na fonte os modelos do Art Deco. Uma
das suas experiências pioneiras foi a Ourivesaria Barbosa & Esteves, na Rua
da Prata, em Lisboa. Concebida em 1927, sobrevive ainda, preservada com um
desvelo invulgar que merece aplauso. A Estação Fluvial do Sul e Sueste
(1928-32), junto à Praça do Comércio, foi o seu primeiro grande projecto
modernista. Ousando afrontar sem complexos a obra pombalina por excelência,
propunha uma linguagem despojada, de geometrias elementares. No interior, a
rigorosa modulação da estrutura em betão armado determinava os ritmos e os
motivos fundamentais de animação do espaço, amplo e unificado, como não havia
outro em estações portuguesas. O edifício da estação do Carregado (1930-31)
transportava esta experiência para os arredores.
Exposição do Mundo Português, inauguração (23-06-40). Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais.
Decidiu realizar o
filme A Canção de Lisboa (1933) como um desafio entre amigos e deixou-nos a
matriz das populares "comédias à portuguesa". Depois dessa aventura,
o ministro Duarte Pacheco escolhia-o para conduzir o plano de construções
prisionais do Ministério das Obras Públicas (Alcoentre, Alijó, Vila Real,
Celorico da Beira, Oliveira de Azeméis). Ao serviço da CP, Cottinelli Telmo
afirmava-se como arquitecto modernista. De norte a sul, deixou marcas de
renovação na paisagem ferroviária do país: nos projectos para o edifício de
passageiros da estação de Vila Real de Santo António (1936-45), nas torres de
sinalização de Ermesinde (1935-37), Pinhal Novo (1936-38) e Campolide (1940) ou
numa série de equipamentos de apoio aos empregados dos caminhos de ferro (os chamados
armazéns de víveres) cujos exemplos mais notáveis foram edi-ficados no Cacém
(1937-41) e no Entroncamento (1938-39). Foi também neste período que concebeu,
para Lisboa, as moradias Pinto Osório (1935-36) e Valadas Fernandes (1937) e um
pequeno prédio de rendimento, encomendado por Leitão de Barros, que ficou
conhecido como a Casa dos Artistas. Na sua discreta modernidade e classicismo
sereno, na sábia manipulação dos recursos limitados que empregam, esses
edifícios são resultado de uma pesquisa pessoal e testemunham a maturidade do
seu autor. Cottinelli buscava a expressão mais adequada para a
"arquitectura dos nossos dias", de acordo com um conjunto de
princípios que publicou em 1934 e ao qual se manteria fiel até ao final da
vida. Tratava-se, no fundo, de realizar uma nova síntese, a partir de termos
que podiam parecer opostos, mas que julgava possível indispensável conciliar.
Defendia "a renúncia a todos os postiços, na busca da verdade nua e
crua", mas propunha-se ultrapassar os volumes paralelepipédicos, de
coberturas planas e aberturas secamente recortadas, sem molduras, dos modelos
internacionais. Era necessário, afirmava, "limar as arestas, amenizar as
grandes superfícies lisas dando-lhes um claro-escuro sóbrio e lógico".
Recusava a máxima funcionalista que entendia os edifícios como máquinas e a
arquitectura em total subordinação à tecnologia, em sinal de progresso.
Edifícios de Passageiros na Estação Ferroviária de Coimbra (C. 1928-1931) e do Carregado, (1930-1931).
Torres de Sinalização e Manobra para a Estação de Ermesinde (1935-1937) e Pinhal Novo (1936-1938).
