Rio Bravo de Howard Hawks
Fotos de Allan Grant - 1958
Howard Hawks avaliando uns collant's com Angie Dickinson
e John Wayne, durante as filmagens de Rio Bravo. 1958.
Guerra dos sexos
Texto de
Manuel Cintra Ferreira
Coisas boas em jornais
Angie Dickinson tomando banhos de sol durante as filmagens de Rio Bravo. 1958.
Há quem defenda a tese de que Howard Hawks apenas fez comédias ao longo da sua carreira de cineasta. Se nela é difícil encaixar filmes como A Grande Ofensiva, Terra de Faraós e, principalmente, A Vida é.. o Dia de Hoje, já o mesmo não se passa com os seus «westerns», onde as relações entre homem e mulher reproduzem as que têm lugar nos filmes «reconhecidos» como comédias, Duas Feras, Fizeram-me Passar por Mulher, Bola de Fogo, etc.
Howard Hawks dirigindo John Wayne e Angie Dickinson em Rio Bravo. 1958.
O caso mais flagrante é exactamente o «western» mais famoso de Hawks, este genial Rio Bravo. Aqui encontramos todos os «equívocos» que marcam aquelas comédias, mais ou menos camuflados pelas relações de amizade entre os homens. Rio Bravo é, antes de mais, a história de uma «conquista», a do irrascível e misógino John T. Chance (John Wayne) pela glamorosa «Feathers» (Angie Dickinson), em que ela se serve de tudo (golpes «altos» e «baixos») para levar a água ao seu moinho. Chance vai-se deixando «levar», com gosto finalmente, mas nem por isso de forma menos renitente.
John Wayne e Angie Dickinson em Rio Bravo.
O que há, antes de mais, e permanece subjacente a essa «submissão» é a desconfiança em relação à mulher que todo o herói de Hawks manifesta. Desconfiança que deriva de feridas pessoais que alguma lhe provocou ou que testemunha num seu amigo, neste caso, Dude (Dean Martin) conhecido como «El Borrachón», por se entregar à bebida depois de abandonado pela mulher que amava (o filme começa com uma espantosa sequência de pelo menos 5 minutos sem palavras, que apresenta Dude no máximo da degradação). Se relação «fiel e verdadeira» aqui existe é a que une Chance e Dude, cada um capaz dos maiores sacrifícios pelo outro (inclusive a própria segurança e vida, quando Dude fica refém dos pistoleiros). Todos os encontros de Chance com Feathers se colocam sob o signo da provocação, que é também, neste meio especial dos personagens hawksianos, a forma de se manifestar admiração, amizade e, mais tarde, o amor.
Howard Hawks dirigindo John Wayne e Angie Dickinson em Rio Bravo. 1958.
O primeiro encontro dos dois é um dos mais cómicos «gags» do cinema de Hawks, e uma irresistível brincadeira tipicamente hawksiana com a imagem viril de John Wayne (Feathers entra no quarto e surpreende o hoteleiro com as calcinhas de renda da mulher na mão, em frente à cintura de Chance, e quando se despede grita-lhe, «Sheriff, esqueceu-se das calças»!, perante o embaraço dele). E o último é praticamente a rendição incondicional de Chance. De facto o «duelo» Chance-Feathers talvez seja o verdadeiro confronto de Rio Bravo, vindo sobrepor-se à amizade Chance-Dude (este começa a afastar-se quando a relação entre os outros dois adquire uma forma mais íntima). A volta dele tem lugar o conflito clássico do «western», com a cidade ameaçada por um poderoso rancheiro que quer libertar o irmão acusado de assassínio, numa série de acções que são outras tantas provas que os personagens têm de passar para a resolução de todos os conflitos.
Guerra dos sexos
Texto de Manuel Cintra Ferreira
em Expresso, 24 Agosto 96
Howard Hawks dirigindo Angie Dickinson em Rio Bravo. 1958.
Howard Hawks dirigindo Angie Dickinson em Rio Bravo. 1958.
Howard Hawks dirigindo John Wayne e Angie Dickinson em Rio Bravo. 1958.
(Fotos de Allan Grant e LIFE Archive)
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