Outras Loiças

sexta-feira, 30 de março de 2012

Nos Bastidores de Cleópatra

"concebido com urgência, rodado em histeria e acabado em pânico cego"

Joseph L. Mankiewicz, a propósito do "seu" filme Cleópatra



«Quando Mankiewicz se referia ''àquele filme'', seus interlocutores já sabiam que ele estava falando de Cleópatra. A experiência de fazer o épico com Elizabeth Taylor foi tão traumatizante para o cineasta - que administrava a pressão do estúdio pelo estouro de orçamento, o sensacionalismo da imprensa pelo affair Liz-Richard Burton e o próprio desejo de permanecer autor - que ele gostaria de ter apagado Cleópatra da sua filmografia (e da consciência).» 
(In, www.estadao.com.br)

Elizabeth Taylor e Rex Harrison em Cleopatra (1963).




Roma Acolhe "Cleópatra"

«"Por fim, hoje, após anos de trabalho e de desgostos, rodamos a primeira cena de "Cleópatra"". Foi assim que o produtor Walter Wanger descreveu no seu diário, o primeiro dia de rodagem de "Cleópatra". Estava-se a 25 de Setembro de 1961 e marca o fim de uma aventura. A de uma produção na origem relativamente modesta, que tomou uma amplitude inesperada depois da Fox ter aceite oferecer um milhão de dólares - estava-se em 61 - a Elisabeth Taylor. Uma aventura marcada por uma série de erros de logística, de faltas de profissionalismo, de renúncias e golpes de teatro, tradução do declínio de uma indústria hollywoodiana completamente desnorteada com uma concorrência nova, a da Televisão.





No início, Joe Mankiewicz, que foi chamado em socorro da Fox depois do abandono de Rouben Mamoulian, o qual tinha rodado algumas cenas em Londres (com Peter Finch em César e Stephan Boyd em Marco António), visitou os cenários. E achou "grotesca" a estátua de Ísis que se encontrava no templo da deusa, onde devia ser rodada a primeira cena. Toda a noite, uma equipa especial trabalhou para reformular a estátua. De manhã, estava tudo pronto. Era o único cenário que existia dos sessenta que estavam previstos pela produção. Assim, começou a rodagem deste filme que custará no final 40 milhões de dólares, e sobre o qual Mankiewicz afirmará que foi "concebido com urgência, rodado em histeria e acabado em pânico cego".



No início igualmente, onze membros do Congresso americano chegaram a Roma, convidados pela Fox para o centenário da unificação da Itália, celebrado a 25 de Setembro. Da sua estadia, eles esperavam, sobretudo, e as suas esposas também, fazer-se fotografar ao lado de Elisabeth Taylor. A produção opôs-se à sua ida ao "plateau" mas teve de ceder às pressões organizando uma festa especialmente para eles. Este acontecimento anedótico, foi o primeiro de uma longa série que conduzirá o realizador a rodar o filme contra a produção e, assim, contra Hollywood, que o fez rei mas que sempre o detestou. Mankiewicz, com efeito, não conseguiu que fosse aceite a sua proposta de acabar o argumento antes do início da rodagem. Precisou de esperar mais de um mês para que fosse adoptado o princípio da semana de cinco dias, o que lhe permitiu escrevê-lo ao sábado e domingo. Teve que se arranjar com a revelação da ligação de Taylor a Burton (Richard), ultrapassou os saltos de humor de uns e outros, e ainda a inacreditável impreparação da produção com a cumplicidade interessada dos romanos - o custo de água mineral para os técnicos e actores elevou-se a 80.000 dólares, ou seja 6 litros de água por dia e pessoa. 



No fim da rodagem, em Julho de 62, Mankiewicz não tinha ainda terminado "Cleópatra" - sequências suplementares foram filmadas em Espanha no Inverno seguinte. Foi-lhe necessário um encontro com Darryl F. Zanuck, seu cúmplice - adversário de outros tempos, e que tinha regressado à chefia da Fox para constatar que o filme não correspondia ao que esperavam os seus patrões mas que estes nunca tinham sido capazes de o precisar.



A Fox tinha renunciado ao longo da preparação e rodagem das suas prerrogativas que só assumiu no seu final, o que na altura ainda não se sabia, era que uma página do cinema se tinha voltado. O 25 de Setembro de 61 representa a transição entre a Hollywood de ontem, que era a dos seus inícios, e a de hoje, sobre a qual reinam menos os produtores que os responsáveis dos programas e os seus advogados. 

Texto encontrado em www.apagina.pt. Autor: Paulo Teixeira de Sousa - Escola Secundária de Soares dos Reis Especializada de Ensino Artístico


Fotos de Paul Schutzer para a LIFE Magazine




(fotos Paul Schutzer e LIFE Archive, excepto a primeira encontrada em www.britannica.com)





1 comentário:

  1. Ainda assim, um filme incrível! Cenários maravilhosos, figurino exuberante e atuação perfeita.

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