Fotos copiadas da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004
Ao
mesmo tempo, sabia evitar os limites estreitos impostos à cultura e às artes
portuguesas pelas correntes intelectuais mais conservadoras, que impediam
qualquer renovação. Pouco tempo depois, Cottinelli era nomeado arquitecto-chefe
da Exposição do Mundo Português que em 1940 se realizou em Lisboa, frente ao
Mosteiro dos Jerónimos. Era um cargo feito à sua medida. Ao talento do arquitecto
podia finalmente juntar a sua particular apetência pelo espectáculo, pela
festa, a sua habilidade e entusiasmo na coordenação de vastas equipas
multidisciplinares. Havia que conceber tudo, a todas as escalas. Reconverter a
cidade existente e fazer o plano geral do recinto, a Praça do Império e a sua
fonte luminosa, os pavilhões da exposição. E todas as tarefas incomuns que
requeriam uma criatividade invulgar: as portas de entrada, as pontes de acesso,
os interiores encenados, uma quantidade infindável de complementos e
acessórios. Contando com a colaboração dos melhores valores da sua geração
arquitectos, pintores, escultores, decoradores e artistas gráficos - Cottinelli
alcançou aí a consagração definitiva. Conseguiu estabelecer um compromisso entre
a retórica convencional reclamada para a ocasião e um gosto modernizante; deu
corpo a uma encenação oficial do regime que se tornou referência fundamental da
imagem do Estado Novo.
Torres de Sinalização e Manobra para a Estação de Campolide (1940); Armazém de Víveres para a Estação do
Entroncamento (1938-1939); Estação de Vila Real de Santo António (1936-1945); Apeadeiro da Curia (1943-1944).
Fotos copiadas da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004
A partir de então, o ministro Duarte Pacheco
confirma-o como seu principal colaborador e encarrega-o de algumas das mais
emblemáticas obras oficiais do momento: os planos para a zona de Belém, para a
Urbanização do Santuário de Fátima e para a Cidade Universitária de Coimbra. O
vazio de poder que se seguiu à morte de Pacheco, em 1943, e a carga retórica e
monumentalista exigida nessas obras haviam de conduzir Cottinelli a um
crescente desencanto. Procurou ainda retomar aquilo que de mais rico existia na
sua pesquisa anterior, desenvolvendo-a com novos dados. Na CP, procedeu à
reelaboração de referências ruralistas recriando uma ligação ao mundo
idealizado das "aldeias portuguesas" na Colónia de Férias da Praia
das Maçãs (1942-43) e no edifício de passageiros do apeadeiro da Curia
(1943-44). Na sua derradeira obra, a sede da Standard Eléctrica, em Lisboa
(1944-48), continuava a defender a síntese entre as conquistas da modernidade e
as convenções da linguagem clássica. Apesar da maturidade desses trabalhos e
dos níveis de inquietação que revelam, das pistas que deixavam por resolver
Cottinelli Telmo não ia já a tempo de se libertar do estigma de
"arquitecto do regime". Essa seria, em grande medida, a marca dos
seus últimos anos de vida e da futura leitura crítica da sua obra.
Ourivesaria Barbosa & Esteves. Lisboa (1927-1932); Casa Pinto
Osório. Lisboa (1935-1936); Avenida da República. 1947-1951).
Fotos copiadas da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004
Cottinelli foi
presidente do Sindicato Nacional dos Arquitectos, entre 1945 e 1948. Nessa
condição assegurou a realização do I Congresso Nacional da Arquitectura (Maio
de 1948). Aí ficaria expresso o descontentamento da classe face ao regime, aí
se daria início a um novo ciclo na arquitectura portuguesa. O próprio
Cottinelli reivindicou liberdade para uma concepção plenamente contemporânea,
rejeitando a feição nacionalista das fórmulas impostas oficialmente. E,
repetindo os apelos que outros haviam formulado, reclamou a reorganização
urgente do ensino da arquitectura e a abertura da encomenda oficial aos
profissionais mais jovens e ávidos de mudança. Essa seria a sua última
intervenção pública antes de uma morte prematura, aos 50 anos. Era também, de
certo modo, o epílogo da sua carreira. Usando o prestígio acumulado para
viabilizar o confronto, procurando, uma vez mais, conciliar valores que a
realidade demonstrava serem incompatíveis, apostando tudo numa delicada busca
de equilíbrios, certamente incompreendido, Cottinelli Telmo acabaria por perder
todos os apoios para se encontrar irremediavelmente só. Faleceu em 18 Setembro
de 1948, na sequência de um acidente, brutal e dramático, ocorrido no Guincho.
