Outras Loiças

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Alexandre O'Neill e o Congo


Coisas boas em jornais



O Congo espera por si, mas tenha cuidado!


 Se Você, no seu quintal, der um pontapé numa pedra azulada que possa parecer diamante, não diga nada a ninguém, nem corra ao ourives da esquina: a pedra não tem valor joalheiro. Fique quieto. Procure esquecer, se não a guerra instala-se no seu quintal. E devo dizer-lhe que será muito mais que uma disputa interquintais, que será uma luta internacional.
Se Você não quer que o seu quintal seja transposto para as dimensões de um país tão grande, rico e misterioso como o Congo, fique, por amor à sua própria pele, quieto.
Nem utilize o «walkie-talkie», a fisga ou a espingarda de pressão de ar. Você estará, se não tiver cuidado, a lutar contra sofisticada aparelhagem electrónica, tão sofisticada que, se V. contribuir, ou o obrigarem a contribuir, com uma gota, lhe pode fazer a análise do seu teor sanguíneo à distância, tão sofisticada que administrará o seu tempo (e o tempo de «eles») por forma a bater em velocidade os concorrentes que se apresentarem para o mesmo fim: sacar-lhe os diamantes sem valor joalheiro. Esqueça tudo e ponha uma pedra (comum) no assunto. Prefira ler/viver a aventura no livro «Congo». É mais prático, mais barato e, sobretudo, menos mortífero. Ë que V. nem terá que aturar macacos que falam (ou matam inteligentemente um homem igual a si servindo-se de uma espécie de gigantescas colheres de pedra), não terá que atravessar selvas inóspitas, florestas podres, nuvens de mosquitos ferozes como aviões de combate, bandos de hipopótamos assassinos. De onde vem a sedução deste livro? Ainda não sei bem, mas o que aconteceu, com o Mega Ferreira, com uma amiga minha e comigo próprio, foi que, quando pegámos nele, cada um em sua casa, só o largámos concluída a leitura.
«Congo», de Michael Crichton, é muito mais que um livro de aventuras. É a alta electrónica a trabalhar sob os nossos olhos (entre Houston-Satélite-Acampamento perdido no Congo, por exemplo) perfeitamente dentro dos seus possíveis, é a excitante utilização do que existe, já hoje, nessa sofisticada electrónica e o que pode, vai existir amanhã (ou até talvez já exista, quem sabe?). De modo que o livro de Crichton, que tem uma aprofundada formação científica, introduz, sem a fantasia e os palpites que tantas vezes recheiam os livros de aventuras de máquinas inverosímeis, uma aparelhagem que está, como quem diz, ao nosso alcance. E nós, redivivos rapazitos que somos, sofremos com o emudecimento de um computador num momento crucial ou saltamos interiormente de entusiasmo quando a resposta pedida chega, via satélite, por exemplo de Houston (Texas) a milhares e milhares
de quilómetros de distância, para assomar no «écran» de um computador manipulado num recanto doentiamente hostil da floresta equatorial do Congo. São incríveis o número e a diversidade das máquinas e operações (de confirmação, de previsão probabilística, etc.) que em «Congo» nos mostram.
Como não menos incríveis é a gorila Amy, que domina um vocabulário de 600 palavras, que tem vontade própria e chora quando o seu «dono» a deixa.
Seria difícil estar aqui a resumir o livro. Fundamentalmente, trata-se da luta de morte entre um consórcio euro-japonês e um grupo de cientistas-traficantes norte-americanos pela descoberta e posse de um sítio, no Congo equatorial, onde, junto de um vulcão e das ruínas de uma misteriosa cidade, «nascem» os tais diamantes com boro, de aspecto azulado, inúteis como pedras preciosas, procurados apenas pelas suas propriedades eléctricas e bastante menos dispendiosos que os fabricados nos laboratórios industriais da electrónica.
Mas entre o grupo que carrega com ele o sofisticado equipamento e os diamantes azuis interpõem-se gorilas cuja morfologia e comportamento escapam aos padrões conhecidos, gorilas que atacam organizadamente, com as tais colheres gigantescas de pedra, o grupo de exploradores. E entre esses animais que é largada a gorila Amy que, numa aventura que vem juntar-se a outra, tinha sido trazida da América para ser confrontada com go rilas em estado natural.
Enfim, por aí fora, um crescendo que tem o seu desfecho de uma forma inesperada, com lutas tribais à mistura, com o exército regular congolês a intervir, etc., desfecho que não vamos, como é evidente, revelar. É que temos de fugir, porque o tal vulcão, para ajudar, entrou em cena possesso de uma tremenda erupção. Depressa, depressa, talvez pelo ar nos possamos safar!

