Em 1991, houve os chamados acordos de Bicesse entre o governo angolano e a Unita e durante um tempo houve uma acalmia na guerra e um tempo de esperança para os angolanos. Aproveitando essa acalmia fiz uma viagem de 15 dias a Angola, mais própriamente à sua capital Luanda. Namorava nessa altura uma angolana e foi a mãe dela que me convidou a ir. Foi uma maravilha, mal abriu a porta do avião no aeroporto de Luanda e senti um bafo enorme de calor, disse para mim (esta terra tem a ver comigo). Para pagar a viagem só tive de mandar um par de sapatos novos e bons (já não me recordo quanto custaram) para Angola, e depois eles foram vendidos no "roque santeiro", grande mercado ao ar livre em Luanda onde diziam que se vendia de tudo, mesmo tudo. E com o dinheiro da venda dos sapatos, deu para pagar a viagem de avião (negócios de tempo de guerra). A viagem de ida e a de volta foram ruidosas porque os angolanos, qualquer motivo lhes serve para comemorar (aquele era um tempo de esperança), e recordo que pouco dormi.
Fotos no andar do prédio "O Livro", após uma grande chuvada, em que tudo em Luanda parou e nós ficámos lá no alto a ver a chuvada e as poças que se formaram.
Ficámos hospedados em um apartamento do chamado prédio "O Livro", que pertencia a um amigo de um amigo de um primo (coisas à angolana). O prédio era enorme e o apartamento era lá no alto (?), e tínhamos de entrar cedo porque ás 22h os elevadores eram desligados. Passados dois ou três dias, fomos convidados para um casamento (também de um primo de um primo de não sei quem) numa coisa chamada "Clube das Nações Unidas) e foi um cena sem explicação, havia uma mesa para aí com dois metros cheia de lagostas, até um metro de altura, cerveja e outras bebidas ás centenas. Como não danço sentei-me ao pé das lagostas e foi de fartar até á noite, claro que chegados ao "Livro", tivemos de subir os andares todos, (creio que eram 18, mas posso estar enganado).
Aqui apanhei um escaldão de primeira.
Não tenho muitas fotos, porque havia ainda um certo receio em tirar fotos (tinham-me avisado que era melhor não tirar a prédios, monumentos etc). A coisa mais linda de Luanda (para além das pessoas) foi ir ao Mussulo, em que nadámos no lado da baía junto aos barcos e depois fomos ao outro lado que é Oceano e que era uma praia deslumbrante. Outra coisa que recordo foi um almoço (nas instalações da Mota e Companhia?) que durou das 16h ás 24h, e em que só me levantei da mesa aí uma quatro vezes, é claro que quando acabou tiveram que carregar comigo, porque estava completamente bêbado. Os angolanos gostam de receber bem, a cerveja é óptima e só me davam uísque velho (que chatice).
"O Livro". Chamavam assim ao prédio porque tinha o formato de um livro aberto.
Recordo que fui ao mercado de São Paulo comprar fruta com um tio da rapariga e ele tira do bolso um monte de notas (como se vê nos filmes) para pagar a despesa e outra coisa foi que no meio da fruta que já era escassa, porque era quatro ou cinco da tarde, estava á venda uma garrafa de Moet Chandon. Não saímos de Luanda por prudência mas andámos bastante de carro e uma das vezes fomos ao Futungo (onde vive ou vivia José Eduardo dos Santos) e vi um poço a arder (petróleo ou gaz) ali perto, guardado por um soldado das Fapla. Recordo que não havia quase comércio mas fui a uma livraria na baixa de Luanda e comprei baratos um monte de livros de escritores angolanos, fomos á praia ao Mussulo e á da Baía e aqui encontrei-me com um assessor do presidente no restaurante Barracuda (o Barracuda só aceitava dólar, mas o assessor fez questão de pagar com kwanzas), para quem levava um recado (ou coisas ?) da sua amiga Cucha e ofereci a ele programas de peças de teatro. Fiquei cheio de saudades e a par da Colombia foram os países onde gostei mais de ir. Creio que é tudo, este post já vai longo, só direi mais isto; é que se me convidassem para trabalhar ou viver lá não hesitava porque adorei Angola, isto é Luanda.
Mercado Roque Santeiro em Luanda. Creio que já não existe.
Ilha do Mussulo em Luanda, zona virada para a Baía e zona virada para o Oceano. Um Paraíso.
Para os angolanos que me receberam.
Chico Buarque canta «Morena de Angola»
(As três primeiras fotos são de Francisco Grave e as outras foram encontradas na net)
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