sábado, 1 de setembro de 2012

Hoje faço 20 anos de SIC



"Meia volta, toda a volta,
Muitas voltas de dançar...
Quem tem sonhos por escolta
Não é capaz de parar.

Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei."

(Fernando Pessoa, Quadras ao Gosto Popular)



Em 1992 eu tinha um certo aspecto de vendedor de seguros ou de bíblias.


Faz hoje vinte anos que entrei para a SIC. Estava na Cinemateca quando o Manuel S. Fonseca me convidou para integrar a sua equipa que iria tratar de todos os programas estrangeiros. Quando comecei foi numa empresa chamada Alturas Vídeo, que a SIC tinha alugado,  enquanto as instalações não estavam prontas. Aqui fazíamos as transcrições dos masters que vinham do estrangeiro, depois iam ser legendados e voltavam a nós (éramos só duas pessoas) para verificarmos que estava tudo em condições para mais tarde serem emitidos. No fim de Setembro de 92, fomos para Carnaxide e o que me lembro bem é do chão estar todos esventrado, para passar cabos para as várias secções (foram milhares de quilómetros de cabos). Muita coisa se passou nestes vinte anos, boas (muitas) e más (poucas), mas foi uma experiência extraordinária colaborar no erguer de uma empresa de televisão do nada. Eu, que na minha vida tive imensos empregos dos mais variados, nunca tinha encontrado uma empresa assim (só nos filmes), pagavam bem e só exigiam um trabalho bem feito, não havia preocupações de entrar a horas, nem chefes em "cima de nós, porque estávamos disponíveis para o que fosse preciso. Nos dois ou três primeiros anos, trabalhei aos sábados sempre e alguns domingos. O horário era eu que decidia, tanto podia entrar num dia às sete da manhã como noutro entrar às onze. No principio éramos duas pessoas a ver todos os programas estrangeiros que eram emitidos, depois foram entrando mais pessoas, e eu fui ficando com tudo o que dizia respeito aos filmes, às séries e outros programas (cheguei a montar um programa da Madonna à quatro da manhã e isto acontecia a muitas outras pessoas lá dentro). Era um ambiente fantástico em que podíamos dar o nosso contributo de várias maneiras. Agora já lá vão vinte anos, a SIC mudou e eu também. Entraram muitas pessoas novas com outras ideias, é normal. Não vou ser hipócrita e dizer que o ambiente é o mesmo de à vinte anos, não é. Mas, aquele ambiente que vinha de sentirmos que estávamos a criar algo e que éramos recompensados, esse ambiente durou durante muitos anos (pelo menos até 2005). Posso dizer que ainda tenho prazer em trabalhar na SIC (apesar de alguns problemas), até porque o trabalho que faço na SIC continua a ser o mesmo (filmes) e sobretudo os ordenados e as regalias, apesar da crise, mantêm-se. É bom.

Já dizia o Camões:


"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Muda-se o ser, muda-se a confiança: 
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, 
Diferentes em tudo da esperança: 
Do mal ficam as mágoas na lembrança, 
E do bem (se algum houve) as saudades."



 Ofertas da SIC aos 5 e aos 15 anos de aniversário.


«... A sua atitude aos longo destas duas décadas, como profissional e como ser humano, merece ser realçada: solitário, "durão" mas muito brincalhão, todos sabem quem é o Chico Grave da SIC, com o seu sentido de humor apurado, sincero e fiel aos seus princípios.»

Estas palavras são do Dr. Pinto Balsemão numa carta pessoal que me enviou assinalando os 20 anos da SIC. Confesso que fiquei sensibilizado, porque, esperava uma carta daquelas que dão para toda a gente. Mas, eu nunca esqueci que quando estive internado no hospital, o Dr. Balsemão telefonou para administração para que eu tivesse os melhores cuidados possíveis, o que fez com que eu fosse para um quarto particular e ainda nos sete ou oito meses em que estive de baixa, a SIC me pagou o ordenado por inteiro e não foi só a mim; é pratica habitual na SIC.




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