(Alexandre O'Neill,  publicado em, Jornal de Letras 03-01-1984)

Michael Crichton
Congo
Colecção não incomode/2
Gradiva — Publicações, Lda.
1983




domingo, 30 de outubro de 2011

Jean Paul Sartre no PREC


Reportagem da RTP.



 Noticias da passagem de Jean-Paul Sartre por Portugal.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Toni Frissell Portugal 1946

Assim se faz Portugal


Toni Frissell ou Antoinette Frissell Bacon, (1907 - 1988) foi uma fotógrafa norte americana , que ficou conhecida por fotografias de moda , de sensíveis fotos da Segunda Guerra Mundial  e de retratos de famosos americanos e europeus. Em trabalhos posteriores, ela se concentrou em fotografar as mulheres e crianças de todas as condições sociais, muitas vezes, com um comentário sobre a condição humana. Em 1946 passou por Portugal e "encenou" estas fotos que descobri por aí na net.

Toni Frissell: Rua Medieval em Alfama, Lisboa, Portugal. 1946 (foto em flickr.com)

Toni Frissell: Portugal, 1946 (foto em faciepopuli.com)

Toni Frissell: fadista em night-club português , Lisboa, 1946. (foto em flickr.com)

Toni Frissell: Turista americana, Gertrude Legendre, a fotografar barcos em Lisboa. 1946 
(foto em Library of Congress.gov) 



Imagem da espia em Lisboa
por Fernando Madaíl
Diário de Noticias, 22 Dezembro 2007


"(...) ao contrário do que se possa imaginar, a silhueta feminina que apontava a sua própria objectiva para os barcos de pesca na capital portuguesa não era uma modelo da Vogue ou da Harper's Bazaar; era uma espia do Office of Strategic Services, a estrutura americana antecessora da CIA. Gertrude Legendre (1902-1999), filha do magnate de tapetes John Sanford, foi a primeira Mata Hari americana capturada pelos alemães em França. Durante os interrogatórios da Gestapo - lembraria mais tarde nas suas memórias -, sustentou sempre que não passava de uma mera dactilógrafa, interiorizando as figuras de outras mulheres que via a trabalhar nas embaixadas. Depois, escapou-se da prisão, dirigiu-se de comboio para a neutral Suíça e, na fronteira, gritou: "Passaporte americano!", ignorando a ameaça do guarda germânico e vendo a barreira aberta pelo guarda helvético. Em 1946, quando esta imagem foi captada, provavelmente já a Alemanha tinha assinado o armistício e Toni já não andaria preocupada com as suas imagens para a Women's Army Corps (de que Legendre fazia parte), sempre com o objectivo de mostrar corajosos soldados, abnegadas enfermeiras ou órfãos das bombas para explicar o esforço de guerra aos americanos que liam os jornais nas suas casas tranquilas. Lisboa também já não teria o ambiente de filme de espionagem dos meses anteriores. E esta espia elegante iria tornar-se uma grande turista, mas, em vez de capturar o pitoresco das cidades, gostava mesmo era de caça grossa. O mais curioso da foto é tentar perceber como seria, em 1946, Lisboa."


Quando Goa era "nossa"


1952, Celebrações do quarto centenário

da morte de São Francisco Xavier


Fotos de James Burke


Peregrinos fazendo fila em Goa para tocar o corpo de São Francisco Xavier, em frente à porta da catedral. E, com o corpo de São Francisco Xavier a descoberto, padres levantam caixão para levá-lo ao sarcófago de prata na Catedral de Velha Goa. 1952.

Vista da assistência na Catedral de Velha Goa. E, fila para ver o sarcófago. 1952.