Como então escreveu Norberto de Araújo no Diário de Lisboa, com ele desaparecia
o "poder criador de uma geração", não era "já possível outro
Cottinelli no nosso tempo".
Texto de João Paulo Martins, Arq.
Revista Arquitectura & Construção
Setembro 2004
Exposição do Mundo Português. Pavilhão dos Portos e dos Caminhos de Ferro. Alçado do Lado da
Avenida do Parque. Esc.: 1:100. Desenho n.º 5. Arquitecto Collinelli Telmo. 3 de Abril de 1940.
Arquivo Histórico da CP des. n.º 12016. CNDF/FMNF - Foto de www.fmnf.pt
EXPOSIÇÃO
DO MUNDO PORTUGUÊS. LISBOA. 1940.
Texto da Revista Arquitectura & Construção
Formalmente inaugurada
a 23 de Junho de 1940, a Exposição do Mundo Português foi o corolário simbólico
do regime do Estado Novo. Ideologicamente, na sagração do império, utopia
cosmogónica industriada por António Ferro e pelas doutrinas folhetinescas do SNI,
formal e arquitectonicamente na celebração de um discurso monumental que tanto
colhia raízes nas cenografias fascistas de Marcello Piacentini como recusando o
progresso implícito no modernismo tout court cimentava já o advento de uma
"gramática estilística unitária" que cedo redundaria nos ditames
anacrónicos do Português Suave. Cottinelli Telmo, visionário e mestre de obra,
contaria para tanto com o contributo de alguns dos mais insignes criadores da
época, de Almada Negreiros a Porfírio Pardal Monteiro. Repartida em três
núcleos charneira as alas histórica, colonial e a etnográfica , a mostra
converteu Belém, nave de descobertas tendo à proa o engessado padrão de
Leopoldo de Almeida, num sedutor cenário de peregrinação para portugueses
oriundos dos mais recônditos rincões do império. A entrada custava vinte e
cinco tostões. JMFS
Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais
Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940. Construção do Padrão.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais
PIONEIRO
DA BD
Texto da Revista Arquitectura & Construção
Texto da Revista Arquitectura & Construção
[...] Cottinelli Telmo orientou a primeira
revista infantil cem por cento portuguesa [...] Nasceu no número espécime da
revista ABC, estreia do jovem arquitecto na literatura infantil [...], assinada
pelo pseudónimo «Tio Pirilau», com legendas didascálicas, algumas onomatopeias,
sinais icónicos e raros balões. Tinha por nome: «Aventuras Inacreditáveis (e
com razão) do 'Pirilau' que Vendia Balões». O entrecho, tão gongórico como o
título, notabiliza-se pelo absurdo precioso e pela inovadora representação
gráfica, próxima nalguns aspectos dos «The Kin-der-Kids», de Lyonel Feininger.
[...] Na revista ABC publicou-se uma segunda aventura de Cottinelli Telmo - «A
Grande Fita Americana» - girando o enredo à volta de cowboys, índios, cavalos,
estrelas de cinema, patifórios, comboios e tudo o mais [...] Foi vasta a sua
colaboração para esta revista, com textos de ficção, diversões, correspondência
e histórias aos quadradinhos (argumento e desenho). Encontram-se cartoons de
Cottinelli Telmo no ABC a Rir e ilustrações no Diário de Lisboa, Ilustração
Portuguesa, Jornal da Mulher, Domingo, Acção, Fantoches, Arquitectura, Portugal
Feminino, Notícias Ilustrado, etc. [...]
