Outras Loiças

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A estatueta perdida


A história do prémio de interpretação no filme
O Passado e o Presente de Manoel de Oliveira


A Estatueta.
Há uns tempos atrás (Junho de 2010 ?), a Rita Lello telefonou-me a ver se eu lhe arranjava um bilhete para o filho ir ao Festival Sumol. Disse-lhe  que ia ver e consegui arranjar dois bilhetes. Telefonei de volta e ela ficou de passar por minha casa para os ir buscar, quando chegou estivemos a falar de estás bom?, estás boa? etc e tal quando ela diz; tenho uma coisa para ti, espera um pouco que vou buscar ao carro. Fiquei a fazer sala com o seu filho e passado um pouco, ela chegou com uma estatueta de bronze numa base de mármore com uma placa, e disse que a encontrou no atelier do Mário Alberto no Parque Mayer, quando lá foi arrumar as coisas do Mário Alberto com seu irmão Mário. A estatueta era o prémio de interpretação feminina ganho pela Manuela de Freitas, pelo filme de Manoel de Oliveira: O Passado e o Presente em 1972. Estivemos um bocado a especular de como poderia o prémio estar com o Mário Alberto e chegámos á conclusão de que talvez ele estivesse presente na cerimónia da Secretaria de Estado da Informação e Turismo que era a entidade que dava aqueles prémios antes do 25 de Abril. A Rita pediu-me para o dar á Manuela; eu disse é claro que dou; embora já soubesse que a Manuela não queria aquilo para nada. De qualquer forma, disse á Manuela que tinha a estatueta, ela respondeu como eu já sabia que responderia, mas, contei-lhe a história e a verdade é que sabíamos que a Manuela tinha sido distinguida com um prémio (vem nas "biografias", do filme e dela), mas eu não sabia mais nada. Fui á procura de noticias em jornais antigos e lá consegui encontrar uma. Mas sobre a entrega dos prémios propriamente ditos não encontrei nada. A estatueta ainda continua em minha casa. O que fazer com ela? Quando souber que o Museu-Casa Manoel de Oliveira no Porto está a funcionar, entrarei em contacto para o oferecer, porque creio que é o sitio mais indicado para a estatueta ficar.

Noticia no jornal A Capital em 1972.

Manuela de Freitas em O Passado e o Presente. Linda de morrer.



O Passado e o Presente - 1972
de Manoel de Oliveira

"Em mais de um sentido, a casa, em «O Passado e o Presente», era uma casa de alienados, tão mais alienados quanto todos se comportavam como se fossem ou estivessem alheios à sua alienação. E, embora do principio ao fim, se não largassem, formando um grupo omnipresente em toda a espécie de rituais, cada um deles era inteiramente solitário. Devoravam-se uns aos outros, mas não se tocavam. Como o décor os devorava a eles, sem nunca os tocar e sem nunca ser tocado por eles. E os múltiplos jarros com flores eram tanto sinal de vida (de casa habitada) como sinal de morte (flores para os mortos." 
(João Bénard da Costa, excerto de "Pedra de Toque",
O dito Eterno Feminino na Obra de Manoel de Oliveira.
In, Revista Camões nº12/13 - 2001)

Cena de O Passado e o Presente de Manoel de Oliveira, 1972.

O Passado e o Presente para além de marcar o regresso de Oliveira que desde 1965 não apresentava nada em público, assinala por outro lado, os chamados «anos Gulbenkian». Assim, ficou conhecido o apoio que esta instituição privada concedeu ao cinema português. Neste período alguns dos melhores realizadores tiveram a oportunidade de verem os seus filmes realizados, pois quem financiava era a Gulbenkian em vez de ser o Estado como anteriormente acontecia. Por causa de um desentendimento que houve entre a instituição e o Estado, a Fundação Calouste Gulbenkian deixou de fazer o mecenato ao Centro de Cinema, assumindo ela própria esse papel do Estado. Este filme foi premiado pela Casa da Imprensa com o prémio de Melhor Realização e Melhor Fotografia. Por seu lado a Secretaria de Estado da Informação e Turismo considerou Manuela de Freitas a melhor Actriz, pelo papel desempenhado neste filme, fazendo de "Noémia".
(Luís de Pina, in História do cinema português).


(fotos encontradas na net)


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