1954, Tensão na fonteira com a India


A suprema estupidez do regime de Salazar na questão da Índia portuguesa consistiu precisamente em não dar aos goeses a oportunidade de livremente se exprimirem – na forma de um Referendo livre e isento – sobre a sua vontade quanto à continuação da presença portuguesa, de uma autonomia muito ampla, da independência plena ou da pura e simples integração na Índia.
Historicamente, a União Indiana não tinha (nem tem) a legitimidade para “libertar” Goa já que nem a cidade, nem Damão, nem Diu faziam de facto parte de uma “Índia” passada ou até mítica que nunca existiu historicamente a não ser depois de 1947. Mas se Salazar tinha razão ao sustentar a ilegitimidade das pretensões indianas não a tinha ao não dar aos locais a opção de escolherem os seus destinos. Nehru admitia que um referendo na Índia Portuguesa poderia dar a vitória à continuidade da presença de Portugal, mas Salazar nunca poderia consentir num referendo em Goa… Desde logo porque isso abriria a mesma hipótese às restantes províncias ultramarinas e até à própria metrópole onde as eleições eram pouco mais que formais e a democracia uma ilusão. Como lançar assim um referendo em Goa se um referendo democrático colidia tão frontalmente com os princípios autoritários do regime? 
(John P. Cann “Contra-Insurreição em África, In Flickr.com)

Manifestantes vindos da Índia para libertar Goa do controle Português, aproximando-se do lado 
indiano da fronteira. E, posto de fronteira na estrada Karwar, vigiado por tropas portuguesas. 1954.

Manifestantes vindos da Índia para libertar Goa do controle Português, aproximando-se vistos do lado 
português da fronteira. E, manifestantes são detidos e revistados pelos guardas portugueses. 1954.

Guarda portuguesa em uma das fronteiras entre Goa e Índia, controlando 
manifestantes. E, tropa portuguesa no quartel-general de Goa. 1954.

Vista de Pam Jim, Nova Goa, capital de Goa e vista do porto de Mormugao. 1954.

Ruinas de igreja do século XVI, e igreja do Bom Jesus, Goa. 1954.

Tropas portuguesas, a assistir a uma missa especial na Igreja 
de Bom Jesus. E, em parada ao lado da igreja. 1954.

Goa, gaths (?) ocidental. 1954.


(fotos James Burke e LIFE Archive) 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Capuchinho Vermelho


de 
Mário-Henrique Leiria


- Não te esqueças de dar as flores à avozinha - disse a mãe do Capuchinho Vermelho.
- Não esqueço, não, mamã - retorquiu a menina, ao sair a porta.
- E tem cuidado com o Lobo Mau que anda sempre rondando por aí, a querer comer toda a gente - insistiu a mãe, carinhosa.
- Ora, mamã! Já li àcerca dele! - e Capuchinho Vermelho, num saltitar alegre, enveredou pelo atalho que atravessava a floresta e ia dar à casa da avó. Com o cestinho de flores no braço.
- Ah, estas crianças! - suspirou a boa mãe, fechando a porta.


O príncipe do absurdo (Homenagem a Mário Henrique Leiria) de Cruzeiro Seixas, anos 70. 
Foto encontrada na net. 


Capuchinho Vermelho seguiu o seu caminho. Um malmequer aqui, um rebenta-bois ali, um cardo acolá, lá ia aumentando o bonito ramo de flores para a vovó.
Eis senão quando surge o Lobo Mau. Aliás, já era de esperar.
- Onde vais, Capuchinho Vermelho? - perguntou, lambendo o beiço e piscando o olho aos pequeninos leitores.
- Ora - retorquiu Capuchinho Vermelho, encostando-se a uma árvore e acendendo um Gitanes que lhe oferecera o Valdomiro da embaixada - Sabes muito bem onde vou. - Atirou o fósforo à orelha do Lobo mau e continuou: - Levar estas flores à avozinha, que tu queres comer para depois me comeres a mim.
- Eu, comer-te? - o Lobo mau arregalou o olho, num espanto.
- Sim, por que não?
Capuchinho Vermelho meteu os cigarros no bolso do aventalinho bordado, colocou o cestinho de flores no chão e fez umas cócegas no pirilau do Lobo Mau. O Lobo Mau deu três pulos, é óbvio. Capuchinho Vermelho prosseguiu:
- Se bem que a avozinha esteja bastante seca, como sabes, deve no entanto chegar para dois. Vem daí comigo.
O Lobo Mau foi logo, coitado.
À noite, na bonita casinha da avó, no outro lado da floresta, o Lobo mau roía o último fémur e a menina, enquanto punha um pouco mais de banha na frigideira para fritar as iscas, explica ao bicho voraz:
- Quanto a comeres-me, falamos disso mais logo.
E falaram.
Por isso, meus meninos, é que há agora por aí muitos Capuchinhos Vermelhos com um grande rabo, dentes afiados e, ainda por cima, a pedir boleias.

estória de Wilson Gasosa (Mário-henrique Leiria) e ilustração de Carlos Barradas, publicados em "O Coiso", nº 1, 7 de Março de 1975


Encontrado em coiso.net/velhocoiso/coisasdocoiso. 


