Me Tarzan, tu Jane
(frase que se dizia às miúdas)
Inventado em 1912, por Edgar Rice Burroughs, Tarzan resistiu todas as modas, ele foi o mais bem sucedido de todos os heróis criados pela Pulp Fiction (literatura barata para consumo de grandes populações). Foram 49 adaptações oficiais, incluindo séries de TV, mas não todas as imitações. Nenhum delas seguindo fielmente os livros do criador. Mas é difícil se encontrar mais óbvia aventura do que nos filmes de Tarzan. Os livros partiam para a ficção científica, a mais pura fantasia. Os filmes respondiam a algo mais simples, a necessidade que o público urbano tinha de conhecer e imaginar os perigos da selva africana, para eles distantes e assustadoras. Era típico filme de matine de domingo em cinema de reprise. Tinha bichos da selva, as palhaçadas da macaca Chita (ou Cheetah) e roteiros altamente previsíveis (a luta com o crocodilo, os elefantes sempre chegando como a cavalaria para salvar a situação). Certamente ingénuos, mas talvez por isso mesmo se tornaram lendas na história da aventura no cinema..
Johnny Weissmuller e Maureen O'Sullivan
(os verdadeiros Tarzan e Jane)
É estranho que Tarzan tenha sido uma invenção do século XX quando seu espírito, sua origem, fosse tão anterior. Deveria ter sido concebido por alguns dos românticos, aqueles que conceberam a noção do “Beau Sauvage”, partidários da filosofia de Rousseau de que “o homem nasceu bom, foi a sociedade que o corrompeu”. De uma certa maneira Mowgli, o Menino Lobo de Kipling (publicado na viragem do século) e até o nosso Peri, de O Guarani foram seus predecessores. É nesse espírito que Tarzan se tornou tão popular, é a fantasia de que um homem branco ainda podia ser livre e viver na selva com todo respeito e dignidade (mas claro que como rei dos animais) e quando preciso rejeitaria a sociedade moderna (como Tarzan fez várias vezes nos filmes). É um mito que continua moderno, ainda que desacreditado. Havia ainda um componente erótico forte. Não esqueçam que até meados dos anos cinquenta a nudez mesmo parcial era tabu e proibida pelo Código de Censura de Hollywood. Bem que tentaram, mas não conseguiram evitar que Tarzan e Jane andassem de tangas. Ou seja, sempre houve um forte elemento erótico, em particular nos dois primeiros filmes deles na Metro.
Tarzan the Ape Man (Tarzan, o Homem Macaco, 1932) de W.S. Van Dyke. Neste primeiro filme a tanga/vestido de Jane é bastante comedida e a de Johnny Weissmuller é uma verdadeira tanga. |
Tarzan chegou ao cinema ainda na época do mudo. Mas, o cinema falado não prejudicou Tarzan, até porque ele sempre foi um homem de poucas palavras. Em 1931, a MGM, o maior de todos os estúdios de Hollywood estava ansiosa para continuar na linha de Trader Horn, um filme que fez grande sucesso (era uma história sobre uma deusa branca que vive na selva). Havia sobrado um grande número de cenas de selva que estavam arquivadas e poderiam ser usadas numa aventura de Tarzan. Quem deu a sugestão foi o próprio director do Edgar Rice Burroughs Incorporated. Irving Thalberg, chefe de produção gostou da ideia e comprou os direitos exclusivos (com opção de mais um filme). E logo anunciaram que estavam preparando o mais colossal épico de todos os tempos. E com o mesmo director de Trader Horn, William S. Van Dyke (que tinha o apelido de “One Take” Van Dyke, porque gostava de rodar tudo rápido, se possível, em apenas uma tomada). Começou então a busca pelo Tarzan ideal. Que fosse jovem, forte, bem feito de corpo, bastante atraente e actor competente. Charles Bickford era velho demais. Joel McCrea (desconhecido), Johnny MacBrown (baixo demais), Clark Gable (não tinha corpo), foram alguns dos rejeitados. Douglas Fairbanks Jr. recomendou o campeão de futebol americano Herman Brix, mas este quebrou o ombro quando estava fazendo outro filme (ele voltará ao papel daqui a pouco, aguardem). Foi o roteirista Cyril Hume quem viu Johnny Weissmuller num hotel.
No segundo Tarzan é que as tangas ficaram pequenas.
(aqui houve "mãozinha" de Irving Thalberg ou não fosse ele o produtor)
Ele havia sido campeão olímpico de natação em 1924 e 1928 e ganhou o papel sem mesmo fazer um teste. Sua publicidade dizia: “O único homem em Hollywood que fica natural sem roupa e sabe representar pelado”. Para Jane, foi escolhida uma jovem irlandesa de vinte anos, morena e delicada, Maureen O´Sullivan (mãe de Mia Farrow e mulher do director John Farrow, de quem frequentemente estava grávida). O primeiro filme, Tarzan, O Homem-Macaco, omitia referências às origens do herói e foi rodado durante cinco meses no Lago Toluka, a norte de Hollywood. Não contém a frase famosa, “Me Tarzan, You Jane” como dizem os humoristas (na verdade, ele diz somente “Tarzan-Jane”). Todos os Tarzan anteriores eram fiéis ao livro, eram lordes ingleses inteligentes e falando perfeito inglês. Aqui, ele dá grunhidos e tem um grito estranhíssimo para chamar os animais. Mudanças que desgostaram o autor, mas quem sabe, podem ter sido a razão do fenomenal sucesso. (texto de Rubens Ewald Filho, in, noticias.r7.com)
Cena censurada, que não aparece no filme.
Tarzan and His Mate (Tarzan e a Companheira, 1934) de Cedric Gibbons. Maureen O'Sullivan (Jane) nadando nua no rio.
Johnny Weissmuller e Maureen O'Sullivan em Tarzan e a Companheira, 1934. Reparem bem nas tangas, isto em 1934. |
Johnny Weissmuller e Maureen O'Sullivan em Tarzan and His Mate, (Tarzan e a Companheira, 1934) de Cedric Gibbons. |
A partir daqui as tangas nunca mais foram as mesmas.
Depois vieram outros Tarzan's, outras Jane's e
outras tangas, mas já não eram a mesma coisa.
(Fotos encontradas em www.doctormacro.com)
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