Outras Loiças

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Salazar por Fernando Pessoa

"Politicamente, só existe aquilo que o público sabe que existe."
António de Oliveira Salazar na inauguração do S.N.I. em 1933.



Salazar, capa da TIME em 1946: «Após 20 anos de Salazar (o decano dos ditadores 
da Europa), Portugal é uma terra triste de pessoas pobres, confusas e assustadas...» In TIME.



Fernando Pessoa - António de Oliveira Salazar
s.d., em Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa.
1ª publ. in Diário Popular, Lisboa, 30 Maio e 6 Junho 1974


António de Oliveira Salazar
Bernard Hoffman veio a Portugal em Julho de 1940, fazer uma reportagem para a LIFE.
A Exposição do Mundo Português tinha sido inaugurada (em plena 2ª Guerra Mundial)
 um mês antes. Hoffman não tirou qualquer foto dela (pelo menos eu não encontrei).
Pode ver as fotos dessa reportagem da LIFE, neste post mais antigo carregando aqui.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
Água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...
Em 04 de Julho de 1937, Salazar escapou por um triz (infelizmente) a um atentado
organizado por um grupo de anarquistas. Revista Ilustração 16-07-1937.

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.
Mas afinal é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
 1938, um ano antes de começar a guerra, Salazar organiza uma caçada em
Mafra para membros do Corpo Diplomático. Revista Ilustração 16-07-1937
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.




SIM, É O ESTADO NOVO

Sim, é o Estado Novo, e o povo
Ouviu, leu e assentiu.
Sim, isto é um Estado Novo
Pois é um estado de coisas
Que nunca antes se viu.
Em tudo paira a alegria
E, de tão íntima que é,
Como Deus na Teologia
Ela existe em toda a parte
E em parte alguma se vê.
Há estradas, e a grande Estrada
Que a tradição ao porvir
Salazar, anos 50.  Foto de Rosa Casaco, um Pide. Encontrada na net.
Liga, branca e orçamentada,
E vai de onde ninguém parte
Para onde ninguém quer ir.
Há portos, e o porto-maca
Onde vem doente o cais.
Sim, mas nunca ali atraca
O Paquete "Portugal"
Pois tem calado de mais.
Há esquadra... Só um tolo o cala,
Que a inteligência, propícia
A achar, sabe que, se fala,
Desde logo encontra a esquadra:
É uma esquadra de polícia.
Visão grande! Ódio à minúscula!
Nem para prová-la tal
Tem alguém que ficar triste:
União Nacional existe
Mas não união nacional.
E o Império? Vasto caminho
Onde os que o poder despeja
Conduzirão com carinho
A civilização cristã,
Que ninguém sabe o que seja.
Com directrizes à arte
Reata-se a tradição,
E juntam-se Apolo e Marte
No Teatro Nacional
Que é onde era a inquisição.
E a fé dos nossos maiores?
Forma-a impoluta o consórcio
Entre os padres e os doutores.
Casados o Erro e a Fraude
Já não pode haver divórcio.
Que a fé seja sempre viva.
Porque a esperança não é vã!
A fome corporativa
É derrotismo. Alegria!
Hoje o almoço é amanhã.
s.d.


Salazar - Um cadáver emotivo


Salazar
Um cadáver emotivo, artificialmente galvanizado por uma propaganda...
Duas qualidades lhe faltam — a imaginação e o entusiasmo. Para ele o país não é a gente que nele vive, mas a estatística d'essa gente.
Soma, e não segue.
1932?
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa.
(Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes)
Lisboa: Livros Horizonte, 1993.  - 221.


D. Maria chorando no velório de Salazar. 1970. Foto da net.



“passou a época da desordem e da má administração; temos boa administração e ordem. E não há nenhum de nós que não tenha saudade da desordem e da má administração.”

(Fernando Pessoa, 1935)


Fernando Pessoa (1888-1935)




domingo, 27 de janeiro de 2013

COTTINELLI TELMO - A criação do mundo


Texto de João Paulo Martins, Arq.
Revista Arquitectura & Construção
Setembro 2004


Coisas boas em jornais

Foto do Arquitecto Cottinelli Telmo. 1945? Autor desconhecido e Plano geral da "Exposição do Mundo 
Português", autoria de Cottinelli Telmo (arquitecto-chefe), desenho de Eduardo Anahory. Lisboa. 1940.
Fotos encontradas em jovensdorestelo.blogspot e www.fmnf.pt 

Entre um sereno classicismo e uma discreta modernidade, o espartilho formal do Português Suave e o vocabulário possível de transgressão, a BD, o cinema e a arquitectura, Cottinelli Telmo, figura tutelar da Exposição do Mundo Português, rubricou, exuberante e eclético, um dos percursos mais singulares na criação portuguesa do século XX. 