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Os Anos 40 em Portugal


(...) eu acho que os mais velhos encaram a crise económica de modo diferente, dos mais jovens. Os mais velhos, já passaram pelo racionamento da alimentação nos anos 40 e 50 (perguntem aos vossos avós), em que cada pessoa só tinha direito a uma quantidade restrita de senhas para aquisição dos bens essenciais, no pós II Guerra Mundial, mesmo no nosso País que não tinha participado directamente nela!. 
(In, manuelacolaco.blogspot.com, 13-07- 2011)

Bicha em Lisboa para a obtenção de senhas de racionamento, 1943. 


O Racionamento


Pelo Natal de 1942, em plena crise nacional agravada pelas chagas da guerra, o Instituto Nacional de Estatística refere que a alimentação dos portugueses se baseia na broa com umas três ou quatro sardinhas salgadas, mais ou menos batatas, duas tigelas de caldo com legumes secos. Na população rural o problema agrava-se, achando-se a maioria das pessoas em estado de subalimentação, com regime insuficiente, tanto em qualidade como em quantidade. Se o trabalho falta e o merceeiro não fia, apenas um dia ou outro calará a fome com um prato dado à míngua e por caridade, lê-se no relatório.



Distribuição de senhas de racionamento, no Porto, anos 40. 
Foto de coisasdoarco-da-velha.blogspot.com

As manifestações de protesto e as greves desencadeiam-se um pouco por todo o lado. Ocorrem dezenas de motins campesinos no Minho e em Trás-os-Montes contra as requisições de cereais feitas pelo Estado, a falta de géneros alimentícios e, em alguns casos, a perseguição policial à recolha e venda ilegal de volfrâmio. A repressão do Estado, porém, não impede alguns aumentos salariais que rompem a política de contenção, acelerando assim a espiral inflacionária que acaba por prejudicar quem depende do rendimento de trabalho. Salazar alarga o racionamento de bens essenciais, até então só existente para a gasolina e a electricidade, o que atira o povo para maior penúria e para o inferno do mercado negro. A fruta e o peixe tornam-se praticamente proibitivos, fora de controlo o leite surge falsificado com água e o açúcar aparece misturado com farinha.



Senhas para o pão, anos 40. 


Quem pode, quem tem um palmo de terra que seja, planta legumes, e criar galinhas, coelhos ou patos, em gaiolas improvisadas, caixas ou até em casa. Os cães vadios rareiam nas ruas: nesse tempo sabem como cabrito. A sujeição dos produtos ao racionamento é progressiva: o arroz, açúcar, bacalhau, massa, sabão, azeite, óleo, manteiga, café, cacau, cereais, farinhas. Até o pão não escapa e passa a ser reduzido, o branco, a 120 gramas por dia e por pessoa ou, em alternativa, o pão escuro a 180 gramas. A batata é meio quilo por semana e por pessoa. O racionamento não seria só nesse tempo, nesse Natal. Prolongar-se-ia para além da guerra, por mais Natais...
(In, coisasdoarco-da-velha.blogspot.com/pesquisa e adaptação de tinta permanente,10-12-2010)



(fotos á solta na net)



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cuba 1959


1959, El Triunfo de la Revolución

Camilo Cienfuegos falando ao telefone no Palácio Presidencial, na foto da direita o Presidente de Cuba Manuel Urrutia, cumprimenta o capitão Luis Trujillo Collazo, acabado de ser nomeado, chefe da polícia do palácio presidencial, ao fundo Che Guevara acende o charuto de Camilo Cienfuegos. 1959.

Che Guevara de braço ao peito. 1959.

Camilo Cienfuegos e Faustino Perez. 1959.

Che Guevara, Manuel Urrutia e Camilo Cienfuegos falando com um 
guerrilheiro não identificado, e Raul Castro e Camilo Cienfuegos. 1959.

Fidel Castro sendo entrevistado por Ed Sullivan, para a televisão 
americana e guerrilheiros dormindo no átrio do Hotel Nacional. 1959.