O pirilau que vendia balões e outras histórias de Cottinelli Telmo - Livro que retrata a vida e obra de João Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948), um dos mais importantes arquitectos portugueses. Extremamente versátil foi escritor, ensaista, ilustrador, desenhador, cartoonista, decorador, etc…, e foi um dos principais impulsionadores do jornalismo infanto-juvenil. O livro inclui estudos sobre o autor e a reedição dos seus trabalhos dos anos 20. Dirigido por Manuel de Oliveira Ramos e José Cottinelli Telmo, foi publicado, em Lisboa, entre Outubro de 1921 e Dezembro de 1925, sendo considerado um dos mais importantes jornais infantis portugueses. Produzido totalmente por autores nacionais, contam-se entre os seus colaboradores o próprio José Cottinelli Telmo, António Cardoso Lopes, Amélia Cândida Pae da Vida, Rocha Vieira e Else Althausse. Textos e Fotos encontrados na net.
CINEMA
NOVO
Texto da Revista Arquitectura & Construção
Texto da Revista Arquitectura & Construção
Cursava ainda
arquitectura na Escola de Belas-Artes de Lisboa quando, seduzido pela sétima
arte, Cottinelli Telmo encetou as primeiras colaborações com a Lusitânia-Film
na produção dos filmes Malmequer e Mal de Espanha de Leitão de Barros,
realizados em 1918. Tendo construído em 1932, com A.P. Richard, o estúdio da
Tobis, no bairro do Lumiar, em Lisboa edifício tutelar da indústria
cinematográfica em Portugal e embrião nunva concretizado de lusa Cinnecitá aí
realizou, no ano seguinte, A Canção de Lisboa [...] contando com a participação
de Vasco Santana, António Silva, Beatriz Costa [...], foi o primeiro filme
sonoro inteiramente produzido em Portugal e tornou-se um verdadeiro modelo do
humor cinematográfico português.
«Quando Chianca me falou para fazer o filme com Vasco Santana e António Silva, não tive dúvidas; ia trabalhar com alguns dos melhores amigos de toda a minha vida! Cottinelli Telmo não era meu íntimo, mas ficou, infelizmente por pouco tempo. Era um homem inteligentíssimo e duma bondade, que eu desconhecia. A Canção de Lisboa até hoje diverte pela originalidade do diálogo, a que não foram estranhos Fernando Fragoso e José Gomes Ferreira. Cottinelli foi o realizador e Chianca estava por detrás disto tudo. António Silva era meu «pai» e Vasco Santana meu «namorado». O filme foi feito com amor e sacrifício. Eu trabalhava no teatro e levantava-me às seis horas da manhã para filmar. Ganhei cinco mil escudos, que foram pagos aos soluços, mas valeu a pena. Fiquei na história como pioneira do cinema em Portugal, juntamente com alguns dos melhores cérebros que ainda pensam no meu país. Esse filme deu que falar. Foi a primeira película totalmente feita com os recursos e valores da terra.»
Beatriz Costa, no seu livro «Sem Papas na Língua»
Cartaz de A Canção de Lisboa (1933) e Cottinelli Telmo (à direita) e o operador e fotógrafo Octávio Bobone
durante as filmagens do documentário “Máquinas e Maquinistas”, na Estação de Campolide, em Lisboa. 1945.
Foto encontradas em associazionetucatula.wordpress.com e www.fmnf.pt
SANATÓRIO
DA COVILHÃ. 1928-1944
Texto da Revista Arquitectura & Construção
Projecto de
remodelação. Ateliê Souto de Moura.
O Sanatório da Covilhã
impressiona-nos pela escala monumental, pela expressão historicista dos
alçados, mas sobretudo pela extraordinária relação que estabelece com a
paisagem em seu redor. Construído para tratar os funcionários dos caminhos de
ferro, foi inaugurado em 1944 (dezassete anos depois do projecto inicial) e
teve uma vida útil relativamente curta. Está abandonado há já muito tempo, em
avançado estado de ruína e à mercê de todos os vandalismos. O arquitecto
Eduardo Souto de Moura desenvolveu o projecto que o transformaria numa
"Pousada de Portugal", recuperando de modo rigoroso e sensível a
expressão exterior do edifício original. As recentes mudanças na orientação da
"Enatur" vieram inviabilizar a concretização desse projecto.