Exposição do Mundo Português. Praça do Império. Lisboa. 1940.
Foto copiada da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004

Quando o jovem José Ângelo Cottinelli Telmo entrou para a Escola de Belas-Artes de Lisboa, em 1915, para frequentar o curso de Arquitectura, deparou-se com uma instituição retrógrada e passadista, bafienta até. Bem pelo contrário, no Chiado, mesmo ali ao lado, a modernidade lisboeta começava a tornar-se visível. E Cottinelli respondia a todas as chamadas. Esteve no núcleo fundador da revista Sphinx (1917), destinada a divulgar os jovens talentos. Nas festas escolares das Belas-Artes foi actor e compositor musical. Em 1918, dançou ao lado de Almada Negreiros, no começo da história do bailado português. Ao mesmo tempo era gráfico, cenógrafo e figurante ocasional para a Lusitania Film (1918-19), uma empresa que se propunha produzir, distribuir e exibir cinema em Portugal. O verdadeiro reconhecimento público chegou com as "Aventuras inacreditáveis, e com razão, do Pirilau que vendia balões", uma banda desenhada da sua autoria publicada em 1920 no magazine ABC . O sucesso foi tal que a partir desse momento Cottinelli adoptou o pseudónimo de Tio Pirilau e criou o ABCzinho, uma nova revista infantil que, sob a sua direcção (1921-29), alcançou uma popularidade inédita no país.

Maqueta  e  entrada (Portas da Fundação) da Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940.
Fotos encontradas em www2.ufp.pt e Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais. 

Já nos tempos do Liceu Pedro Nunes (1907-14) então conhecido pela sua pedagogia inovadora Cottinelli revelara os seus múltiplos talentos. Filho de um casal de músicos, sempre vivera junto dos palcos, do mundo do espectáculo. Os seus amigos por essa data eram os Leitão de Barros, os Roque Gameiro, Jaime Martins Barata, Luís Cristino da Silva, Fernanda de Castro, António Ferro, todos futuros protagonistas da cultura portuguesa. Os patricarcas figuras tutelares das artes de oitocentos, como Roque Gameiro, Marques Leitão, Ribeiro Cristino acompanhavam, atentos, o grupo promissor. Entretanto, concluído o curso das Belas-Artes (1920), Cottinelli iniciava a sua carreira de arquitecto. Venceu o concurso para o Pavilhão de Honra de Portugal na Exposição Internacional do Rio de Janeiro (1921-22) associado a Carlos Ramos e Luís Cunha, com um projecto de orientação revivalista. Quando ingressou na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (CP), em 1923, foi encarregado de desenvolver o projecto do edifício de passageiros da Estação de Coimbra-Cidade (1923-30, com L. Cunha), a partir de estudos anteriores, de outro autor. A sua formação académica fica bem visível no resultado final. Mais inovador seria o Bairro Camões, no Entroncamento (1923-28, com L. Cunha), uma das primeiras concretizações portuguesas do modelo europeu da "cidade-jardim". A escola do bairro foi o mais interessante destes seus primeiros trabalhos, encadeando os espaços de um modo surpreendente, manipulando a construção, a luz, os ritmos gráficos, para potenciar o sentido lúdico do ambiente. No projecto do Sanatório da Covilhã (1927), ainda por encomenda da CP, Cottinelli deu provas da sua capacidade para abordar um programa funcional complexo e, sobretudo, de uma particular sensibilidade para integrar na paisagem um edifício de tão grandes dimensões.

 Exposição do Mundo Português, inauguração (23-06-40). Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais.


 Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais

Tal como os seus companheiros de geração, Cottinelli despertava entretanto para a arquitectura modernista de circulação internacional. Visitou a Exposition des Arts Décoratifs, 1925, em Paris, para conhecer na fonte os modelos do Art Deco. Uma das suas experiências pioneiras foi a Ourivesaria Barbosa & Esteves, na Rua da Prata, em Lisboa. Concebida em 1927, sobrevive ainda, preservada com um desvelo invulgar que merece aplauso. A Estação Fluvial do Sul e Sueste (1928-32), junto à Praça do Comércio, foi o seu primeiro grande projecto modernista. Ousando afrontar sem complexos a obra pombalina por excelência, propunha uma linguagem despojada, de geometrias elementares. No interior, a rigorosa modulação da estrutura em betão armado determinava os ritmos e os motivos fundamentais de animação do espaço, amplo e unificado, como não havia outro em estações portuguesas. O edifício da estação do Carregado (1930-31) transportava esta experiência para os arredores.

 Exposição do Mundo Português, inauguração (23-06-40). Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais.

Decidiu realizar o filme A Canção de Lisboa (1933) como um desafio entre amigos e deixou-nos a matriz das populares "comédias à portuguesa". Depois dessa aventura, o ministro Duarte Pacheco escolhia-o para conduzir o plano de construções prisionais do Ministério das Obras Públicas (Alcoentre, Alijó, Vila Real, Celorico da Beira, Oliveira de Azeméis). Ao serviço da CP, Cottinelli Telmo afirmava-se como arquitecto modernista. De norte a sul, deixou marcas de renovação na paisagem ferroviária do país: nos projectos para o edifício de passageiros da estação de Vila Real de Santo António (1936-45), nas torres de sinalização de Ermesinde (1935-37), Pinhal Novo (1936-38) e Campolide (1940) ou numa série de equipamentos de apoio aos empregados dos caminhos de ferro (os chamados armazéns de víveres) cujos exemplos mais notáveis foram edi-ficados no Cacém (1937-41) e no Entroncamento (1938-39). Foi também neste período que concebeu, para Lisboa, as moradias Pinto Osório (1935-36) e Valadas Fernandes (1937) e um pequeno prédio de rendimento, encomendado por Leitão de Barros, que ficou conhecido como a Casa dos Artistas. Na sua discreta modernidade e classicismo sereno, na sábia manipulação dos recursos limitados que empregam, esses edifícios são resultado de uma pesquisa pessoal e testemunham a maturidade do seu autor. Cottinelli buscava a expressão mais adequada para a "arquitectura dos nossos dias", de acordo com um conjunto de princípios que publicou em 1934 e ao qual se manteria fiel até ao final da vida. Tratava-se, no fundo, de realizar uma nova síntese, a partir de termos que podiam parecer opostos, mas que julgava possível indispensável conciliar. Defendia "a renúncia a todos os postiços, na busca da verdade nua e crua", mas propunha-se ultrapassar os volumes paralelepipédicos, de coberturas planas e aberturas secamente recortadas, sem molduras, dos modelos internacionais. Era necessário, afirmava, "limar as arestas, amenizar as grandes superfícies lisas dando-lhes um claro-escuro sóbrio e lógico". Recusava a máxima funcionalista que entendia os edifícios como máquinas e a arquitectura em total subordinação à tecnologia, em sinal de progresso. 

 Edifícios de Passageiros na Estação Ferroviária de Coimbra (C. 1928-1931) e do Carregado, (1930-1931).
Torres de Sinalização e Manobra para a Estação de Ermesinde (1935-1937) e Pinhal Novo (1936-1938).
Fotos copiadas da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004

Ao mesmo tempo, sabia evitar os limites estreitos impostos à cultura e às artes portuguesas pelas correntes intelectuais mais conservadoras, que impediam qualquer renovação. Pouco tempo depois, Cottinelli era nomeado arquitecto-chefe da Exposição do Mundo Português que em 1940 se realizou em Lisboa, frente ao Mosteiro dos Jerónimos. Era um cargo feito à sua medida. Ao talento do arquitecto podia finalmente juntar a sua particular apetência pelo espectáculo, pela festa, a sua habilidade e entusiasmo na coordenação de vastas equipas multidisciplinares. Havia que conceber tudo, a todas as escalas. Reconverter a cidade existente e fazer o plano geral do recinto, a Praça do Império e a sua fonte luminosa, os pavilhões da exposição. E todas as tarefas incomuns que requeriam uma criatividade invulgar: as portas de entrada, as pontes de acesso, os interiores encenados, uma quantidade infindável de complementos e acessórios. Contando com a colaboração dos melhores valores da sua geração arquitectos, pintores, escultores, decoradores e artistas gráficos - Cottinelli alcançou aí a consagração definitiva. Conseguiu estabelecer um compromisso entre a retórica convencional reclamada para a ocasião e um gosto modernizante; deu corpo a uma encenação oficial do regime que se tornou referência fundamental da imagem do Estado Novo.