Mulheres guerrilheiras e o Malecon cheio de gente. 1959 


(fotos LIFE Archives)




domingo, 23 de outubro de 2011

LIBERDADE EM SEGURANÇA

de
Mário-Henrique Leiria

Mário-Henrique Leiria. foto á solta na net 



Os réus entraram. Três. Fardados de azul. De escudo a tiracolo e viseira erguida.
O juiz pôs a touca com um pequeno jeito de mão direita. Afirmou:
- Levante-se o queixoso.
O queixoso estava deitado. Não se levantou.
- Tem alguma coisa a acrescentar quanto à sua arguição contra os réus? - insistiu o juiz, dando outro pequeno jeito na touca.
O queixoso nada disse. Continuava deitado.
- Dadas as circunstancias atenuantes e outras, declaro os três réus inocentes. O queixoso demonstra à sociedade ser provocador. E silencioso. Revolucionário alterante de ordem estabelecida. Destabilizador da liberdade em segurança. Que os réus, absolvidos, se retirem. Em segurança e liberdade.
Os três réus perfilaram-se. Fizeram a continencia com a mão direita. E sairam. Pela porta da direita.
Sairam os meirinhos. Pela porta do fundo.
E também o juiz. Já sem touca. Pela porta da frente.
Saíram todos.
O queixoso não. Estava deitado, como já tive oportunidade de informar. Com cinco tiros no baixo-ventre. E morto.





Verdadeiros Artistas

"aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando"
Camões


Oscar Niemeyer no barracão que ele usou para escritório, enquanto se construía a capital do Brasil: Brasilia, 1960. Frank Scherschel. Foto da direita: Oscar Niemeyer na sua casa projectada por ele mesmo, 1959. Dmitri Kessel.


Busby Berkeley revendo o argumento há cabeceira da actriz infantil Quintanille 
durante as filmagens de Forty Little Mothers, 1940 (Eddie Cantor, Ama Seca). ?? 


Dizzy Gillespie, mostrando a seu amigo Benny Carter, 
como fazer um aperto de mão especial. 1948. Allan Grant. 


Frank Gehry saltando sobre uma mesa no seu escritório. 1972. Ralph Morse. 


Henry Miller em Paris. 1969. Carlo Bavagnoli. 


Jackson Pollock trabalhando em seu estúdio, de cigarro na boca. 1949. Martha Holmes. 


Le Corbusier trabalhando num projecto para a reconstrução de Paris, no seu atelier. 1946. Nina Leen. 


Marc Chagall trabalhando em um vitral. 1960. Loomis Dean. 


Salvador Dali numa sessão com Phillipe Halsman. 1954. Yale Joel. 



(foto da LIFE Archive)



sábado, 22 de outubro de 2011

HOWARD HAWKS, O FARAÓ


«Nos anos cinquenta o “cinemascope” invadia o cinema, perante a ameaça da televisão, e apesar de Howard Hawks nunca se ter sentido fascinado por este formato acabaria por, também ele, fazer o gosto ao dedo em “A Terra dos Faraós” / “Land of the Pharaohs”, contando no argumento com a colaboração de William Faulkner, que um dia encontrara em Paris, convidando-o para escrever os diálogos. Recorde-se que o célebre escritor, teve sempre uma relação difícil com os Estúdios mas Hawks, que o conhecia bem, conseguiu levar a água ao seu moinho. Howard Hawks oferece-nos um filme esmagador, basta ver como nos é dada a construção da pirâmide e as suas armadilhas, utilizando o ”scope” com enorme saber, recorde-se que este foi o único filme que fez neste formato, conseguindo levar ao espectador esse antigo Egipto onde os Faraós reinavam a seu belo prazer.» 
(In, amemoriadocinema.blogspot.com)


reportagem da revista LIFE







(copiado da LIFE Magazine)



JOÃO CÉSAR MONTEIRO, A MINHA CERTIDÃO



NASCI aos 2 de Fevereiro de 1939, na Figueira da Foz.


Tive infância caprichosa e bem nutrida, no seio de uma família fortemente dominada pelo espirito, chamemos-lhe assim, da 1 ª República. Escusado será dizer que abundavam os dichotes anti-clericais, muito embora o meu pai desejasse que eu viesse a seguir a carreira eclesiástica. Em suma: não se percebia nada. Pelo menos à primeira vista.

João César Monteiro.