Sanatório da Covilhã ou Sanatório das Penhas da Saúde. Inaugurado em 1944.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Mário Novais
Sanatório da Covilhã ou Sanatório das Penhas da Saúde. Inaugurado em 1944.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Mário Novais
ESTAÇÃO FLUVIAL DO
TERREIRO DO PAÇO. 1928-1932.
Texto da Revista Arquitectura & Construção
Projecto de
remodelação. Ateliê Daciano da Costa. Em curso.
Quando foi projectada,
em 1928, a Estação Fluvial do Terreiro do Paço funcionava como ligação às
linhas ferroviárias do Sul do país que partiam do Barreiro. Hoje tem um uso
muito diferente: é um nó fundamental na rede de transportes públicos entre
Lisboa e as zonas densamente habitadas da margem sul do Tejo. Com a construção
da nova linha do Metropolitano será possível conferir-lhe melhores condições de
conforto e de eficiência. O edifício existente será ampliado e transformado com
projecto do ateliê Daciano da Costa, criando-se um interface de ligação entre
as carreiras de barcos e a estação do Metro. O átrio actual será recuperado,
criando-se, a par dele, novos espaços de entrada e saída. O cais e as diversas
salas de espera serão protegidos por uma extensa cobertura em betão, horizontal
e elegante.
STANDARD ELÉCTRICA.
LISBOA. 1945-1948.
Texto da Revista Arquitectura & Construção
Projecto de
remodelação. Ateliê Gonçalo Byrne.
No final da década de
1970, a antiga sede da empresa Standard Eléctrica (projectada em 1945) foi
salva da demolição por um pioneiro movimento de sensibilização da opinião
pública. Desde então tem sido utilizada como equipamento cultural. Actualmente
é sede da Orquestra Metropolitana de Lisboa e escola do Hot Clube. Para
complementar essas funções, os arquitectos Gonçalo Byrne, Manuel Mateus e
Francisco Mateus projectaram a chamada Casa da Música de Lisboa, a construir ao
lado do edifício existente. Seria um paralelepípedo alongado, monolítico e
opaco, contendo um auditório especialmente vocacionado para concertos, com capacidade
para 450 espectadores. A entrada seria feita através de um pátio alongado,
enquadrado pelos dois edifícios e aberto num dos topos à Praça das Indústrias.
O projecto, realizado no ano 2000, não teve continuidade.
Edificio da Standard Eléctrica e Maqueta do projecto de remodelação.
Foto copiada da Revista Arquitectura & Construção
BIBLIOGRAFIA
Dicionário dos Autores
de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal, Leonardo de Sá e António Dias de
Deus, Edições Época de Ouro / Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, 1999
O Pirilau que vendia balões e outras histórias de Cottinelli Telmo, C. B.
Pinheiro e J. P. Boléo, Bedeteca/Baleia Azul, 1999 Enciclopédia Luso-Brasileira
de Cultura, 20 vols., 1ª ed., Lisboa, editorial Verbo, 1973 Houve arquitectura
do Estado Novo?, Ana Vaz Milheiro, Público, 1998 Filmes, Figuras e Factos da
História do Cinema Português. 1896-1949, Félix Ribeiro, Lisboa, Cinemateca
Portuguesa, 1983.
Cottinelli Telmo
(1897-1948). A Obra do Arquitecto, João Paulo Martins, Lisboa, Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1995 (dissertação de
mestrado em História da Arte) Cottinelli Telmo. Arquitecto na CP, in Gilberto
Gomes (ed.), O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de
1856 a 1996, João Paulo Martins, Lisboa, Caminhos de Ferro Portugueses, 1996
Exposições do Estado Novo. 1934-1940, Margarida Acciaiuoli, Lisboa, Livros
Horizonte, 1998.
Revista Arquitectura & Construção
Setembro 2004
gosto
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