 Torres de Sinalização e Manobra para a Estação de Campolide (1940); Armazém de Víveres para a Estação do 
Entroncamento (1938-1939); Estação de Vila Real de Santo António (1936-1945); Apeadeiro da Curia (1943-1944).
Fotos copiadas da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004

A partir de então, o ministro Duarte Pacheco confirma-o como seu principal colaborador e encarrega-o de algumas das mais emblemáticas obras oficiais do momento: os planos para a zona de Belém, para a Urbanização do Santuário de Fátima e para a Cidade Universitária de Coimbra. O vazio de poder que se seguiu à morte de Pacheco, em 1943, e a carga retórica e monumentalista exigida nessas obras haviam de conduzir Cottinelli a um crescente desencanto. Procurou ainda retomar aquilo que de mais rico existia na sua pesquisa anterior, desenvolvendo-a com novos dados. Na CP, procedeu à reelaboração de referências ruralistas recriando uma ligação ao mundo idealizado das "aldeias portuguesas" na Colónia de Férias da Praia das Maçãs (1942-43) e no edifício de passageiros do apeadeiro da Curia (1943-44). Na sua derradeira obra, a sede da Standard Eléctrica, em Lisboa (1944-48), continuava a defender a síntese entre as conquistas da modernidade e as convenções da linguagem clássica. Apesar da maturidade desses trabalhos e dos níveis de inquietação que revelam, das pistas que deixavam por resolver Cottinelli Telmo não ia já a tempo de se libertar do estigma de "arquitecto do regime". Essa seria, em grande medida, a marca dos seus últimos anos de vida e da futura leitura crítica da sua obra.

Ourivesaria Barbosa & Esteves. Lisboa (1927-1932); Casa Pinto 
Osório. Lisboa (1935-1936); Avenida da República. 1947-1951).
Fotos copiadas da Revista Arquitectura & Construção - Setembro 2004

Cottinelli foi presidente do Sindicato Nacional dos Arquitectos, entre 1945 e 1948. Nessa condição assegurou a realização do I Congresso Nacional da Arquitectura (Maio de 1948). Aí ficaria expresso o descontentamento da classe face ao regime, aí se daria início a um novo ciclo na arquitectura portuguesa. O próprio Cottinelli reivindicou liberdade para uma concepção plenamente contemporânea, rejeitando a feição nacionalista das fórmulas impostas oficialmente. E, repetindo os apelos que outros haviam formulado, reclamou a reorganização urgente do ensino da arquitectura e a abertura da encomenda oficial aos profissionais mais jovens e ávidos de mudança. Essa seria a sua última intervenção pública antes de uma morte prematura, aos 50 anos. Era também, de certo modo, o epílogo da sua carreira. Usando o prestígio acumulado para viabilizar o confronto, procurando, uma vez mais, conciliar valores que a realidade demonstrava serem incompatíveis, apostando tudo numa delicada busca de equilíbrios, certamente incompreendido, Cottinelli Telmo acabaria por perder todos os apoios para se encontrar irremediavelmente só. Faleceu em 18 Setembro de 1948, na sequência de um acidente, brutal e dramático, ocorrido no Guincho. Como então escreveu Norberto de Araújo no Diário de Lisboa, com ele desaparecia o "poder criador de uma geração", não era "já possível outro Cottinelli no nosso tempo".

Texto de João Paulo Martins, Arq.
Revista Arquitectura & Construção
Setembro 2004

Exposição do Mundo Português. Pavilhão dos Portos e dos Caminhos de Ferro. Alçado do Lado da 
Avenida do Parque. Esc.: 1:100. Desenho n.º 5. Arquitecto Collinelli Telmo. 3 de Abril de 1940. 
Arquivo Histórico da CP des. n.º 12016. CNDF/FMNF - Foto de www.fmnf.pt


EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS. LISBOA. 1940.
Texto da Revista Arquitectura & Construção