Por volta dos 16 anos, fixei-me com a família em Lisboa, para poder prosseguir a minha medíocre odisseia liceal. Instalado no colégio do dr. Mário Soares, acabei por ser expulso ao contrair perigosíssima doença venérea. Pensei, então, que entre a política e as fraquezas da carne devia existir qualquer obscena incompatibilidade e nunca mais fui visto na companhia de políticos.Tendo finalmente conseguido dissipar toda a fortuna na satisfação de brutais apetites, o meu garboso pai veio a falecer vitimado por cruel ataque cardíaco, deixando-me, perplexo e sem um chavo, a coçar a cabeça. Era chegada a hora de dar o corpinho ao manifesto, como a maior parte das pessoas. Filho que era de meu pai, atravessei senhorialmente muitos e variados empregos, mas em breve me apercebi que já não podia olhar o mundo da mesma maneira. Fui até Paris para ensaiar até onde me era possível ir. Não me era possível ir muito longe. Meses depois, «ayant connu pas mal de choses», era repatriado.


Rodagem de "Sophia de Mello Breyner Andresen", 1969. 


Em 1960, encontrei o Sr. Seixas Santos que teve a bondade de me ensinar um pouco do muito que sabe de cinema. O Sr. Vasconcelos andava ao mesmo e parecia fazer progressos que, infelizmente (para ele), o futuro ainda não comprovou. No ano seguinte, trabalhei como assistente de realização do Sr. Perdigão Queiroga e admito que poderia ter aprendido mais qualquer coisinha se não tivesse sido tão presunçoso.Em 1963, na injusta qualidade de bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, parti para Londres e fim de frequentar a London School of Film Technique. Suponho que nunca por aquela escola passou aluno tão mau, mas nesse passo não tive grandes culpas no cartório: é que de facto os ingleses não nasceram para o cinema. Aliás, ainda não percebi muito bem para que é que os ingleses nasceram. Deve com certeza ser pela mesma razão que nasceram os percevejos, as baratas e o pão integral, vulgo pão que o diabo amassou. A estadia em Londres, essa foi extremamente divertida, sobretudo no salutar plano das doces amizades; contudo, no regresso à Pátria, o meu pavoroso aproveitamento escolar foi muito sentido, como vergonhosa acção, por provincianas carpideiras a quem nunca passará pelas cabeças, tão chorosas dos mal gastos dinheirinhos da Gulbenkian, que a estupidez e e incompetência assentam arraiais em qualquer parte do mundo, inclusive no coração de Londres, sob o pomposo nome de London School of Film Technique.


Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço, 1970. 


Em 1965, conheci o Paulo Rocha e os seus «Verdes Anos», o Fernando Lopes e o seu «Belarmino». Tomei-me de amizade pelo Fernando e de amores pelo filme do senhor Rocha, cujos hábitos de anacoreta o tornavam pouco acessível. Nesse mesmo ano, tentei pôr de pé um projecto de filme em 16 m/m, intitulado «Quem espera por sapatos de defunto morre descalços». Dois dias de filmagens e rabinho entre as pernas. Falta de xis. Esse ano negro não findaria, no entanto, sem que deixasse a meio o primeiro filme publicitário que me enfiaram nas unhas: de como, graças ao Não-sei-quê, fazer desaparecer em três penadas o mau cheiro do sovaco, e me internassem num hospício para acalmar as febres.



Fragmentos de um Filme-Esmola: A Sagrada Família (1972).



De novo na vida civil, os meus excessos ultra-românticos, temperados pela mais nobre profundidade sentimental, tiveram enfim (ai filhas de Sidon) a justa consagração, o que não me livrou de amouchar durante um ano, como escriba de Filmes Castello Lopes, Lda. Em 1968, após um reconfortante período em que descobri que mães há muitas e pai só um, o celeste, dei mostras de, para além do instinto de conservação, possuir muitos outros bons instintos e fui finalmente recomendado ao produtor Ricardo Malheiro. Foi, pois, na mais desregrada euforia que fiz o filmezinho sobre Dona Sophia. Pouco tempo volvido (ó desgraça!), o Malheiro ia à falência ou, o que vinha a dar ao mesmo, a falência ia ao Malheiro. Sem grande proveito, tentei ainda a publicidade. Desesperadamente. Três ou quatro filmes, uma viagem, hélas! à Guiné, e disse.


Foto célebre de João César Monteiro, 1975/76. 


No ano seguinte, estimulado por algumas boas vontades (saudades), resolvi repegar no projecto «Quem espera por sapatos de defunto morre descalço», cujas filmagens se arrastaram ao longo de dois anos. Numa altura em que eu já deitava o filme pelos olhos, a Fundação Gu1benkian concedeu-me (obrigadinho) um subsidio de $$$$$$$$$$$$$$$$... 180 contos, divididos em 3 prestações. Aqui, tive a tentação de dar uma volta. Pedi ao Vasconcelos para filmar dois planos que faltavam ainda ao filme, e fui. Itália e a inevitável Paris. Esgotada a finança, voltei para acabar o filme, receber a última prestação e partir outra vez, ora de comboio, ora à boleia, consoante a inspiração: Barcelona, Marselha, Florença, Milão, Como, Cernobbio, Paris.

