por
Alexandre O'Neill
(In, jornal A Capital)
(In, jornal A Capital)
Coisas Boas em jornais
Alexandre O'Neill (1924-1986) |
Do
alto do burro, com as biqueiras das botinas a roçagarem a relva, o dr. Crispiniano
lançou chistes, piropos, respondeu a graças, enquanto comia e bebia. A
prazenteira D. Adozinda estava coradita e não fazia senão rir com as
"maluqueiras do caro Crispiniano". O burro, ia revezando os pés como
paciente cadeira.
Chegaram
as saúdes, saltaram as rolhas. O dr. Crispiniano, taça ao alto, afagou o
pescoço do burro, pediu muita atenção, cogitou uns momentos e
"desimprovisou-se" com fluência e garbo:
Penso e repenso,
puxo e repuxo.
Teu nome,
Adozinda,
é um soberbo
luxo!
Foi
aí que o burro disparou. O dr. Crispiniano, espantalho movente, ainda aguentou
cinquenta metros de corrida naquela desembestada charneira. Depois caiu e
fez plof, como nas histórias de quadradinhos.
Esteve
um mês de perna gessada.
A BURRICADA por Alexandre O'Neill (In, jornal A Capital, 05-07-1972) |
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