Formalmente inaugurada a 23 de Junho de 1940, a Exposição do Mundo Português foi o corolário simbólico do regime do Estado Novo. Ideologicamente, na sagração do império, utopia cosmogónica industriada por António Ferro e pelas doutrinas folhetinescas do SNI, formal e arquitectonicamente na celebração de um discurso monumental que tanto colhia raízes nas cenografias fascistas de Marcello Piacentini como recusando o progresso implícito no modernismo tout court cimentava já o advento de uma "gramática estilística unitária" que cedo redundaria nos ditames anacrónicos do Português Suave. Cottinelli Telmo, visionário e mestre de obra, contaria para tanto com o contributo de alguns dos mais insignes criadores da época, de Almada Negreiros a Porfírio Pardal Monteiro. Repartida em três núcleos charneira as alas histórica, colonial e a etnográfica , a mostra converteu Belém, nave de descobertas tendo à proa o engessado padrão de Leopoldo de Almeida, num sedutor cenário de peregrinação para portugueses oriundos dos mais recônditos rincões do império. A entrada custava vinte e cinco tostões. JMFS

Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais

 Exposição do Mundo Português. Lisboa. 1940. Construção do Padrão.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Horácio Novais


PIONEIRO DA BD
Texto da Revista Arquitectura & Construção

 [...] Cottinelli Telmo orientou a primeira revista infantil cem por cento portuguesa [...] Nasceu no número espécime da revista ABC, estreia do jovem arquitecto na literatura infantil [...], assinada pelo pseudónimo «Tio Pirilau», com legendas didascálicas, algumas onomatopeias, sinais icónicos e raros balões. Tinha por nome: «Aventuras Inacreditáveis (e com razão) do 'Pirilau' que Vendia Balões». O entrecho, tão gongórico como o título, notabiliza-se pelo absurdo precioso e pela inovadora representação gráfica, próxima nalguns aspectos dos «The Kin-der-Kids», de Lyonel Feininger. [...] Na revista ABC publicou-se uma segunda aventura de Cottinelli Telmo - «A Grande Fita Americana» - girando o enredo à volta de cowboys, índios, cavalos, estrelas de cinema, patifórios, comboios e tudo o mais [...] Foi vasta a sua colaboração para esta revista, com textos de ficção, diversões, correspondência e histórias aos quadradinhos (argumento e desenho). Encontram-se cartoons de Cottinelli Telmo no ABC a Rir e ilustrações no Diário de Lisboa, Ilustração Portuguesa, Jornal da Mulher, Domingo, Acção, Fantoches, Arquitectura, Portugal Feminino, Notícias Ilustrado, etc. [...]

O pirilau que vendia balões e outras histórias de Cottinelli Telmo - Livro que retrata a vida e obra de João Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948), um dos mais importantes arquitectos portugueses. Extremamente versátil foi escritor, ensaista, ilustrador, desenhador, cartoonista, decorador, etc…, e foi um dos principais impulsionadores do jornalismo infanto-juvenil. O livro inclui estudos sobre o autor e a reedição dos seus trabalhos dos anos 20. Dirigido por Manuel de Oliveira Ramos e José Cottinelli Telmo, foi publicado, em Lisboa, entre Outubro de 1921 e Dezembro de 1925, sendo considerado um dos mais importantes jornais infantis portugueses. Produzido totalmente por autores nacionais, contam-se entre os seus colaboradores o próprio José Cottinelli Telmo, António Cardoso Lopes, Amélia Cândida Pae da Vida, Rocha Vieira e Else Althausse. Textos e Fotos encontrados na net.


CINEMA NOVO
Texto da Revista Arquitectura & Construção

Cursava ainda arquitectura na Escola de Belas-Artes de Lisboa quando, seduzido pela sétima arte, Cottinelli Telmo encetou as primeiras colaborações com a Lusitânia-Film na produção dos filmes Malmequer e Mal de Espanha de Leitão de Barros, realizados em 1918. Tendo construído em 1932, com A.P. Richard, o estúdio da Tobis, no bairro do Lumiar, em Lisboa edifício tutelar da indústria cinematográfica em Portugal e embrião nunva concretizado de lusa Cinnecitá aí realizou, no ano seguinte, A Canção de Lisboa [...] contando com a participação de Vasco Santana, António Silva, Beatriz Costa [...], foi o primeiro filme sonoro inteiramente produzido em Portugal e tornou-se um verdadeiro modelo do humor cinematográfico português.