Que Farei com Esta Espada? (1975).


Entretanto, o filme começou por ser relativamente mal recebido junto do Mecenas (quereriam ópera por 180 contos?), continuou, pateado num festival no Sul de Espanha e foi friamente acolhido pelos críticos presentes em Nice, aquando da chamada Semaine du Jeune Cinéma Portugais. Foi pena, porque me teria dado jeito, sobretudo no que toca à fruição de algumas benesses locais, mas já que não pôde ser, paciência! Tirando isso, aproveitei a estadia niceoise para comprar um lindo fato de banho de duas peças com a nota de 100 francos que o João Bénard me emprestou e ameacei partir uma garrafa de tinto na cabeça do Cunha Teles que, impensadamente, me chamou oportunista. Não sou uma natureza agressiva, antes pelo contrário, mas ser insultado por um manhoso negociante é coisa que me põe fora de mim. Detesto a promiscuidade e ensinaram-me a guardar escrupulosamente as distâncias. Por uma única e bem simples exigência: a de manter intacta e intocada e minha pessoa, para além da consciência de todos os meus erros e imperfeições. Levo, as mais das vezes, esta fantochada com o riso no costado, mas não é por acaso que, cada vez mais, me dou com menos pessoas.


Silvestre, 1982. 


Arrumados definitivamente os «Sapatos» iniciei, no Verão passado, «A Sagrada Família», que espero terminar por um destes dias. Presumo que não lhe estará reservada melhor sorte que a do filme anterior, mas devo confessar que a considero uma experiência relativamente importante, se não, e com certeza que não, no plano global de um cinema português, pelo menos, no plano particular do meu próprio cinema e na exacta medida em que, por um lado, discute e corrige dialècticamente o filme anterior e, por outro, prepara já o filme seguinte. O filme seguinte chama-se «A Tempestade», baseia-se no poema dramático de Shakespeare e na ópera de Purcell e será perpetrado numa Arrábida pintada a Robbialac se, como se espera, a edilidade local não levantar intransponíveis obstáculos. Quanto mais não seja, há que atender aos relevantes serviços que a prestimosa tinta, que é só a que mais pinta e que mais dura, tem prestado ao colorido da Nação.


Recordações da Casa Amarela (1989).


Que pensar de tudo isto? Em primeiro lugar, que a vida está má para os pobres. Depois que, nisto ou naquilo, vivemos todos muito ocupados, inclusive na falta de ocupação. Por último, que enquanto, pela parte que me toca, passo o tempo, como agora e aqui, a acariciar o meu dilatado egozinho e a fornecer de mim imagens razoavelmente aliciantes, como estas, existem pessoas bem mais obscuras que, discreta e devotadamente se vão ocupando de mim e do meu glorioso destino o que, aliás, não é novo. Parece que tem sido uma constante da História.
Assim sendo, resta-me reconhecer a solidão moral de uma prática cinematográfica cavada na dupla recusa de ser uma espécie de carro de aluguer da classe mais favorecida e, o que é mais grave, de trocar essa profunda exigência por toda e qualquer forma de demagogia neo-fadista que transporte e venda a miserável ilusão de servir outra coisa.
("A Minha Certidão")
JOÃO CÉSAR MONTEIRO
in Revista &ETC, Nº 8, 30/IV/1973, pag. 19


Vai e Vem, 2003 



"O cinema não tem consolo. Porque é película, e a película nem sequer é tão saborosa como um gelado. É uma matéria físico-química, mais salgada do lado da emulsão porque tem ácidos - isto quando se põe a língua. Não sei se dá saúde. Mas não traz felicidade. E ainda por cima nesta idade já não excita muito o egozinho. O que é que eu gostava de ser? Gostava de não ser cineasta, não ser artista, ser gente simples, passando despercebidamente pelo grande magma social. Isto pressupõe uma certa inveja: não é a inveja de não ser um grande cineasta como o Murnau, é a inveja de não ser afável e simpático como o marido da minha porteira. Não consigo ser. Porque mexo em coisas que têm a ver com a criação, com a arte."