«Quando Chianca me falou para fazer o filme com Vasco Santana e António Silva, não tive dúvidas; ia trabalhar com alguns dos melhores amigos de toda a minha vida! Cottinelli Telmo não era meu íntimo, mas ficou, infelizmente por pouco tempo. Era um homem inteligentíssimo e duma bondade, que eu desconhecia. A Canção de Lisboa até hoje diverte pela originalidade do diálogo, a que não foram estranhos Fernando Fragoso e José Gomes Ferreira. Cottinelli foi o realizador e Chianca estava por detrás disto tudo. António Silva era meu «pai» e Vasco Santana meu «namorado». O filme foi feito com amor e sacrifício. Eu trabalhava no teatro e levantava-me às seis horas da manhã para filmar. Ganhei cinco mil escudos, que foram pagos aos soluços, mas valeu a pena. Fiquei na história como pioneira do cinema em Portugal, juntamente com alguns dos melhores cérebros que ainda pensam no meu país. Esse filme deu que falar. Foi a primeira película totalmente feita com os recursos e valores da terra.»
Beatriz Costa, no seu livro «Sem Papas na Língua»

Cartaz de A Canção de Lisboa (1933) e Cottinelli Telmo (à direita) e o operador e fotógrafo Octávio Bobone 
durante as filmagens do documentário “Máquinas e Maquinistas”, na Estação de Campolide, em Lisboa. 1945.
Foto encontradas em associazionetucatula.wordpress.com e www.fmnf.pt


SANATÓRIO DA COVILHÃ. 1928-1944
Texto da Revista Arquitectura & Construção

Projecto de remodelação. Ateliê Souto de Moura.

O Sanatório da Covilhã impressiona-nos pela escala monumental, pela expressão historicista dos alçados, mas sobretudo pela extraordinária relação que estabelece com a paisagem em seu redor. Construído para tratar os funcionários dos caminhos de ferro, foi inaugurado em 1944 (dezassete anos depois do projecto inicial) e teve uma vida útil relativamente curta. Está abandonado há já muito tempo, em avançado estado de ruína e à mercê de todos os vandalismos. O arquitecto Eduardo Souto de Moura desenvolveu o projecto que o transformaria numa "Pousada de Portugal", recuperando de modo rigoroso e sensível a expressão exterior do edifício original. As recentes mudanças na orientação da "Enatur" vieram inviabilizar a concretização desse projecto.

 Sanatório da Covilhã ou Sanatório das Penhas da Saúde. Inaugurado em 1944.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Mário Novais

  Sanatório da Covilhã ou Sanatório das Penhas da Saúde. Inaugurado em 1944.
Fotos da Fundação Gulbenkian. Flick. Autoria Estúdios Mário Novais


ESTAÇÃO FLUVIAL DO TERREIRO DO PAÇO. 1928-1932.
Texto da Revista Arquitectura & Construção

Estação Fluvial de Sul e Sueste. 2011. Bruno Almeida.
Foto encontrada em wikipedia

Projecto de remodelação. Ateliê Daciano da Costa. Em curso.

Quando foi projectada, em 1928, a Estação Fluvial do Terreiro do Paço funcionava como ligação às linhas ferroviárias do Sul do país que partiam do Barreiro. Hoje tem um uso muito diferente: é um nó fundamental na rede de transportes públicos entre Lisboa e as zonas densamente habitadas da margem sul do Tejo. Com a construção da nova linha do Metropolitano será possível conferir-lhe melhores condições de conforto e de eficiência. O edifício existente será ampliado e transformado com projecto do ateliê Daciano da Costa, criando-se um interface de ligação entre as carreiras de barcos e a estação do Metro. O átrio actual será recuperado, criando-se, a par dele, novos espaços de entrada e saída. O cais e as diversas salas de espera serão protegidos por uma extensa cobertura em betão, horizontal e elegante.

Maqueta  e  desenho do projecto de remodelação.
Foto copiada da Revista Arquitectura & Construção


STANDARD ELÉCTRICA. LISBOA. 1945-1948.
Texto da Revista Arquitectura & Construção

Projecto de remodelação. Ateliê Gonçalo Byrne.

No final da década de 1970, a antiga sede da empresa Standard Eléctrica (projectada em 1945) foi salva da demolição por um pioneiro movimento de sensibilização da opinião pública. Desde então tem sido utilizada como equipamento cultural. Actualmente é sede da Orquestra Metropolitana de Lisboa e escola do Hot Clube. Para complementar essas funções, os arquitectos Gonçalo Byrne, Manuel Mateus e Francisco Mateus projectaram a chamada Casa da Música de Lisboa, a construir ao lado do edifício existente. Seria um paralelepípedo alongado, monolítico e opaco, contendo um auditório especialmente vocacionado para concertos, com capacidade para 450 espectadores. A entrada seria feita através de um pátio alongado, enquadrado pelos dois edifícios e aberto num dos topos à Praça das Indústrias. O projecto, realizado no ano 2000, não teve continuidade.

 Edificio da Standard Eléctrica e Maqueta do projecto de remodelação.
Foto copiada da Revista Arquitectura & Construção


BIBLIOGRAFIA

Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal, Leonardo de Sá e António Dias de Deus, Edições Época de Ouro / Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, 1999 O Pirilau que vendia balões e outras histórias de Cottinelli Telmo, C. B. Pinheiro e J. P. Boléo, Bedeteca/Baleia Azul, 1999 Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, 20 vols., 1ª ed., Lisboa, editorial Verbo, 1973 Houve arquitectura do Estado Novo?, Ana Vaz Milheiro, Público, 1998 Filmes, Figuras e Factos da História do Cinema Português. 1896-1949, Félix Ribeiro, Lisboa, Cinemateca Portuguesa, 1983.

Cottinelli Telmo (1897-1948). A Obra do Arquitecto, João Paulo Martins, Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1995 (dissertação de mestrado em História da Arte) Cottinelli Telmo. Arquitecto na CP, in Gilberto Gomes (ed.), O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996, João Paulo Martins, Lisboa, Caminhos de Ferro Portugueses, 1996 Exposições do Estado Novo. 1934-1940, Margarida Acciaiuoli, Lisboa, Livros Horizonte, 1998.


Revista Arquitectura & Construção
Setembro 2004

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Bob Willoughby - Fotógrafo


Elizabeth Taylor, Bob Willoughby e Eva Marie Saint durante 
a rodagem de "Raintree County" de Edward Dmytryk. 1957.
Foto encontrada em www.jazzbodyandsoul.co.uk


«Robert Hanley "Bob" Willoughby nasceu em Los Angeles em 1927. Apaixonou-se pela fotografia depois de receber uma câmara como presente de aniversário aos 12 anos. Bob Willoughby estudou fotografia na Escola de Cinema na Universidade do Sul da Califórnia e trabalhou com o designer gráfico Saul Bass . Entre 1948 e 1954, as suas fotografias de músicos de jazz e dançarinos levou-o a um contrato com Globe Photos. Mais tarde, trabalhou para a revista Harper's Bazaar, onde as suas fotografias ilustraram artigos de arte e cultura. A sua grande oportunidade veio quando ele foi designado por seis revistas diferentes para fotografar Judy Garland durante as filmagens de A Star is Born (1954). Posteriormente, ele foi contratado pela Warner Brothers para fotografar a seqüência, "Born in a Trunk" do mesmo filme.


Judy Garland por Bob Willoughby. 1954.


 Esta foi a primeira vez que um estúdio de cinema contratou um fotógrafo especial para tirar fotos para a venda de revistas. O resultado foi uma capa da revista LIFE Magazine, com um retrato em close-up da cantora e actriz. Em 1963, Willoughby construiu a primeira câmara de controle remoto, para uso no estúdio de fotografia. Isso levou a outras inovações que lhe permitiam tirar fotografias iguais às de filme. Bob Willoughby continuou a fotografar durante o resto da sua vida. Morou na Irlanda durante 17 anos, onde usou as suas técnicas fotográficas para ilustrar textos da antiga poesia irlandesa com fotos do campo. Foi autor de livros sobre fotografia e outros assuntos. Os seus últimos anos foram passados em Vence, na França, onde continuou uma vida activa profissional, vindo a falecer em 2009.» (Fonte: wikipedia)


Cole Porter. 1954.


 Jack Lemmon. 1966.


 James Dean. 1955.


Edith Head. 1960.


John Wayne. 1971.


Otto Preminger. 1957.


Rock Hudson. 1954. 


Shirley MacLaine. 1959.


Vincent Price. 1958. 


Vincente Minnelli, Gene Kelly e Eric Carpenter. 1954.



(Fotos da National Portrait Gallery, Smithsonian Institution, www.si.edu)
(excepto a primeira foto e a capa da LIFE)