João César Monteiro ao jornal Público, 1995
In, bibliomanias.no.sapo.pt


(fotos á solta na Net)




quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Viagem a Toronto em 2005

Harbour FrontCentre.

A CN Torre de Toronto (Canada's National Tower) que se vê de toda a cidade de Toronto e o Harbour FrontCentre, onde decorre todos os anos um Festival Multi-Cultural dedicado ás várias comunidades que vivem em Toronto. Fui acompanhar a Maria do Céu Guerra que foi lá fazer a "Maria Parda" e eu as luzes e connosco ia a escritora Alice Vieira, e uma rapariga que a acompanhava. Fizemos só um espectáculo mas ficámos lá cerca de uma semana e apesar de andar cheio de dores, fartámo-nos de passear, um dos dias fomos ás Cataratas e a uma cidade (Niagara-On-The-Lake?) perto com casarões em madeira que pareciam palácios e nessa cidade o que impressionou, foram as árvores que havia de todas as formas e feitios e cores. Foi em Toronto que provei comida chinesa a sério na Chinatown lá do sitio com chineses a servir que mal falavam inglês. Não vale a pena estar a comparar com Lisboa porque é outra coisa muito diferente. Mas sempre vou dizendo, que o Canadá é rico e nós não e sobretudo ele têm espaço, por isso fazem tudo em grande e a pensar no futuro e tentando abranger todas as comunidades. Gostei bastante de Toronto talvez porque também apanhei um tempo fantástico, mas disseram-me lá que o inverno é de fugir.

Foto aérea do Harbour FrontCentre.

Nestes festivais há de tudo um pouco. 


«Toronto é a maior cidade do Canadá, e a capital da província de Ontário. Situa-se na margem norte do Lago Ontário. A cidade de Toronto propriamente dita possui aproximadamente 2,5 milhões de habitantes, com 6,1 milhões de habitantes em sua região metropolitana. Aproximadamente um terço da população canadense vive dentro de um raio de 160 quilómetros da cidade. Toronto é considerada uma das cidades mais multi culturais do mundo, metrópole que atrai dezenas de milhares de imigrantes anualmente. Toronto é o centro financeiro do Canadá, bem como um dos principais centros culturais e científicos.» 
(Texto da net)


Em 2005 eu e a Céu fizemos uma série de fotos em Toronto: na 1ª da esquerda está a Escritora Alice Vieira, a Maria do Céu Guerra e eu num barco que se dirigia para a ilha do lago Ontário; na 2ª da esquerda está a Alice Vieira com os arranha-céus de Toronto como fundo. Na 1ª da direita, uma vista geral de Toronto e a sua torre, na 2ª da direita, vasos feitos com as caixas de televisores velhos numa rua da cidade.


As Cataratas do Niágara ficam a cerca de 100km de Toronto, um pouco como ir de Lisboa a Leiria, e não há palavras para descrever estas maravilhas da natureza. Existem duas cataratas, a maior pertence ao Canadá e a mais pequena (que se vê por trás de mim na 2ª foto) pertence aos Estados Unidos. O pior é que nas costas das cataratas existe uma "cidade", completamente dedicada ao turismo (ó Abreu dá cá o meu) que parece uma Feira Popular gigante. E por perto há de tudo desde aeroporto a casinos e o mais que possam imaginar.


Na 1ª foto da esquerda, Maria do Céu Guerra na ilha do lago Ontário com a cidade ao fundo; na 2ª da esquerda vê-se o local de embarque para se poder ver as cataratas de perto. Eu não fui porque faz um bocado de medo mas todas elas foram e vieram molhadas (não muito) porque os do barco distribuem uma protecções de plástico.

Eu no barco que ia para a ilha do lago Ontário.


Eu, a Alice Vieira e uma rapariga que infelizmente não me recordo o nome, no barco; essa rapariga quis ir ver a torre e eu subi com ela, havia centenas de pessoas para querer subir (pagando claro) e ao fim de um tempo lá subimos num elevador a cem á hora e desembocámos na parte de cima da torre. A plataforma da torre gira mas nem nos apercebemos disso a não ser quando focamos o olhar num ponto; a certa altura apanhei tremendo cagaço, porque dei conta que estava a pisar vidro transparente e aquilo dá umas vertigens, que só vos digo que fui logo para sitio seguro.


O chico grave numa rua de Toronto e numa esplanada a beber o que eles chamam um café.

As Cataratas do Niágara, as da esquerda são as cataratas americanas.



(fotos de francisco grave, excepto as três primeiras que estavam á solta na Net)